O panorama vai mudar com as posses de hoje
Pedro J. Bondaczuk
A posse dos
governadores eleitos em 15 de novembro passado nos 23 Estados
brasileiros, que ocorre hoje, vai introduzir um novo fator no quadro
político do País. Teoricamente, o presidente José Sarney vai
ganhar maior respaldo, já que a totalidade deles pertence à Aliança
Democrática, sendo 22 do PMDB e um solitário, o do Sergipe, na
pessoa de Antonio Valadares, do PFL.
Eles
assumem os seus postos num momento grave, e nem seria preciso
destacar, em que o Brasil vive uma de suas cíclicas crises
político-econômicas, de gravidade maior do que se busca dar a
entender. Embora a boataria ande comendo à solta, há também muita
esperança positiva no ar. E os novos governadores, que vêm
dispostos a mostrar serviço, podem contribuir decisivamente para que
a nossa sociedade encontre os caminhos que está procurando a tanto
tempo.
Desse
elenco que toma posse hoje, uns, como sempre costuma acontecer, terão
maior espaço que outros, dependendo do grau de liderança que
tiverem sobre suas respectivas bancadas. Neste contexto, é bom que
se fique de olho no ex-prefeito de Contagem, o governador mineiro
Newton Cardoso, que em declarações dadas nos últimos tempos,
parece disposto a lutar pelo estabelecimento de um federalismo
autêntico entre nós (já que nunca o tivemos, a despeito do País
se chamar República Federativa do Brasil).
Será
ele que irá comandar a maior bancada na Assembleia Nacional
Constituinte, com 37 parlamentares, e que parece ser também a mais
coesa de todas. Mas esse político, que surpreendeu pela sua garra,
ao superar todos os obstáculos para impor ao partido a sua
candidatura, vencendo divisões (no caso a defecção do senador
Itamar Franco e da ala que o apoiou), conquistando o difícil
respaldo de Hélio Garcia, vem apoiando, cada vez com maior empenho,
as propostas do presidente José Sarney.
Dessa
forma, o governo central, que ficou um tanto isolado da sociedade e,
por que não dizer, dos políticos após o anúncio do desastrado
Cruzado II e das duras medidas complementares que o sucederam,
passará a ter mais condições de executar o seu programa,
frequentemente apregoado como voltado para a correção de inúmeras
distorções sociais.
Além
do governador mineiro, o Planalto será respaldado ainda pelos dois
outros mais importantes Estados da Federação, que constituem aquilo
que se convencionou chamar de “Triângulo das Bermudas”, ou seja,
São Paulo e Rio de Janeiro. A importância desse apoio cresce em sua
dimensão quando se sabe que a bancada peemedebista paulista é a
segunda maior da Constituinte, com 31 parlamentares, sendo 28
deputados federais e os três senadores.
Há
muita expectativa pelo desempenho dos novos mandatários estaduais,
não somente no plano político, mas principalmente no econômico. A
maioria deles tem um perfil reformista e defende a descentralização
da administração nacional, com maior enfoque para os Estados e os
municípios.
Orestes
Quércia, por exemplo, é um líder municipalista, que ainda no
governo do presidente João Figueiredo, comandou uma marcha de
prefeitos a Brasília, para reivindicar uma reforma tributária de
emergência. Agora na direção de São Paulo, dispondo de uma
bancada numerosa na Assembleia Constituinte e contando com o respaldo
de outros governadores que defendem a mesma tese, é possível que
finalmente obtenha sucesso e tenhamos uma Federação de fato, e não
apenas um arremedo dela.
Na
maioria dos Estados, desta vez, parece que não teremos o espetáculo
deprimente das devassas administrativas que se registravam no
passado, com os novos comandantes das unidades federativas vindo a
público para denunciar possíveis desmandos e falcatruas de seus
antecessores e que ao cabo de algum tempo acabavam sendo esquecidos e
não apurados.
Em
São Paulo, por exemplo, haverá continuidade de governo, já que
Montoro, que deixa o Palácio dos Bandeirantes, e Quércia, que o
assume, estiveram, nos últimos quatro anos, no mesmo barco. Mas em
alguns Estados, a coisa não deverá ser tão calma.
Como,
por exemplo, no Rio de Janeiro, onde Moreira Franco, mesmo antes de
assumir o cargo, já vinha dando declarações, questionando a
competência (e até a probidade) de Leonel Brizola, visado pelo
governo central por motivos compreensíveis, mas não justificáveis.
Ou seja, por jamais haver escondido de ninguém as suas pretensões
de um dia subir a rampa do Palácio do Planalto, como presidente da
República, eleito numa eleição direta, exercício, aliás, que não
se verifica no País desde 1960.
A
Bahia e o Pernambuco serão, mas por razões meramente regionais,
outros Estados onde os novos governadores não deverão poupar
críticas e denúncias aos que deixam os seus postos. Este exercício,
aliás, já se tornou uma rotina no Brasil, pelo menos desde 1982,
quando foram restabelecidas as escolhas diretas para os governos
estaduais. E é ele que abastece, via de regra, por muitos meses, o
noticiário da imprensa, em todo o início de uma nova gestão.
O
que a população, certamente, vai fazer, desta vez mais do que
nunca, é estar atenta na cobrança das promessas de palanque. Os
primeiros dias das novas administrações dos Estados serão
decisivos para o sucesso ou não dos novos governadores, muitos com
pretensões muito mais ambiciosas do que os meros limites regionais.
Se
as questões mais ostensivas e palpáveis forem equacionadas de cara,
seu cacife vai aumentar bastante. Caso eles fracassem, o que podem
esperar é, apenas, ostracismo, ao cabo dos quatro anos de suas
respectivas gestões. Oxalá acertem, para o bem de todos nós.
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