Procura-se um líder
Pedro J. Bondaczuk
O economista norte-americano
Jeffrey Sachs, com a autoridade de quem possui brilhante folha de
serviços a exibir, na qualidade de assessor de vários governos,
como os da Rússia, da Polônia e da Bolívia, expressou, num
seminário promovido pelo Instituto Fernand Braudel e pelo jornal “O
Estado de São Paulo”, que a crise brasileira não será debelada
sem a adoção de duras medidas econômicas.
Manifestou que não acredita
em pactos sociais ou quaisquer acordos de natureza política para
conter a inflação e repor o Brasil na trilha do desenvolvimento.
Opinou que nossa situação sequer é muito desesperadora, citando
como contraponto as dificuldades enfrentadas pelas autoridades
russas.
Pelo menos em termos de
combate à inflação, Sachs é, reconhecidamente, uma autoridade,
depois do sucesso do seu plano na Bolívia – onde derrubou uma taxa
anual de 60.000% para menos de 2,5% ao ano – e na Polônia, que
convivia com 84% mensais e hoje já ostenta índices bem menores,
embora ainda altos.
Todavia, as medidas propostas
pelo economista não são aquelas que alguns aventureiros adotaram
por aqui, do tipo confisco da poupança e outras coisas que todos
conhecem. No entender do visitante, não é necessário, sequer, um
governo forte, com respaldo congressual e popular, para obter êxito
no combate inflacionário.
A única condição que
considera imprescindível é que haja democracia no País. Nós
acrescentaríamos outras: honestidade e competência. Será que há
quem se habilite a administrar este “remédio amargo” a uma
sociedade que vem sofrendo tanto há pelo menos onze anos?
Coincidentemente, no mesmo dia
em que Sachs apresentou a sua receita para sanar a crise brasileira,
foi divulgada uma proposta, encabeçada pelos deputados Delfim Netto
e Francisco Dornelles e pelo senador Roberto Campos, todos do novo
PPR (ex-PDS), de emenda constitucional que proíba, por parte do
Executivo, a adoção de pacotes que levem a confiscos de poupança,
bloqueios de ativos financeiros ou quebra de contratos jurídicos
entre os agentes econômicos. Tomara que a iniciativa vingue.
Como se observa, os debates
acerca do combate à inflação, com simultânea retomada do
desenvolvimento, começam a ficar mais maduros. Os dois objetivos
simultaneamente, não são incompatíveis, mas só serão alcançados
mediante um esforço sério, concentrado, sincero, conjunto, de
políticos, empresários, trabalhadores e de todos os setores da
sociedade. O que se questiona é se de fato todos estão conscientes
dessa necessidade.
Não está muito claro,
também, quem irá conduzir esse processo, caso seja de fato
deflagrado, e qual o grau de competência e responsabilidade desse
condutor. Haveria esse líder que polarizasse a confiança dos
brasileiros, tão desencantados com o festival de bobagens e de
irresponsabilidade com os negócios de Estado evidenciado nos últimos
anos, que a imprensa noticiou com tanto destaque e detalhes?
Existiria este alguém que não fosse omisso, a ponto de levar o País
a pagar multa ao Banco Mundial por não sacar o financiamento
liberado por essa instituição para programas de saúde, à
disposição do governo brasileiro há já três anos?
O Brasil teria esse
comandante, que não fizesse “vistas grossas” ao tráfico de
influências mantido debaixo de suas barbas e nem se omitisse diante
dos assaltos ao patrimônio do trabalhador, como a Previdência
Social e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço? Tomara que haja um
líder assim, quem sabe, Itamar Franco, caso contrário, não haverá,
jamais, solução para o nosso profundo impasse.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 17 de abril de 1993)
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