Wednesday, November 08, 2017

Popularidade e responsabilidade



Pedro J. Bondaczuk


O brasileiro está mais confiante no futuro com a escolha de Fernando Henrique Cardoso para ser o ministro da Fazenda. É o que revela a mais recente sondagem do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope).

A pesquisa apenas veio comprovar aquilo que outras consultas populares do gênero já haviam comprovado. O momento, portanto, é dos mais oportunos para um movimento de aglutinação da maioria dos brasileiros em torno de causas comuns: o combate sem trégua à inflação, a moralização da vida pública e a retomada do desenvolvimento, que possibilitará ao País combater a miséria.

Embora a política do novo ministro seja consistente e realista, é preciso que obtenha resultados de curto prazo que permitam a detenção da escalada de preços. A popularidade – o presidente norte-americano Bill Clinton que o diga – é mais volátil do que a fumaça. À menor onda de descontentamento, esvai-se com uma rapidez estonteante.

Ninguém que tenha bom senso defende os velhos truques heterodoxos, como os congelamentos, as prefixações e outras medidas do gênero. Mas é preciso, de alguma forma, derrubar as taxas de inflação do patamar dos 30% já e, daí sim, gradualmente, mediante o saneamento contínuo das finanças públicas, trazer os índices cada vez mais para baixo, ao mínimo que for possível.

Fernando Henrique Cardoso vem enfrentando, conforme já esperado, resistências enormes para a implantação do chamado Plano Verdade. Chegou a comparar, inclusive, a sala de espera do seu gabinete ao “pátio dos milagres”, do romance de Victor Hugo, pela quantidade de “pedintes” de verbas que, no entanto, inexistem. Na reunião do Conselho Monetário Nacional desta semana, quase foi voto vencido na questão da rolagem das dívidas dos Estados e municípios.

O complicado, nisso tudo, é que os opositores ao saneamento das contas do governo adotam uma tática de sutilezas. Ostensivamente, ninguém é contra. Os sabotadores, inclusive, têm o requinte de expressar, pela imprensa, seu apoio às medidas de austeridade. Mas na hora de agir é que são elas.

O pernicioso clientelismo ainda permeia a vida pública brasileira. Muitos dos que pregam a redução do tamanho do Estado são os primeiros a recorrer às suas burras para satisfazer interesses que, em absoluto, são os nacionais.

O caminho mais indicado para o ministro conseguir a adesão dos cidadãos a mais esse esforço concentrado, que deve ser de todos, indistintamente, é continuar fazendo um “jogo aberto”. Vir a público, sempre que possível, para apresentar um relato sincero do andamento da aplicação do seu programa e prosseguir na campanha de doutrinação dos políticos, que ele tão bem conhece, como fez durante a semana na Câmara dos Deputados, quando deixou claro que não vai abrir mão do seu objetivo de sanear as contas governamentais mesmo às custas do seu cargo.

Chega a ser assustadora a passividade com que a sociedade aceita taxas de inflação que rondam 1% ao dia. O País não pode continuar com a prática de procurar formas de “convivência” com essa aberração econômica. Precisa, em nome da ética, da lógica, do bom senso e da aposta no futuro, dar combate permanente, constante, sem trégua a esse perverso mecanismo concentrador de renda, que ameaça a própria sobrevivência do País.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de julho de 1993)


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