Proliferação de siglas
Pedro J. Bondaczuk
A permissão
para que novos partidos políticos, em fase de formação, participem
das eleições de novembro próximo para as prefeituras das capitais
brasileiras e cidades consideradas áreas de segurança nacional,
deflagrou uma proliferação de siglas, cujo número pode chegar, até
mesmo, a trinta.
Até
quarta-feira, 22 novas agremiações haviam obtido registro na
Justiça Eleitoral e mais quatro pedidos estavam na fila, aguardando
vez. Com essa pulverização partidária, retorna, à nossa vida
política, o saudável hábito das coligações, praticado, frise-se,
num curto período da República, mas que abre o leque de opções ao
eleitor na hora de votar.
E
com essa prática, alianças surpreendentes, algumas até estranhas,
estão sendo feitas, aqui e ali, ganhando as manchetes dos
noticiários. Como o apoio dado pelo Partido da Frente Liberal em São
Paulo ao candidato do PTB à Prefeitura paulistana, o ex-presidente
Jânio Quadros, por exemplo, causando alguns arranhões na frágil
Aliança Democrática.
Outras
coligações que nos vêm à memória são as do PDT, do governador
do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, em Salvador, onde empresta
solidariedade ao postulante do PMDB, Mário Kertz, ao Executivo da
capital baiana. Em Cuiabá, todavia, esse mesmo partido aliou-se ao
mais ferrenho adversário de ontem, o PDS de Paulo Maluf, para
impedir que o peemedebista Dante de Oliveira, o mesmo autor do
célebre projeto de emenda constitucional instituindo as eleições
diretas para a sucessão do ex-presidente João Figueiredo, acabe se
elegendo prefeito.
Na
cidade de São Paulo, o recém criado Partido Socialista Brasileiro
dá um passo mais do que lógico e coliga-se com o PT, com quem se
identifica ideologicamente, respaldando a candidatura do deputado
Eduardo Suplicy ao Ibirapuera, tendo Rogê Ferreira por vice.
As
agremiações mais antigas, especialmente o PMDB, que abrigavam sob
as suas asas protetoras várias correntes ideológicas, de matizes os
mais diversos e antagônicos; indo da extrema-direita à
extrema-esquerda, têm a chance de uma saudável renovação. De uma
consolidação dos princípios básicos que sempre as nortearam.
No
caso do antigo MDB, isso significa a fixação de postulados
defendidos desde os heroicos tempos de resistência, imediatamente
após o movimento de 1964. Diversos descontentes estão mudando de
lado, acomodando-se sob siglas compatíveis com seu pensamento
político. Outros esperam para ver o resultado desta ciranda
partidária, antes de tomarem uma providencial e coerente decisão.
Muita
gente está assustada com tantos partidos. Uns acham que o processo
tende a causar pulverização da aliança que, em nível nacional, dá
sustentação ao presidente José Sarney. Outros argumentam que o
eleitor, na hora de votar, vai ficar com a cabeça tão embaralhada
com tantas siglas, nomes e números, que acabará por anular o seu
voto. Balela.
O
cidadão brasileiro sempre votou em nomes, não em partidos. Mas essa
abertura, não se pode negar, é saudável. Reflete exatamente o
estado atual de nossa sociedade, dividida em centenas de pequenos
grupos de interesse. E é indispensável que todas essas correntes
tenham a chance de expressar claramente o que pensam, de apontar
soluções para os graves problemas que nos atormentam e que o maior
número possível delas se faça representar na Assembleia Nacional
Constituinte.
Para
que a próxima Constituição seja mais compatível com as
necessidades e aspirações de todos os brasileiros, ou pelo menos da
grande maioria deles, do que foram as anteriores. No final das
contas, quando a poeira baixar, restarão apenas dois ou três
partidos com real representatividade. O velho e forte PMDB,
possivelmente remoçado com a “transfusão” de muito sangue novo;
a nova Frente Liberal, que terá em novembro o seu batismo de fogo e
o PDS, se lograr conciliar suas diversas correntes e se livrar de
alguns estigmas de seu passado. Os demais serão “peneirados”
pelas próprias urnas e terão que aceitar a “vox populi”, que no
final das contas é a “vox Dei”.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de julho
de 1985).
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