Pessimismo no ar
Pedro J. Bondaczuk
A crise nos mercados
financeiros asiáticos --- que afetou por tabela a economia
brasileira e forçou o governo do presidente Fernando Henrique
Cardoso a adotar amargas (e polêmicas) medidas de proteção ao real
--- criou um clima de pessimismo e até de catastrofismo para o
próximo ano, especialmente para o primeiro trimestre, como poucas
vezes já foi visto no País, mesmo nos períodos de hiperinflação.
Só se ouve, lê e comenta
sobre desemprego, recessão, redução de salários, inadimplência,
aperto nas finanças, etc. Investimentos são adiados, projetos são
postergados, viagens ao Exterior são deixadas para ocasiões mais
propícias e as famílias preparam-se para uma "economia de
guerra", temendo o espectro das demissões. É compreensível,
embora não justificável.
Há um certo exagero,
evidentemente, nessas previsões catastrofistas. Aliás, 1996
encerrou-se da mesma forma e no entanto este ano, convenhamos, se não
foi de fartura, também não se caracterizou por nenhuma hecatombe
econômica.
Em 1998, o brasileiro vai
comparecer às urnas para dar o veredito ao presidente Fernando
Henrique Cardoso. As recentes pesquisas indicam que FHC seria
reeleito, se a votação fosse hoje, não tanto por causa da
satisfação do eleitorado com sua gestão, mas em decorrência das
outras candidaturas já colocadas (ou pelo menos propaladas), que não
lhe dão grandes opções.
Em ano eleitoral, dificilmente
um governo consegue ser austero. Em geral, "joga para a
arquibancada", ou seja, adota ações de cunho populista que lhe
garantam o máximo de votos possível. E isso não ocorre apenas no
Brasil. É praxe nos Estados Unidos, na França, na Rússia e em
qualquer país em que o presidente é eleito de forma livre e
soberana.
Alguma medida de impacto,
objetivando deter, ou pelo menos dificultar a onda de demissões dos
últimos dois meses, certamente está sendo engendrada nas hostes
governistas. É uma questão de sobrevivência política. Em um
quadro sombrio, como o previsto pelos que exercitam a inútil prática
da "futurologia", a reeleição estaria irremediavelmente
comprometida.
Baseados nessa lógica, alguns
analistas ousam afirmar que 1998 tem tudo para surpreender os
pessimistas. Ademais, muitos desempregados vão se engajar nas
campanhas, que não serão nada baratas, com certeza.
O ruim é que, ganhe quem
ganhar, esses cabos eleitorais irão engrossar o contingente de
apaniguados no serviço público, sem que sua competência ou
necessidade sejam avaliadas. Isso sempre aconteceu no País e, embora
o Brasil tenha mudado para melhor em alguns aspectos, esse tipo de
comportamento dificilmente ser erradicado a curto prazo.
É bom que o eleitor comece a
se informar sobre quem são e o que já fizeram os candidatos para as
assembleias, Câmara Federal, Senado, governos estaduais e
Presidência da República. Eventuais erros de escolha terão
consequências muito mais danosas do que o cidadão comum possa
pensar para a sua vida e a do País. Não temos mais o direito de
errar, sob pena de ficarmos cada vez mais para trás em um mundo
extremamente competitivo que, pela lei natural da seleção, elimina
os povos inaptos e sem criatividade. Ou que sejam indolentes para
promover mudanças.
(Texto escrito em 15 de
dezembro de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).
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