À procura dos justos
Pedro J. Bondaczuk
O escritor Jorge Luís Borges
escreveu, em “O Aleph”, que “não há geração sem quatro
homens retos, que secretamente sustentam o Universo e o justificam
diante do Senhor. Um desses varões teria sido o juiz mais idôneo.
Mas, onde encontrá-los, se andam perdidos e anônimos pelo mundo, e
não se reconhecem quando se veem, e nem eles mesmos sabem do alto
ministério que cumprem?”
Embora se trate de uma
provocação intelectual do grande mestre, evidentemente é um
exagero dizer que há tão poucos justos. Mas nunca se sabe...A
julgar pelo noticiário do dia a dia, até essa cifra torna-se
questionável.
Escândalos e acusações de
suborno, de exploração da boa-fé alheia, de aberrações sexuais e
de perversidade de toda a sorte desfilam nas manchetes, ante o nosso
olhar aturdido e revoltado. É a operação Mãos Limpas na Itália,
com novas e surpreendentes revelações acerca das bandalheiras de
homens aparentemente insuspeitos: são os casos de pagamento de
propinas e outros atos de corrupção no Japão, que pipocam nas
manchetes num,a sucessão que não tem mais fim; é o novo episódio
envolvendo poderoso senador norte-americano, acusado de transformar
sua casa num bordel e são tantas outras histórias escabrosas e nada
edificantes, que ficamos pasmos. E chegamos a cometer a injustiça de
achar que ninguém presta.
Isto, para não citar
perversidades maiores, cometidas, por exemplo, na Bósnia, na
Somália, no Haiti, em Burundi, e em tantos e tantos lugares
governados por truculentos ditadores ou por presidentes corruptos ou,
onde pessoas se matam, em sangrentas guerras civis, ou nas ruas das
cidades, sem que sequer se odeiem ou se conheçam.
E o que falar dos escândalos
que atormentam, há 171 anos, ou até mais (provavelmente desde seu
descobrimento, em 1500), esta dadivosa Terra de Santa Cruz? O que
dizer dos ladrões da Previdência, por exemplo? Ou dos envolvidos (e
ainda impunes) no esquema PC? E dos fraudadores do Orçamento da
União?
Onde estão os quatro justos
desta geração? Estão por toda a parte. Só o nosso pessimismo e o
hábito das generalizações não permitem que os vejamos. E não são
apenas quatro. Talvez sejam 400. Ou, quem sabe, 4 mil, 400 mil, 4
milhões, 400 milhões?!
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 31 de outubro de 1993)
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