Brasil tem pirâmide invertida
Pedro J. Bondaczuk
O verdadeiro federacionismo,
como o adotado nos Estados Unidos e como o que o presidente Mikhail
Gorbachev deseja implantar na União Soviética, tem o perfil de uma
pirâmide. Na base, ficam os municípios, que é onde as pessoas de
fato vivem.
Os Estados ocupam a parte
intermediária e o topo fica para o governo federal. A lógica
determina, portanto, que não somente as responsabilidades, no que
diz respeito à saúde, educação, habitação, segurança pública
e transportes dos cidadãos devam ficar para as unidades municipais,
mas também a maior parte dos recursos que tornem viável o
atendimento dessas necessidades.
No Brasil, porém, as coisas
não ocorrem dessa maneira, daí o gigantismo estatal, com o
consequente desperdício de dinheiro, o que é fatal para um país em
vias de desenvolvimento. Entre nós, a pirâmide está invertida, de
ponta cabeça.
A fonte por excelência da
geração das riquezas pouco lucra com sua operosidade. O que os
municípios arrecadam em geral vai engordar os cofres federais, para
sustentar mordomias, financiar incompetências e propiciar a
construção de autênticos elefantes brancos que dão muito mais
problemas do que vantagens.
O “Jornal da Tarde” de
segunda-feira (6 de agosto de 1990) publicou matéria dando conta de
que o o interior de São Paulo, a despeito da crise que afeta o
Brasil, vive um surto de progresso inigualável. Sua contribuição
para o orçamento estadual supera a da Capital e arredores, com
50,4%; a região criou 11% a mais de empregos e aumentou a geração
de receitas em 31,7%. E isto com investimentos próprios: ou mediante
aumento na arrecadação de tributos ou através de empréstimos
junto aos governos estadual e federal e até do exterior.
A Constituição de 1988
melhorou um pouco a situação dos municípios, mas somente para os
menos populosos. O limite de repasse de recursos é de até 156 mil
habitantes e Campinas tem quase dez vezes mais do que isso.
Ainda assim, a cidade foi a
que mais investiu, de 1985 a 1988, no progresso. A taxa de
crescimento das inversões campineiras no desenvolvimento teve o
assombroso percentual de 1.194%. Mais de quatro vezes a da segunda
colocada, a Capital, em 225%.
Como se observa, os
constituintes foram muito tímidos, para não dizer alienados quanto
ao verdadeiro significado de federação, ao regulamentarem a
distribuição do montante de arrecadação. Todo o progresso de um
país é gerado nos municípios, onde a vida nacional de fato
acontece e onde os cidadãos têm condições de cobrar trabalho dos
administradores e fiscalizar como os seus impostos são empregados.
Está aí a receita óbvia
para o Brasil sair do atoleiro da crise e disparar rumo ao
desenvolvimento. Ou seja, inverter o perfil da sua pirâmide, que
hoje está se equilibrando na parte mais fina.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de agosto de 1990)
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