Popularidade e responsabilidade
Pedro J. Bondaczuk
O brasileiro está mais
confiante no futuro com a escolha de Fernando Henrique Cardoso para
ser o ministro da Fazenda. É o que revela a mais recente sondagem do
Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope).
A pesquisa apenas veio
comprovar aquilo que outras consultas populares do gênero já haviam
comprovado. O momento, portanto, é dos mais oportunos para um
movimento de aglutinação da maioria dos brasileiros em torno de
causas comuns: o combate sem trégua à inflação, a moralização
da vida pública e a retomada do desenvolvimento, que possibilitará
ao País combater a miséria.
Embora a política do novo
ministro seja consistente e realista, é preciso que obtenha
resultados de curto prazo que permitam a detenção da escalada de
preços. A popularidade – o presidente norte-americano Bill Clinton
que o diga – é mais volátil do que a fumaça. À menor onda de
descontentamento, esvai-se com uma rapidez estonteante.
Ninguém que tenha bom senso
defende os velhos truques heterodoxos, como os congelamentos, as
prefixações e outras medidas do gênero. Mas é preciso, de alguma
forma, derrubar as taxas de inflação do patamar dos 30% já e, daí
sim, gradualmente, mediante o saneamento contínuo das finanças
públicas, trazer os índices cada vez mais para baixo, ao mínimo
que for possível.
Fernando Henrique Cardoso vem
enfrentando, conforme já esperado, resistências enormes para a
implantação do chamado Plano Verdade. Chegou a comparar, inclusive,
a sala de espera do seu gabinete ao “pátio dos milagres”, do
romance de Victor Hugo, pela quantidade de “pedintes” de verbas
que, no entanto, inexistem. Na reunião do Conselho Monetário
Nacional desta semana, quase foi voto vencido na questão da rolagem
das dívidas dos Estados e municípios.
O complicado, nisso tudo, é
que os opositores ao saneamento das contas do governo adotam uma
tática de sutilezas. Ostensivamente, ninguém é contra. Os
sabotadores, inclusive, têm o requinte de expressar, pela imprensa,
seu apoio às medidas de austeridade. Mas na hora de agir é que são
elas.
O pernicioso clientelismo
ainda permeia a vida pública brasileira. Muitos dos que pregam a
redução do tamanho do Estado são os primeiros a recorrer às suas
burras para satisfazer interesses que, em absoluto, são os
nacionais.
O caminho mais indicado para o
ministro conseguir a adesão dos cidadãos a mais esse esforço
concentrado, que deve ser de todos, indistintamente, é continuar
fazendo um “jogo aberto”. Vir a público, sempre que possível,
para apresentar um relato sincero do andamento da aplicação do seu
programa e prosseguir na campanha de doutrinação dos políticos,
que ele tão bem conhece, como fez durante a semana na Câmara dos
Deputados, quando deixou claro que não vai abrir mão do seu
objetivo de sanear as contas governamentais mesmo às custas do seu
cargo.
Chega a ser assustadora a
passividade com que a sociedade aceita taxas de inflação que rondam
1% ao dia. O País não pode continuar com a prática de procurar
formas de “convivência” com essa aberração econômica.
Precisa, em nome da ética, da lógica, do bom senso e da aposta no
futuro, dar combate permanente, constante, sem trégua a esse
perverso mecanismo concentrador de renda, que ameaça a própria
sobrevivência do País.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de julho de 1993)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment