Reeleição e Apitogate
Pedro J. Bondaczuk
O país dos escândalos vê-se
envolvido em mais duas novas ocorrências criminosas de uma só vez:
a confissão do deputado Ronivon Santiago (PFL-AC) de que ele e mais
quatro colegas votaram na emenda da reeleição porque receberam R$
200 mil cada um para isso e o suborno praticado pelo presidente da
Comissão Nacional dos Árbitros de Futebol (Conaf), Ivens Mendes,
para obter dinheiro destinado a financiar sua campanha eleitoral.
São novos casos que vêm se
somar a vários outros episódios nada abonadores, tanto antigos,
quanto mais recentes, como os dos precatórios e os das agressões de
policiais militares contra a população em Diadema, na Grande São
Paulo e na Cidade de Deus, no Rio, para citar os que estão mais em
evidência. Isto para não falar da onda de incêndios de pessoas que
se verifica em várias cidades do Brasil --- Campinas entre elas ---
cujo episódio de maior repercussão foi a morte do índio pataxó em
Brasília.
Portanto, não é apenas a
cena política que está apodrecida e nem é só o aparato de
segurança pública que se vê corrompido. Toda a sociedade está
doente e precisa repensar, com urgência, seus atos e valores.
Outro fato escandaloso, digno
de registro (jamais de imitação), foi o ocorrido na semana passada
no Congresso, com o chamado "apitaço", seguido de cenas de
pugilato entre os deputados. O eleitor (e sobretudo contribuinte),
fica se perguntando se vota e, principalmente, se paga tantos
impostos para sustentar essa "molecagem".
Para complicar, além de país
dos escândalos, o Brasil também se tornou o paraíso da impunidade.
No caso dos precatórios, que frequentou por tanto tempo as
manchetes, não há evidências de que alguém virá a ser punido.
Talvez ocorram punições de dois ou três "laranjas" e
tudo tende a terminar como começou. Ou seja, como diz o apresentador
do TJ Brasil do SBT, Bóris Casoy: "numa enorme pizza, com
sobremesa de marmelada".
A mesma coisa vale em relação
à venda de votos dos cinco deputados e ao que já está sendo
chamado de "Apitogate". Talvez os corruptos que se deixaram
pilhar recebam alguma espécie de punição, embora branda e
desproporcional ao crime que cometeram. Mas, e os corruptores? E os
que subornaram? E os que fizeram vistas grossas às agressões? E os
que lucraram direta ou indiretamente com os escândalos?
O que se defende não é
nenhuma "caça tresloucada às bruxas", mas um mínimo de
lisura e ética na vida pública brasileira, seja no Congresso, seja
no campo financeiro, seja naquilo que é a paixão deste povo: o
futebol. Daí ser tão importante o papel da imprensa, denunciando,
cobrando, exigindo e fiscalizando. Só assim, quem sabe, seremos
aquela sociedade com que todos sonhamos, o que, por enquanto, beira à
mais delirante das utopias.
(Texto escrito em 12 de maio
de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).
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