Wednesday, November 01, 2017

Pessimismo no ar


Pedro J. Bondaczuk


A crise nos mercados financeiros asiáticos --- que afetou por tabela a economia brasileira e forçou o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso a adotar amargas (e polêmicas) medidas de proteção ao real --- criou um clima de pessimismo e até de catastrofismo para o próximo ano, especialmente para o primeiro trimestre, como poucas vezes já foi visto no País, mesmo nos períodos de hiperinflação.

Só se ouve, lê e comenta sobre desemprego, recessão, redução de salários, inadimplência, aperto nas finanças, etc. Investimentos são adiados, projetos são postergados, viagens ao Exterior são deixadas para ocasiões mais propícias e as famílias preparam-se para uma "economia de guerra", temendo o espectro das demissões. É compreensível, embora não justificável.

Há um certo exagero, evidentemente, nessas previsões catastrofistas. Aliás, 1996 encerrou-se da mesma forma e no entanto este ano, convenhamos, se não foi de fartura, também não se caracterizou por nenhuma hecatombe econômica.

Em 1998, o brasileiro vai comparecer às urnas para dar o veredito ao presidente Fernando Henrique Cardoso. As recentes pesquisas indicam que FHC seria reeleito, se a votação fosse hoje, não tanto por causa da satisfação do eleitorado com sua gestão, mas em decorrência das outras candidaturas já colocadas (ou pelo menos propaladas), que não lhe dão grandes opções.

Em ano eleitoral, dificilmente um governo consegue ser austero. Em geral, "joga para a arquibancada", ou seja, adota ações de cunho populista que lhe garantam o máximo de votos possível. E isso não ocorre apenas no Brasil. É praxe nos Estados Unidos, na França, na Rússia e em qualquer país em que o presidente é eleito de forma livre e soberana.

Alguma medida de impacto, objetivando deter, ou pelo menos dificultar a onda de demissões dos últimos dois meses, certamente está sendo engendrada nas hostes governistas. É uma questão de sobrevivência política. Em um quadro sombrio, como o previsto pelos que exercitam a inútil prática da "futurologia", a reeleição estaria irremediavelmente comprometida.

Baseados nessa lógica, alguns analistas ousam afirmar que 1998 tem tudo para surpreender os pessimistas. Ademais, muitos desempregados vão se engajar nas campanhas, que não serão nada baratas, com certeza.

O ruim é que, ganhe quem ganhar, esses cabos eleitorais irão engrossar o contingente de apaniguados no serviço público, sem que sua competência ou necessidade sejam avaliadas. Isso sempre aconteceu no País e, embora o Brasil tenha mudado para melhor em alguns aspectos, esse tipo de comportamento dificilmente ser  erradicado a curto prazo.

É bom que o eleitor comece a se informar sobre quem são e o que já fizeram os candidatos para as assembleias, Câmara Federal, Senado, governos estaduais e Presidência da República. Eventuais erros de escolha terão consequências muito mais danosas do que o cidadão comum possa pensar para a sua vida e a do País. Não temos mais o direito de errar, sob pena de ficarmos cada vez mais para trás em um mundo extremamente competitivo que, pela lei natural da seleção, elimina os povos inaptos e sem criatividade. Ou que sejam indolentes para promover mudanças.

(Texto escrito em 15 de dezembro de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).


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