A sorte está lançada
Pedro J. Bondaczuk
A sorte do Brasil, em termos
de sua futura organização política, está lançada, com a
afluência às urnas de milhões de eleitores em todo o território
nacional no plebiscito. Embora as pesquisas apontem esmagadora
vitória da república e do presidencialismo, todos saberemos o que
deu apenas depois da contagem oficial de votos.
Como não se trata de uma
eleição, mas de uma consulta ao povo, não há vencedores e nem
vencidos. A expectativa é que vença a democracia. Que a votação,
ao invés de dividir a população em facções, una a todos na
cobrança por reformas políticas, econômicas e sociais que são
absolutamente imprescindíveis.
Ninguém em sã consciência,
nem a mais oportunista das velhas raposas dos partidos tradicionais,
terá coragem de afirmar, sem ficar vermelho de vergonha, que isto
que está aí é o ideal. O presidencialismo será o ganhador? Pois
bem, que ele seja implantado de fato, com condições mínimas para
que o presidente eleito no pleito de 1994 – e principalmente o
atual, Itamar Franco, que pegou o bonde andando – possa governar de
fato.
O “Jornal da Tarde” de São
Paulo, em editorial publicado em 19 de março de 1993, intitulado “O
plebiscito útil”, assinalou, com muita propriedade: “Atualmente
o País conta com 40 partidos, fragmentação que torna possível a
existência de agremiações sem programas doutrinários e sem
coerência ideológica e de políticos sem compromissos com seus
eleitores. É preciso reduzir o número de partidos e impedir
novamente sua proliferação; criar algum tipo de fidelidade
partidária e introduzir no Brasil uma forma de voto distrital, para
que o eleitor saiba exatamente em que e em quem está votando e para
que o eleito saiba o que deve fazer, o que deve apoiar e o que não
deve apoiar”.
O grupo que encampou a
campanha pelo presidencialismo deve encarar a provável vitória nas
urnas não como um prêmio pela sua ambição de chegar à
Presidência da República, mas como uma missão, uma
responsabilidade, uma tarefa que, fatalmente, será cobrada pelos
milhões de brasileiros que foram convencidos por suas mensagens (nem
sempre éticas e verdadeiras).
Estejam certos os caciques que
aproveitaram a propaganda gratuita para antecipar suas ambições
pessoais – que não deixam de ser legítimas, deve ser ressaltado –
que as cobranças virão a cada novo degrau que a inflação subir, a
cada novo índice que revele aumento do desemprego, a cada nova
denúncia de corrupção que ganhar as manchetes.
O que não pode é o País
continuar como está, brincando de fazer política, enquanto se
encaminha para o abismo da explosão social. Não é mais admissível
o discurso messiânico, enquanto as ações, invariavelmente, sejam
opostas às pregações. Ninguém tolera mais a ausência de
autoridade, a ostensiva burla à lei sob o pretexto do famigerado
“jeitinho” e nem que os fraudadores da Previdência, os
dilapidadores do patrimônio do trabalhador (principalmente do Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço), os que revelam incompetência e
dolo na administração dos recursos públicos permaneçam impunes e
sejam, ainda, presenteados com embaixadas no exterior quando são
flagrados com a boca na botija. Se há, hoje, um consenso entre os
brasileiros, que raramente chegam à unanimidade em qualquer assunto,
este é o de que o Brasil precisa mudar, e agora.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de abril de 1993)
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