Wednesday, November 15, 2017

Ação e transparência



Pedro J. Bondaczuk



O pronunciamento feito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, antes da primeira entrevista coletiva que concedeu desde que tomou posse, repercutiu favoravelmente nos meios que constituem os centros de decisão do País: políticos, empresariais e sociais.

Percebeu-se, sobretudo, sua determinação em comandar as mudanças que o Estado brasileiro requer, mas que vêm sendo proteladas, empurradas com a barriga, governo após governo, sob influência dos lobbies de toda a sorte, atendendo a interesses que, em absoluto, são os da sofrida população.

Entre as áreas a serem atacadas estão a reforma da Previdência, a abertura da economia à competição e a reformulação das atribuições entre as iniciativas pública e privada. Nada mais saudável e necessário numa democracia do que o contato direto entre governantes e governados.

Torce-se, portanto, para que Fernando Henrique inaugure um novo estilo de governar, caracterizado pela franqueza, pela sinceridade e pela transparência de seus atos e projetos. Até porque, ao longo do processo de mudanças, muitas decisões impopulares terão que ser tomadas. Uma, aliás, já foi – no caso o veto do reajuste do salário-mínimo para R$ 100,00 – e trouxe um ônus bastante elevado para quem está começando um governo. A popularidade do presidente despencou de cerca de 80% para 36% da noite para o dia. É o preço do poder.

É preciso jogar limpo com a população, para resgatar sua confiança nos homens públicos, há muito perdida no caudal de tantas mazelas e desmandos que caracterizaram o cenário de Brasília nas últimas três ou quatro décadas. Mas é necessário, indispensável, vital, sobretudo, ação.

A hora não é mais de discursos pomposos, mas ocos, ou de promessas deixadas para as calendas. O Brasil tem mais uma oportunidade (talvez a última) de se reestruturar, de despertar para o desenvolvimento e de transformar em certeza o imenso potencial que possui.

É o momento, sobretudo, do resgate da enorme dívida social que o País tem para com a maioria esmagadora dos brasileiros. Oxalá o final do discurso de posse de Fernando Henrique Cardoso não seja apenas mais uma frase de efeito e se transforme em lema, em bandeira, em meta, que nos livre de uma vez por todas do maldito título de nação mais injusta do mundo. “O Brasil tem que mudar, quer mudar, vai mudar”, disse o presidente na oportunidade. Tomara, apenas, que a mudança seja para melhor.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de fevereiro de 1995).



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