Correção na campanha
Pedro J. Bondaczuk
A campanha para o plebiscito
de 21 de abril está prevista para começar no próximo dia 19 e há,
ainda, uma série de indefinições acerca da própria realização
ou não da consulta popular. Ocorre que muitos constitucionalistas
entendem, com sólida fundamentação, que a lei ordinária que
alterou a data constante nas disposições transitórias da
Constituição, que era 7 de setembro, é inconstitucional.
A Carta Magna, em qualquer dos
seus dispositivos, apenas pode ser modificada mediante emenda
constitucional, que não foi o caso. Já há quatro representações
junto ao Supremo Tribunal Federal, que está em recesso, arguindo a
constitucionalidade da mudança de data. A prevalecer a lógica, será
mantida a programação original.
Supondo, todavia, que o
plebiscito venha a ser confirmado para 21 de abril e que a propaganda
pelo rádio e pela televisão comece mesmo no próximo dia 19,
espera-se que a convocação da população às urnas seja colocada
em seus devidos termos. Que os excessos geralmente cometidos em
campanhas sejam contidos, para o bem de todos. Que pelo menos desta
vez se informe corretamente os eleitores.
No Brasil é costume usar
situações como esta para despertar esperanças infundadas entre os
cidadãos. Foi assim com as eleições diretas para a Presidência da
República, colocadas para o público como a solução para todos os
problemas do País. Hoje, todos vemos que a coisa não era bem assim.
A mesma e irresponsável
manipulação das massas despolitizadas se repetiu em relação à
Assembleia Nacional Constituinte. Durante todo o ano de 1985,
políticos de várias tendências ideológicas revezaram-se nos meios
de comunicação para dar a entender que, com a elaboração da nova
Constituição, a renitente crise brasileira – que não é apenas
econômica, mas, sobretudo, social e moral – chegaria ao fim. Não
chegou. Pelo contrário, agravou-se, e muito. E tome nova frustração
para cima da sofrida população, desesperada à espera de algum
sintoma, por mínimo que seja, de que as coisas tendem a melhorar.
A tão apregoada “Constituição
salvadora” só complicou a vida do País. Os constituintes
elaboraram uma Carta Magna eminentemente parlamentarista, mas o
regime continuou sendo presidencialista. Deu no que está dando. O
País está virtualmente ingovernável.
Decisões que poderiam e
deveriam ser tomadas de forma fulminante, se arrastam por semanas,
meses, quando não, anos. É o caso da reforma fiscal – não desse
ajuste caça-níqueis que tramita no Congresso.
Qualquer que seja a decisão
popular no plebiscito, uma coisa é certa: a Constituição terá que
ser adequada ao regime escolhido. Caso o parlamentarismo seja o
vitorioso, há que haver uma profunda mudança na legislação que
rege os partidos, com a exigência de fidelidade partidária e
índices mínimos eleitorais para que as agremiações continuem
existindo, além da reformulação da lei eleitoral, com a
instituição do voto distrital – puro ou misto, não importa – e
a extensão do mesmo sistema pelo menos aos Estados.
O plebiscito é importante,
não é isto o que se questiona. Apenas não pode ser colocado, mais
uma vez, como a “salvação da lavoura”. O caminho para a saída
da crise pode passar por ele, mas ainda não é este.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de fevereiro de 1993).
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