Ação e transparência
Pedro J. Bondaczuk
O
pronunciamento feito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, antes
da primeira entrevista coletiva que concedeu desde que tomou posse,
repercutiu favoravelmente nos meios que constituem os centros de
decisão do País: políticos, empresariais e sociais.
Percebeu-se,
sobretudo, sua determinação em comandar as mudanças que o Estado
brasileiro requer, mas que vêm sendo proteladas, empurradas com a
barriga, governo após governo, sob influência dos lobbies de toda a
sorte, atendendo a interesses que, em absoluto, são os da sofrida
população.
Entre as
áreas a serem atacadas estão a reforma da Previdência, a abertura
da economia à competição e a reformulação das atribuições
entre as iniciativas pública e privada. Nada mais saudável e
necessário numa democracia do que o contato direto entre governantes
e governados.
Torce-se,
portanto, para que Fernando Henrique inaugure um novo estilo de
governar, caracterizado pela franqueza, pela sinceridade e pela
transparência de seus atos e projetos. Até porque, ao longo do
processo de mudanças, muitas decisões impopulares terão que ser
tomadas. Uma, aliás, já foi – no caso o veto do reajuste do
salário-mínimo para R$ 100,00 – e trouxe um ônus bastante
elevado para quem está começando um governo. A popularidade do
presidente despencou de cerca de 80% para 36% da noite para o dia. É
o preço do poder.
É preciso
jogar limpo com a população, para resgatar sua confiança nos
homens públicos, há muito perdida no caudal de tantas mazelas e
desmandos que caracterizaram o cenário de Brasília nas últimas
três ou quatro décadas. Mas é necessário, indispensável, vital,
sobretudo, ação.
A hora não
é mais de discursos pomposos, mas ocos, ou de promessas deixadas
para as calendas. O Brasil tem mais uma oportunidade (talvez a
última) de se reestruturar, de despertar para o desenvolvimento e de
transformar em certeza o imenso potencial que possui.
É o
momento, sobretudo, do resgate da enorme dívida social que o País
tem para com a maioria esmagadora dos brasileiros. Oxalá o final do
discurso de posse de Fernando Henrique Cardoso não seja apenas mais
uma frase de efeito e se transforme em lema, em bandeira, em meta,
que nos livre de uma vez por todas do maldito título de nação mais
injusta do mundo. “O Brasil tem que mudar, quer mudar, vai mudar”,
disse o presidente na oportunidade. Tomara, apenas, que a mudança
seja para melhor.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de
fevereiro de 1995).
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