Friday, November 10, 2017

O panorama vai mudar com as posses de hoje



Pedro J. Bondaczuk



A posse dos governadores eleitos em 15 de novembro passado nos 23 Estados brasileiros, que ocorre hoje, vai introduzir um novo fator no quadro político do País. Teoricamente, o presidente José Sarney vai ganhar maior respaldo, já que a totalidade deles pertence à Aliança Democrática, sendo 22 do PMDB e um solitário, o do Sergipe, na pessoa de Antonio Valadares, do PFL.

Eles assumem os seus postos num momento grave, e nem seria preciso destacar, em que o Brasil vive uma de suas cíclicas crises político-econômicas, de gravidade maior do que se busca dar a entender. Embora a boataria ande comendo à solta, há também muita esperança positiva no ar. E os novos governadores, que vêm dispostos a mostrar serviço, podem contribuir decisivamente para que a nossa sociedade encontre os caminhos que está procurando a tanto tempo.

Desse elenco que toma posse hoje, uns, como sempre costuma acontecer, terão maior espaço que outros, dependendo do grau de liderança que tiverem sobre suas respectivas bancadas. Neste contexto, é bom que se fique de olho no ex-prefeito de Contagem, o governador mineiro Newton Cardoso, que em declarações dadas nos últimos tempos, parece disposto a lutar pelo estabelecimento de um federalismo autêntico entre nós (já que nunca o tivemos, a despeito do País se chamar República Federativa do Brasil).

Será ele que irá comandar a maior bancada na Assembleia Nacional Constituinte, com 37 parlamentares, e que parece ser também a mais coesa de todas. Mas esse político, que surpreendeu pela sua garra, ao superar todos os obstáculos para impor ao partido a sua candidatura, vencendo divisões (no caso a defecção do senador Itamar Franco e da ala que o apoiou), conquistando o difícil respaldo de Hélio Garcia, vem apoiando, cada vez com maior empenho, as propostas do presidente José Sarney.

Dessa forma, o governo central, que ficou um tanto isolado da sociedade e, por que não dizer, dos políticos após o anúncio do desastrado Cruzado II e das duras medidas complementares que o sucederam, passará a ter mais condições de executar o seu programa, frequentemente apregoado como voltado para a correção de inúmeras distorções sociais.

Além do governador mineiro, o Planalto será respaldado ainda pelos dois outros mais importantes Estados da Federação, que constituem aquilo que se convencionou chamar de “Triângulo das Bermudas”, ou seja, São Paulo e Rio de Janeiro. A importância desse apoio cresce em sua dimensão quando se sabe que a bancada peemedebista paulista é a segunda maior da Constituinte, com 31 parlamentares, sendo 28 deputados federais e os três senadores.

Há muita expectativa pelo desempenho dos novos mandatários estaduais, não somente no plano político, mas principalmente no econômico. A maioria deles tem um perfil reformista e defende a descentralização da administração nacional, com maior enfoque para os Estados e os municípios.

Orestes Quércia, por exemplo, é um líder municipalista, que ainda no governo do presidente João Figueiredo, comandou uma marcha de prefeitos a Brasília, para reivindicar uma reforma tributária de emergência. Agora na direção de São Paulo, dispondo de uma bancada numerosa na Assembleia Constituinte e contando com o respaldo de outros governadores que defendem a mesma tese, é possível que finalmente obtenha sucesso e tenhamos uma Federação de fato, e não apenas um arremedo dela.

Na maioria dos Estados, desta vez, parece que não teremos o espetáculo deprimente das devassas administrativas que se registravam no passado, com os novos comandantes das unidades federativas vindo a público para denunciar possíveis desmandos e falcatruas de seus antecessores e que ao cabo de algum tempo acabavam sendo esquecidos e não apurados.

Em São Paulo, por exemplo, haverá continuidade de governo, já que Montoro, que deixa o Palácio dos Bandeirantes, e Quércia, que o assume, estiveram, nos últimos quatro anos, no mesmo barco. Mas em alguns Estados, a coisa não deverá ser tão calma.

Como, por exemplo, no Rio de Janeiro, onde Moreira Franco, mesmo antes de assumir o cargo, já vinha dando declarações, questionando a competência (e até a probidade) de Leonel Brizola, visado pelo governo central por motivos compreensíveis, mas não justificáveis. Ou seja, por jamais haver escondido de ninguém as suas pretensões de um dia subir a rampa do Palácio do Planalto, como presidente da República, eleito numa eleição direta, exercício, aliás, que não se verifica no País desde 1960.

A Bahia e o Pernambuco serão, mas por razões meramente regionais, outros Estados onde os novos governadores não deverão poupar críticas e denúncias aos que deixam os seus postos. Este exercício, aliás, já se tornou uma rotina no Brasil, pelo menos desde 1982, quando foram restabelecidas as escolhas diretas para os governos estaduais. E é ele que abastece, via de regra, por muitos meses, o noticiário da imprensa, em todo o início de uma nova gestão.

O que a população, certamente, vai fazer, desta vez mais do que nunca, é estar atenta na cobrança das promessas de palanque. Os primeiros dias das novas administrações dos Estados serão decisivos para o sucesso ou não dos novos governadores, muitos com pretensões muito mais ambiciosas do que os meros limites regionais.

Se as questões mais ostensivas e palpáveis forem equacionadas de cara, seu cacife vai aumentar bastante. Caso eles fracassem, o que podem esperar é, apenas, ostracismo, ao cabo dos quatro anos de suas respectivas gestões. Oxalá acertem, para o bem de todos nós.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 15 de março de 1987).


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