Guerra de palavras
Pedro J. Bondaczuk
A Justiça colombiana
claudicou ao conceder um “habeas corpus” a um dos chefes do poderoso “Cartel de
Medellin” (hoje a principal organização mundial no tráfico de drogas), fazendo
com que Jorge Luís Ochoa Vasquez saísse em liberdade da prisão onde, aliás, de
acordo com denúncias da imprensa, gozava de regalias dignas de um hotel de
luxo, desses de cinco estrelas.
Por
causa dessa atitude, estranha para um país que se diz disposto a erradicar de
seu território esse flagelo, esse poder sinistro que cresce à sombra do Estado,
a Colômbia sofreu uma série de retaliações por parte dos Estados Unidos, que
vai afetar seus cidadãos e seu comércio legal.
O
caso tem tudo para provocar uma crise no governo liberal de Virgílio Barco
Vargas, com as duras denúncias que lhe vêm sendo dirigidas pela oposição
conservadora, que deseja a cabeça do ministro da Justiça, Enrique Low Mutra.
Este teria transigido diante do poderio dos chefões do tráfico de cocaína.
É
verdade que os traficantes vêm, há tempos, praticando uma série de crimes
contra magistrados, policiais e jornalistas, visando a atemorizar os que se
lhes opõem. Objetivam, principalmente, evitar que seus dirigentes sejam
extraditados. Sabem o quanto os tribunais norte-americanos são severos com seus
crimes e, por isso, mostram-se dispostos a ir às últimas conseqüências para
evitar as extradições.
O
que não se pode conceber é que os magistrados se deixem intimidar diante das
ameaças. Fazendo o que os traficantes querem, estão sendo injustos com seus
companheiros, que preferiram morrer, para não compactuar com bandidos.
Na
Itália, a justiça aplicou um magnífico golpe numa das organizações criminosas
mais sólidas do mundo, mesmo sofrendo idênticas pressões (ou até mesmo piores
do que as colombianas). Levou às barras dos tribunais mais de quatro centenas
de mafiosos numa “única fornada” e aplicou penas duríssimas aos “capos”
sicilianos, indiferente àquilo que eles prometeram fazer para se vingar.
Embora
tardiamente, o governo de Virgílio Barco anunciou, ontem, uma nova ofensiva
contra os traficantes, buscando atingi-los naquilo que lhes causa maior medo:
nos seus bens.
O
que todos esperam é que as coisas não fiquem, desta vez, como em tantas outras
oportunidades, somente no terreno das boas intenções e da verborragia. Que se
aja, e com a máxima dureza, contra este flagelo dos nossos tempos, sem pena e
nem contemplações.
Afinal,
estes bandidos não têm nenhuma piedade pelos seus semelhantes, ao desgraçarem
tantos lares, viciando os jovens e os mantendo escravos pelo resto de suas
vidas, condenando-os a uma morte lenta e penosa. Não é sem razão que foram
considerados pela Organização dos Estados Americanos e pela ONU como inimigos
da humanidade. E contra adversários tão perversos, todas as armas são válidas.
Até a extradição.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 7 de janeiro de
1988).
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