Tuesday, November 07, 2017

Novo centro do poder



Pedro J. Bondaczuk



A atividade política, no mundo todo, nunca esteve tão desprestigiada quanto agora. E a razão, tanto no Brasil, quanto na maioria dos países, qualquer que seja o seu estágio de desenvolvimento, é idêntica: a corrupção.

Nos últimos quatro anos, notícias sobre enormes negociatas, no Japão, na Itália, na Alemanha, na França, na Grã-Bretanha e na Espanha, somente para citar os casos mais divulgados, ocuparam centímetros e mais centímetros de espaço nos jornais e horas sem fim nos noticiosos de rádio e de televisão. As eleições, principalmente onde o voto é tido como direito do cidadão e não como uma obrigação, apresentam índices crescentes de abstenção.

Pesquisas sobre queda de popularidade de governantes se multiplicam. O presidente norte-americano Bill Clinton, que gastou US$ 1 bilhão para se eleger, é, de acordo com as mais recentes consultas, o mais impopular dirigente da história contemporânea dos Estados Unidos, com irrisórios 38% de apoio.

O primeiro-ministro britânico, John Major, chegou ao “fundo do poço” em desprestígio, com apenas 20% de aprovação. O seu colega japonês, Kiichi Myazawa, recebeu moção de censura de seus pares e dissolveu o Parlamento para não cair.

O descontentamento com os políticos é geral e manifesta-se até nos países onde imperam ditaduras, que consideram crime hediondo o fato de o cidadão expor suas opiniões. Foi essa insatisfação que provocou o esfacelamento da ex-União Soviética, que derrubou o comunismo na antiga Checoslováquia, na Romênia, na Bulgária, na Hungria e na Polônia e que levou a Alemanha Oriental ao desaparecimento.

O chanceler alemão Helmut Kohl, tido, no início dos anos 90, como herói nacional por ter promovido a reunificação do país, já está procurando um sucessor, tamanha é a impopularidade de que goza.

E o que falar do Brasil? Pesquisas não faltam para demonstrar que a classe política integra a instituição com o mais baixo índice de credibilidade do País. O que estaria errado no mundo? É a democracia que não funciona? Parece-nos que o enfoque correto não é este. O que está sendo questionado é o sistema de representatividade. Trata-se do foco do poder que está na berlinda.

O filósofo norte-americano Richard Rorty destaca um aspecto que nem a mídia, nem seus mais argutos analistas ainda se deram conta. É algo que se desenvolve debaixo dos nossos narizes e de que não nos apercebemos.

Acentua o intelectual: “Tanto a sociedade como o governo nos países desenvolvidos não comunistas tornaram-se pluralistas de maneira nova e sem precedente. A teoria ainda postula que só há um centro de poder organizado: o governo. Mas tanto a sociedade, quanto o governo possuem hoje centros de poder fora da órbita governamental. O novo pluralismo da sociedade tem a forma de organizações de objetivo único, cada uma voltada para uma tarefa social: criação de riquezas, educação, saúde ou formação dos valores ou hábitos da juventude. É totalmente apolítico”.

Os políticos só têm um caminho, altamente utópico, para resgatar seu prestígio: “a conversão”. Sobre esta, o padre Antonio Vieira tem uma citação lapidar: “Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister olhos e há mister espelho. Que coisa é a conversão de uma alma, se não entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo?”.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de junho de 1993).



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