Decisão cabe apenas ao povo
Pedro J. Bondaczuk
O desmembramento de
determinado distrito ou vila de um município, que pretenda obter
autonomia, é um fato normal no País. Mas, para isso, há todo um
ritual a seguir. A primeira coisa a ser verificada, logicamente, é
se os moradores desejam a separação. Isto é apurado mediante a
convocação de um plebiscito, onde deve prevalecer a maioria
absoluta dos votos. A Constituição, no artigo 18, parágrafo 4º,
remete o assunto às legislações estaduais.
Estas considerações vêm a
propósito de um justo anseio de um grupo de moradores de Barão
Geraldo, liderado por Lázaro de Campos Faria, que desde 1980 luta
pela separação do distrito de Campinas. Santo Amaro, recentemente,
tentou separar-se de São Paulo. Não conseguiu somente porque no
plebiscito convocado houve um número muito alto de abstenções que,
somadas aos votos contrários, mostraram que seus habitantes não
estavam tão entusiasmados assim com a perspectiva.
No Rio de Janeiro, foi a
Tijuca que pretendeu seguir seu próprio caminho. Igualmente não
obteve êxito e continua sendo carioca. Quanto ao desejo de Barão
Geraldo, vale a tentativa. Afinal, não foram poucas as localidades
que se separaram de Campinas e hoje se constituem em prósperos
municípios.
O último caso desse tipo foi
o de Paulínia, que conquistou sua autonomia administrativa em 28 de
fevereiro de 1964. O distrito de Barão Geraldo dispõe de todas as
condições para seguir o seu próprio rumo. A Constituição fala na
preservação da continuidade e da unidade histórico-cultural do
ambiente urbano. Ou seja, um bairro encravado em determinada cidade
não pode, evidentemente, reivindicar a separação.
Seria sumamente estranho um
município estar inserido em outro, como o caso de Berlim, que possui
uma parte ocidental, mas cujos limites estão totalmente dentro do
território da Alemanha Oriental. Mas esse é um caso especialíssimo,
ditado pelas circunstâncias da Segunda Guerra Mundial. Não é,
evidentemente, a situação de Barão Geraldo.
O distrito é viável, do
ponto de vista econômico, com suas indústrias, pujante comércio e
produção hortifrutigranjeira expressiva. Possui tradição cultural
própria e até mesmo um folclore, com a lenda do boi que teria
falado. Seria justo, pois, que se convocasse o quanto mais breve
possível o plebiscito para, democraticamente, como preceitua a lei
maior do País, apurar a vontade de seus habitantes e dar uma
satisfação aos autonomistas, que tanto têm batalhado para
transformar esse sonho, outrora tão distante, numa realidade.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de agosto de 1990)
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