Saturday, November 04, 2017

A sorte está lançada



Pedro J. Bondaczuk


A sorte do Brasil, em termos de sua futura organização política, está lançada, com a afluência às urnas de milhões de eleitores em todo o território nacional no plebiscito. Embora as pesquisas apontem esmagadora vitória da república e do presidencialismo, todos saberemos o que deu apenas depois da contagem oficial de votos.

Como não se trata de uma eleição, mas de uma consulta ao povo, não há vencedores e nem vencidos. A expectativa é que vença a democracia. Que a votação, ao invés de dividir a população em facções, una a todos na cobrança por reformas políticas, econômicas e sociais que são absolutamente imprescindíveis.

Ninguém em sã consciência, nem a mais oportunista das velhas raposas dos partidos tradicionais, terá coragem de afirmar, sem ficar vermelho de vergonha, que isto que está aí é o ideal. O presidencialismo será o ganhador? Pois bem, que ele seja implantado de fato, com condições mínimas para que o presidente eleito no pleito de 1994 – e principalmente o atual, Itamar Franco, que pegou o bonde andando – possa governar de fato.

O “Jornal da Tarde” de São Paulo, em editorial publicado em 19 de março de 1993, intitulado “O plebiscito útil”, assinalou, com muita propriedade: “Atualmente o País conta com 40 partidos, fragmentação que torna possível a existência de agremiações sem programas doutrinários e sem coerência ideológica e de políticos sem compromissos com seus eleitores. É preciso reduzir o número de partidos e impedir novamente sua proliferação; criar algum tipo de fidelidade partidária e introduzir no Brasil uma forma de voto distrital, para que o eleitor saiba exatamente em que e em quem está votando e para que o eleito saiba o que deve fazer, o que deve apoiar e o que não deve apoiar”.

O grupo que encampou a campanha pelo presidencialismo deve encarar a provável vitória nas urnas não como um prêmio pela sua ambição de chegar à Presidência da República, mas como uma missão, uma responsabilidade, uma tarefa que, fatalmente, será cobrada pelos milhões de brasileiros que foram convencidos por suas mensagens (nem sempre éticas e verdadeiras).

Estejam certos os caciques que aproveitaram a propaganda gratuita para antecipar suas ambições pessoais – que não deixam de ser legítimas, deve ser ressaltado – que as cobranças virão a cada novo degrau que a inflação subir, a cada novo índice que revele aumento do desemprego, a cada nova denúncia de corrupção que ganhar as manchetes.

O que não pode é o País continuar como está, brincando de fazer política, enquanto se encaminha para o abismo da explosão social. Não é mais admissível o discurso messiânico, enquanto as ações, invariavelmente, sejam opostas às pregações. Ninguém tolera mais a ausência de autoridade, a ostensiva burla à lei sob o pretexto do famigerado “jeitinho” e nem que os fraudadores da Previdência, os dilapidadores do patrimônio do trabalhador (principalmente do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), os que revelam incompetência e dolo na administração dos recursos públicos permaneçam impunes e sejam, ainda, presenteados com embaixadas no exterior quando são flagrados com a boca na botija. Se há, hoje, um consenso entre os brasileiros, que raramente chegam à unanimidade em qualquer assunto, este é o de que o Brasil precisa mudar, e agora.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de abril de 1993)



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