Saturday, October 26, 2013

Guerra de palavras


Pedro J. Bondaczuk


A Justiça colombiana claudicou ao conceder um “habeas corpus” a um dos chefes do poderoso “Cartel de Medellin” (hoje a principal organização mundial no tráfico de drogas), fazendo com que Jorge Luís Ochoa Vasquez saísse em liberdade da prisão onde, aliás, de acordo com denúncias da imprensa, gozava de regalias dignas de um hotel de luxo, desses de cinco estrelas.

Por causa dessa atitude, estranha para um país que se diz disposto a erradicar de seu território esse flagelo, esse poder sinistro que cresce à sombra do Estado, a Colômbia sofreu uma série de retaliações por parte dos Estados Unidos, que vai afetar seus cidadãos e seu comércio legal.

O caso tem tudo para provocar uma crise no governo liberal de Virgílio Barco Vargas, com as duras denúncias que lhe vêm sendo dirigidas pela oposição conservadora, que deseja a cabeça do ministro da Justiça, Enrique Low Mutra. Este teria transigido diante do poderio dos chefões do tráfico de cocaína.

É verdade que os traficantes vêm, há tempos, praticando uma série de crimes contra magistrados, policiais e jornalistas, visando a atemorizar os que se lhes opõem. Objetivam, principalmente, evitar que seus dirigentes sejam extraditados. Sabem o quanto os tribunais norte-americanos são severos com seus crimes e, por isso, mostram-se dispostos a ir às últimas conseqüências para evitar as extradições.

O que não se pode conceber é que os magistrados se deixem intimidar diante das ameaças. Fazendo o que os traficantes querem, estão sendo injustos com seus companheiros, que preferiram morrer, para não compactuar com bandidos.

Na Itália, a justiça aplicou um magnífico golpe numa das organizações criminosas mais sólidas do mundo, mesmo sofrendo idênticas pressões (ou até mesmo piores do que as colombianas). Levou às barras dos tribunais mais de quatro centenas de mafiosos numa “única fornada” e aplicou penas duríssimas aos “capos” sicilianos, indiferente àquilo que eles prometeram fazer para se vingar.

Embora tardiamente, o governo de Virgílio Barco anunciou, ontem, uma nova ofensiva contra os traficantes, buscando atingi-los naquilo que lhes causa maior medo: nos seus bens.

O que todos esperam é que as coisas não fiquem, desta vez, como em tantas outras oportunidades, somente no terreno das boas intenções e da verborragia. Que se aja, e com a máxima dureza, contra este flagelo dos nossos tempos, sem pena e nem contemplações.

Afinal, estes bandidos não têm nenhuma piedade pelos seus semelhantes, ao desgraçarem tantos lares, viciando os jovens e os mantendo escravos pelo resto de suas vidas, condenando-os a uma morte lenta e penosa. Não é sem razão que foram considerados pela Organização dos Estados Americanos e pela ONU como inimigos da humanidade. E contra adversários tão perversos, todas as armas são válidas. Até a extradição.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 7 de janeiro de 1988).


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