Thursday, October 03, 2013

Sobre “Crônicas cruas”

Por Pedro J. Bondaczuk

O escritor, para conquistar credibilidade e, por conseqüência, obter a fidelidade do principal agente da Literatura, que é o leitor – sem o qual, óbvio, nenhum livro faz sentido ser escrito e publicado – precisa, além de escrever bem (com rigorosa correção na grafia e na gramática, e, sobretudo, com clareza), ser sincero. Isso é imprescindível. Não pode, por exemplo, ter nenhum tema tabu, a propósito do qual se recuse (por uma razão ou outra) a opinar. Mas tem que ter, sempre, opinião própria, mesmo que esta vá contra a correnteza. E deve expressá-la, rigorosamente, da forma como vê a questão que esteja abordando, ou seja, “nua e cruamente”. Tem que, sobretudo, “acreditar” no que escreve.

Esta é a principal característica da “atriz-escritora”, ou “escritora-atriz” (como queiram) Katia Saules, sobre a qual já tive a oportunidade de escrever. Ela já havia demonstrado essas virtudes que citei em seu primeiro livro, “Crônicas nuas”, lançado, se não me falha a memória, em dezembro de 2012, pela Editora Giosti, que tive a oportunidade de ler, “degustar”, apreciar e comentar. E os méritos literários que detectei naquela oportunidade, e que mencionei em um texto a propósito, se confirmam plenamente. E ficam muito mais claros em seu novo lançamento editorial, ocorrido em 28 de setembro passado, no Rio de Janeiro, ou seja, no volume intitulado “Crônicas cruas”, que já no próprio título sugere se tratar de uma espécie de “complemento” do livro anterior.    

Iniciei o comentário, a propósito da sua então obra de estréia – publicado aqui, neste espaço, em 31 de janeiro passado – da seguinte forma: “Os atores e atrizes (de teatro, cinema e televisão), são, no meu entendimento, via de regra, excelentes leitores. Têm que ser. Para poderem emprestar vida aos personagens que representam, precisam conhecer o máximo possível deles e até “adivinhar” a intenção do autor que os criou. Com isso, “treinam” o cérebro a perceber nuances que o leitor comum raramente percebe. Faz parte da sua profissão. Como para alguém ser bom escritor deve, antes de tudo (salvo raras exceções) ser bom leitor, os atores e atrizes que se aventuram no mundo das letras tendem a se dar bem. Ou seja, têm potencial de se tornar, também, astros e estrelas de um outro firmamento: o literário”. E Katia Saules confirma tudo isso e muito mais. Revela-se magnífica escritora, que nada fica a dever a nenhum veterano do mundo das letras.

Todavia, não há ninguém melhor do que ela para revelar suas motivações na produção de sua obra literária, que promete ser das mais volumosas e profícuas (assim espero). Tratando do seu livro anterior, Katia assim se expressou: “Sempre acreditei e levo como lema em minha vida que a verdade deve ser ‘Nua e Crua’. Em meu primeiro livro ‘Crônicas Nuas’, como o próprio nome sugere… me despi, me expus, fui transparente, sem filtro e falei de fatos e sentimentos vividos por mim ou por pessoas queridas, muito próximas a mim, com que, de alguma forma, eu estava envolvida”. Eu não estava, pois, enganado, quando fiz a mesma constatação, posto que com outras palavras. Fica evidenciada, sem dúvidas e nem ambigüidades, que sua principal característica é mesmo a que não deve faltar, jamais, a nenhum escritor que se preze: sinceridade.

Deixo por conta de Katia revelar o conteúdo de seu novo (e segundo) livro: “Em ‘Crônicas Cruas’, trato de temas mais abrangentes, de assuntos polêmicos e de sentimentos universais. É um livro para entreter sim, claro… mas acredito que seja também para refletir, para ver/enxergar os detalhes de nosso dia a dia, que muitas vezes passam diante de nossos olhos sem nos darmos conta. E a vida é feita de detalhes. Colocar uma lente de aumento em singelos momentos faz com que vejamos determinadas situações de forma diferente, com mais sensibilidade. Acredito que falta ‘olho no olho’, mais contato físico nas pessoas em tempos tão virtuais…. Falta transparência nos dias atuais. As máscaras sociais devem cair, sempre e mais. Que sejamos honestos, corretos, sensíveis e verdadeiros acima de tudo. É o que proponho em ‘Crônicas Cruas’”. Propõe e consegue.

Voltarei, oportunamente, ao tema, porquanto tanto esse precioso livro (reitero, o segundo dessa atriz-escritora ou escritora-atriz), quanto sua competente autora, merecem análise mais acurada, dadas a atualidade e a oportunidade das suas crônicas. E, sobretudo, em virtude da sinceridade e das indiscutíveis virtudes literárias de Katia Saules. Por isso, “Crônicas cruas” é uma obra que recomendo, prazerosa e entusiasticamente, aos meus atentos, exigentes e imprescindíveis leitores.


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