Saturday, November 18, 2017

Procura-se um líder



Pedro J. Bondaczuk


O economista norte-americano Jeffrey Sachs, com a autoridade de quem possui brilhante folha de serviços a exibir, na qualidade de assessor de vários governos, como os da Rússia, da Polônia e da Bolívia, expressou, num seminário promovido pelo Instituto Fernand Braudel e pelo jornal “O Estado de São Paulo”, que a crise brasileira não será debelada sem a adoção de duras medidas econômicas.

Manifestou que não acredita em pactos sociais ou quaisquer acordos de natureza política para conter a inflação e repor o Brasil na trilha do desenvolvimento. Opinou que nossa situação sequer é muito desesperadora, citando como contraponto as dificuldades enfrentadas pelas autoridades russas.

Pelo menos em termos de combate à inflação, Sachs é, reconhecidamente, uma autoridade, depois do sucesso do seu plano na Bolívia – onde derrubou uma taxa anual de 60.000% para menos de 2,5% ao ano – e na Polônia, que convivia com 84% mensais e hoje já ostenta índices bem menores, embora ainda altos.

Todavia, as medidas propostas pelo economista não são aquelas que alguns aventureiros adotaram por aqui, do tipo confisco da poupança e outras coisas que todos conhecem. No entender do visitante, não é necessário, sequer, um governo forte, com respaldo congressual e popular, para obter êxito no combate inflacionário.

A única condição que considera imprescindível é que haja democracia no País. Nós acrescentaríamos outras: honestidade e competência. Será que há quem se habilite a administrar este “remédio amargo” a uma sociedade que vem sofrendo tanto há pelo menos onze anos?

Coincidentemente, no mesmo dia em que Sachs apresentou a sua receita para sanar a crise brasileira, foi divulgada uma proposta, encabeçada pelos deputados Delfim Netto e Francisco Dornelles e pelo senador Roberto Campos, todos do novo PPR (ex-PDS), de emenda constitucional que proíba, por parte do Executivo, a adoção de pacotes que levem a confiscos de poupança, bloqueios de ativos financeiros ou quebra de contratos jurídicos entre os agentes econômicos. Tomara que a iniciativa vingue.

Como se observa, os debates acerca do combate à inflação, com simultânea retomada do desenvolvimento, começam a ficar mais maduros. Os dois objetivos simultaneamente, não são incompatíveis, mas só serão alcançados mediante um esforço sério, concentrado, sincero, conjunto, de políticos, empresários, trabalhadores e de todos os setores da sociedade. O que se questiona é se de fato todos estão conscientes dessa necessidade.

Não está muito claro, também, quem irá conduzir esse processo, caso seja de fato deflagrado, e qual o grau de competência e responsabilidade desse condutor. Haveria esse líder que polarizasse a confiança dos brasileiros, tão desencantados com o festival de bobagens e de irresponsabilidade com os negócios de Estado evidenciado nos últimos anos, que a imprensa noticiou com tanto destaque e detalhes? Existiria este alguém que não fosse omisso, a ponto de levar o País a pagar multa ao Banco Mundial por não sacar o financiamento liberado por essa instituição para programas de saúde, à disposição do governo brasileiro há já três anos?

O Brasil teria esse comandante, que não fizesse “vistas grossas” ao tráfico de influências mantido debaixo de suas barbas e nem se omitisse diante dos assaltos ao patrimônio do trabalhador, como a Previdência Social e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço? Tomara que haja um líder assim, quem sabe, Itamar Franco, caso contrário, não haverá, jamais, solução para o nosso profundo impasse.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 17 de abril de 1993)



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