Saturday, November 11, 2017

O fim é que conta

Pedro J. Bondaczuk

Os vencedores, cuja existência é tão exemplar que serve de parâmetro de conduta a gerações e mais gerações, não lamentam tropeços, fracassos, dores e decepções que a vida lhes impõe. De cada pedra no caminho, fazem alicerce de castelos de vitórias. Os obstáculos servem-lhes, apenas, de estímulos para lutarem com mais vigor.

As perdas são lamentadas, óbvio, mas essas pessoas não se restringem às lamentações. Erguem a cabeça e extraem lições de erros, insucessos e frustrações. Têm em mente, e agem face a esse pressuposto, que o fim é o que conta. Não importa “como” realizam suas obras, desde que, de fato, as realizem mesmo.

Lógico que não defendo a premissa de que “os fins ‘sempre’ justificam os meios”. Não justificam. Ou, pelo menos, não “sempre”. Há essa justificação se os recursos que empregarmos para erigir nossa obra-prima (ou outra qualquer e não importa sua natureza) não forem violentos, aéticos, imorais ou coisa que o valha. Ou seja, desde que não prejudiquemos ninguém.

Todos podem ser assim, ousados, determinados, competentes e apaixonados. Basta querer. Basta ter postura sempre positiva face à vida, ser persistente no que se faz e transformar “tudo em flores”. Ou seja, vislumbrar beleza, grandeza e transcendência até onde, aparentemente, elas não existam.

Felizes dos que, ao cabo de longa existência, podem olhar para trás e constatar que aproveitaram as oportunidades que tiveram. Dos que não têm queixas das circunstâncias que marcaram o tempo que viveram. Dos que nunca viram, por exemplo, morrer qualquer esperança e tiveram a ventura de as ver, todas, plenamente concretizadas. Dos que não se consideram injustiçados e nem duramente punidos.

Convenhamos, esta não é a realidade da maioria das pessoas, que olha para trás com tristeza e decepção e percebe que já nada mais pode ser feito para se sentir ao menos palidamente feliz.. Oxalá possamos, todos, perto do nosso ocaso, bendizer a vida e só ter motivos para agradecer, jamais para lamentar. Afinal, guardadas as premissas que mencionei, o fim é que conta (desde que nobre, construtivo e justo, óbvio).

As situações extremas, de turbulência ou de estagnação, por mais que nos atemorizem e angustiem, encerram preciosas lições, que não conseguiríamos aprender de outra maneira. Aprendemos pelo sofrimento. Perdas de entes queridos, de amizades, de empregos ou de bens, ou doenças e acidentes, entre tantos outros contratempos, causam-nos, é certo, perplexidade, dor.

Todavia, todos eles encerram lições que deveríamos nos esforçar por extrair. O mesmo vale para períodos de estagnação, em que parece que nunca sairemos do lugar, enquanto vemos outras pessoas, de capacidade até inferior à nossa, evoluírem, material, social ou espiritualmente. O sofrimento, embora, obviamente, o devamos evitar, tende a ser eficiente e implacável mestre.

Viemos ao mundo com algum objetivo, que temos a obrigação de descobrir qual é, e cumprir, com competência e entusiasmo. Uma coisa é certa: não viemos a passeio. Temos uma obra a realizar e quanto mais extensa, e perfeita, e útil ela for, maior será nosso valor. A vida não comporta ociosidade e omissões.

Nosso valor pessoal não está, pois, na nossa origem, na família de que procedemos e na importância dos nossos ancestrais. Está em nossa conduta, na capacidade de pensar, construir, realizar e, sobretudo, servir. Muitos fracassam na vida e se tornam pesos mortos, porque não se dão conta disso. Tropeçam no meio da jornada e são incapazes de se levantar. Não se apercebem que o fim é o que conta. É sumamente humilhante o fato de apenas “durarmos”, e não “existirmos” para o mundo e até para nossas famílias.

Às vezes, circunstâncias da vida levam-nos à tentação de jogar tudo para o alto e de abrir mão dos ideais que nos empolgaram na juventude. Julgamo-nos castigados por Deus, quando, na verdade Este não castiga ninguém, por ser a fonte do genuíno amor. Obstáculos existem, é verdade, e muitos, em nosso caminho, de todos os tamanhos e intensidades. Mas são essas dificuldades – que nos aborrecem tanto quando se manifestam – que valorizam nossas conquistas e as enobrecem.

Há quem chegue ao extremo de desacreditar de tudo e de todos e que desista, até mesmo, das pessoas que ama. Nada pior e mais injusto do que isso. Os obstáculos têm que ser encarados como desafios, até como privilégios que a vida nos proporciona, por se tratarem de oportunidades para mostrarmos nosso valor.

Abraham Lincoln, quando presidente dos Estados Unidos, questionado, certa feita, sobre determinadas críticas que lhe eram feitas a respeito da sua maneira de governar, disse que não se preocupava com elas, pois o final era o que contava. E acrescentou: “Se o fim mostrar que estou certo, o que se disse de mim não valerá grande coisa. Se o fim mostrar que estou errado, dez anjos jurando que eu estava certo não farão diferença”. E não farão mesmo.

Ademais, o sucesso e o fracasso raramente são permanentes e muito menos definitivos. Os insucessos, por exemplo, dependendo das circunstâncias, podem ser revertidos, com um pouquinho mais de persistência, após criteriosa análise dos pontos em que falhamos. Já os êxitos podem se diluir num piscar de olhos e desaparecer, subitamente, se viermos a nos contentar com eles e nada fizermos para garantir sua consolidação.

Portanto, nem o sucesso deve ser recebido com exagerada euforia e nem o fracasso com desânimo. A vida é mutante e as circunstâncias variam ao sabor dos dias. Tendo isso em mente, evitaremos dissabores desnecessários e decepções evitáveis. Jorge Luís Borges escreveu a esse respeito, citando outro escritor: “Rudyard Kipling disse que o sucesso e o fracasso são dois impostores: ninguém fracassa tanto quanto crê e ninguém tem tanto sucesso quanto crê”. Embora se trate de lição óbvia, nem sempre a levamos em conta no curso das nossas vidas. E muito menos atentamos para o fato de que o fim é que conta. Ou não é?!


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