Nossa maior eleição
Pedro J. Bondaczuk
O País está a escassos 13
dias das maiores eleições que já realizou em sua história, tanto
em número de eleitores mobilizados e de cidadãos convocados a
trabalhar para a Justiça Eleitoral, quanto em quantidade de
candidatos e cargos em disputa.
A rigor, tomando por base
esses parâmetros, trata-se da quarta maior votação do mundo,
abaixo, apenas, das que se realizam na Índia, nos Estados Unidos e
na Rússia. Dois países mais populosos do que o Brasil, a China e a
Indonésia, escolhem seus representantes mediante listas
predeterminadas, de um partido único. Não se trata, pois, de uma
consulta democrática às urnas.
Para que o leitor tenha uma
ideia das dimensões desse processo, basta dizer que, somente o
número de pessoas encarregadas da recepção e posterior apuração
de votos, num total de 2,5 milhões, equivale à população total de
uma quantidade considerável de países, como por exemplo, o Uruguai.
Há, de acordo com relatório
divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral, 94.768.404 eleitores
habilitados, 34% dos quais analfabetos (ou puros ou os chamados
"funcionais", designação que se dá àqueles que somente
sabem "desenhar" seus nomes).
O aspecto que gostaríamos de
enfatizar é o de que, não fará nenhum sentido tamanho esforço,
para que os cidadãos decidam sobre quem comandará os rumos do País,
a um custo estimado de US$ 160 milhões, se parcela considerável da
população optar pela omissão.
É inconcebível que se repita
a enxurrada de votos brancos e nulos de eleições passadas, se for
levado em conta que a escolha direta, principalmente do presidente da
República, é o atendimento de uma aspiração penosamente
conquistada, uma bandeira levantada por milhões de brasileiros, em
meados da década passada, nas ruas e praças das principais cidades
do País.
Não se concebe que um
cidadão, por mais alienado, mal informado e ignorante que seja, abra
mão desse direito de opinar, dessa responsabilidade de escolher,
mesmo alegando desencanto e decepção com a classe política.
Grande parte da culpa pelas
irregularidades que ocuparam as manchetes da imprensa nos últimos
anos cabe ao próprio eleitor. Àquele sem critério de escolha, que
troca o voto por empregos para si e para parentes. Do que se deixa
subornar pelas várias formas existentes de suborno, dando "sinal
verde" aos eleitos de que aceitam uma moralidade apenas de
mentirinha. Ou pior, dos omissos, que não têm nenhum direito de
cobrar omissões alheias.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de setembro de 1994).
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