Novo centro do poder
Pedro J. Bondaczuk
A atividade
política, no mundo todo, nunca esteve tão desprestigiada quanto
agora. E a razão, tanto no Brasil, quanto na maioria dos países,
qualquer que seja o seu estágio de desenvolvimento, é idêntica: a
corrupção.
Nos
últimos quatro anos, notícias sobre enormes negociatas, no Japão,
na Itália, na Alemanha, na França, na Grã-Bretanha e na Espanha,
somente para citar os casos mais divulgados, ocuparam centímetros e
mais centímetros de espaço nos jornais e horas sem fim nos
noticiosos de rádio e de televisão. As eleições, principalmente
onde o voto é tido como direito do cidadão e não como uma
obrigação, apresentam índices crescentes de abstenção.
Pesquisas
sobre queda de popularidade de governantes se multiplicam. O
presidente norte-americano Bill Clinton, que gastou US$ 1 bilhão
para se eleger, é, de acordo com as mais recentes consultas, o mais
impopular dirigente da história contemporânea dos Estados Unidos,
com irrisórios 38% de apoio.
O
primeiro-ministro britânico, John Major, chegou ao “fundo do poço”
em desprestígio, com apenas 20% de aprovação. O seu colega
japonês, Kiichi Myazawa, recebeu moção de censura de seus pares e
dissolveu o Parlamento para não cair.
O
descontentamento com os políticos é geral e manifesta-se até nos
países onde imperam ditaduras, que consideram crime hediondo o fato
de o cidadão expor suas opiniões. Foi essa insatisfação que
provocou o esfacelamento da ex-União Soviética, que derrubou o
comunismo na antiga Checoslováquia, na Romênia, na Bulgária, na
Hungria e na Polônia e que levou a Alemanha Oriental ao
desaparecimento.
O
chanceler alemão Helmut Kohl, tido, no início dos anos 90, como
herói nacional por ter promovido a reunificação do país, já está
procurando um sucessor, tamanha é a impopularidade de que goza.
E
o que falar do Brasil? Pesquisas não faltam para demonstrar que a
classe política integra a instituição com o mais baixo índice de
credibilidade do País. O que estaria errado no mundo? É a
democracia que não funciona? Parece-nos que o enfoque correto não é
este. O que está sendo questionado é o sistema de
representatividade. Trata-se do foco do poder que está na berlinda.
O
filósofo norte-americano Richard Rorty destaca um aspecto que nem a
mídia, nem seus mais argutos analistas ainda se deram conta. É algo
que se desenvolve debaixo dos nossos narizes e de que não nos
apercebemos.
Acentua
o intelectual: “Tanto a sociedade como o governo nos países
desenvolvidos não comunistas tornaram-se pluralistas de maneira nova
e sem precedente. A teoria ainda postula que só há um centro de
poder organizado: o governo. Mas tanto a sociedade, quanto o governo
possuem hoje centros de poder fora da órbita governamental. O novo
pluralismo da sociedade tem a forma de organizações de objetivo
único, cada uma voltada para uma tarefa social: criação de
riquezas, educação, saúde ou formação dos valores ou hábitos da
juventude. É totalmente apolítico”.
Os
políticos só têm um caminho, altamente utópico, para resgatar seu
prestígio: “a conversão”. Sobre esta, o padre Antonio Vieira
tem uma citação lapidar: “Para um homem se ver a si mesmo, são
necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é
cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e
é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz,
há mister olhos e há mister espelho. Que coisa é a conversão de
uma alma, se não entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo?”.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de junho
de 1993).
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