Wednesday, October 30, 2013

Silviano galga o panteão dos notáveis

Pedro J. Bondaczuk

A Academia Brasileira de Letras acaba de divulgar o nome do ganhador do Prêmio Machado de Assis de 2013. Trata-se de Silviano Santiago que, em setembro, completou 77 anos de idade e que assim se junta a uma espécie de panteão de notáveis de nossas letras. Concluo, pois, que é meu contemporâneo, pois é apenas sete anos mais velho do que eu. É, portanto, da minha geração. Certamente o amante da leitura e, por conseguinte, o leitor deste espaço, conhece quem é este eminente literato. Todavia, como o horizonte literário nacional é amplo, tem alguns milhares de escritores, e o mundial é muitíssimo  mais, já que conta com alguns milhões de integrantes, pode ser que muitos não saibam de quem se trata.

Quanto ao prêmio e à sua importância, ambos são sobejamente conhecidos. Ainda assim, suscitam algumas considerações. Vamos ao que interessa e no meu estilo, digamos, didático, apropriado aos que estão começando a se familiarizar com o mundo das letras. Silviano Santiago é mineiro, natural da cidade de Formiga, onde nasceu em 29 de setembro de 1936. Essa localidade me é bastante familiar. Já estive lá e fiquei muito bem impressionado com a cordialidade, o calor humano e a simpatia de seus moradores. Em meus tempos de estudante, tive dois companheiros de república – aliás, irmãos, o José Cassiano e o Jarbas – que eram dali. Um dos mais famosos jogadores (e posteriormente técnico de futebol) do Santos e do Palmeiras fez carreira e ficou nacionalmente conhecido pela imprensa e pela torcida com o nome dessa cidade. Refiro-me ao craque Formiga, que jogou naquele famoso esquadrão santista liderado pelo inigualável Pelé (que Pepe jura que se trata de um ET).

Bem, este não é o ponto relevante destas descompromissadas considerações. É apenas ligeiro parêntese, a título de ilustração, para quebrar o gelo. O personagem a ser enfocado é, claro, Silviano Santiago, que é desses intelectuais que costumo denominar de “homens dos sete instrumentos”. Afinal, além de escritor (ensaísta, poeta, contista e romancista), é professor, tendo feito brilhante carreira no magistério tanto no Brasil, quanto no Exterior. Lecionou, por exemplo, nas universidades do Novo México, de Rutgers, Toronto, Nova York Buffalo e Indiana. Como se vê, tem currículo invejável na área. Isso sem falar de sua atuação em importantes instituições de ensino superior brasileiras, como a PUC do Rio de Janeiro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Todavia, Silviano acaba de ser premiado não em decorrência de sua magnífica atuação na cátedra, embora, certamente, esta tenha lhe dado o que considero essencial em qualquer profissão e, portanto, na de escritor: experiência. Mas ele está sendo agraciado é pelo seu talento, por criatividade, pela correção e atratividade do seu texto e por todas as características desejáveis em um homem de letras. Asseguro,  aos que não o conhecem e nunca tiveram o privilégio de ler nada do que escreveu: o cara é muito bom!!!

O Prêmio Machado de Assis, instituído em 1941 pela Academia Brasileira de Letras, é conferido anualmente não em decorrência de algum livro específico, mas levando em conta o conjunto da obra do premiado. É, por conseqüência, um dos mais importantes e cobiçados pelos que fazem literatura (óbvio, a de boa qualidade). Já foi outorgado a “pesos pesados” das letras nacionais, como Afonso Schmidt, Érico Veríssimo, Dinah Silveira de Queiroz, Luiz da Câmara Cascudo, Rachel de Queiroz, João Guimarães Rosa, Gilberto Freyre, Cecília Meirelles, Raul Bopp, Mário Quintana, Paulo Ronai, Henriqueta Lisboa, Sábato Magaldi, Maria Clara Machado, Antonio Cândido, Carlos Heitor Cony, Joel Silveira, Fernando Sabino, Wilson Martins, Ferreira Gullar, Autran Dourado e Dalton Trevisan, entre outros.

Cá para nós, quem não gostaria de estar em tão ilustres companhias? Não citei todos os premiados não por considerar suas obras menos relevantes do que as dos que mencionei nominalmente (longe disso), mas por estrita falta de espaço. Citei-os aleatoriamente, sem me deter em seus respectivos currículos. Para se habilitarem ao prêmio, todos, sem exceção, produziram obras magníficas que engrandeceram e honraram a literatura brasileira. O “Prêmio Machado de Assis” deixou de ser atribuído, de 1941 para cá, apenas em quatro ocasiões: 1944, 1947, 1949 e 1960. Desconheço o motivo, mas suponho que nessas oportunidades não houve consenso entre os jurados.

E o que levou a Academia Brasileira de Letras a optar por Silviano Santiago neste ano, para integrar esse seletíssimo rol de notáveis? O conjunto de sua obra literária, óbvio. Do primeiro livro que publicou – “Quatro poetas”, em 1960, em co-autoria com três outros escritores – ao mais recente  - “Anônimos”, contos, em 2010 – acumulou bibliografia de 28 volumes com padrão de qualidade dos mais invejáveis e consistentes. Quem nunca o leu, leia-o, e urgentemente. É um escritor muito bom, reitero.  Posso atestar isso sem receio (como se o atestado da ABL não valesse bilhões de vezes mais do que minha canhestra recomendação!!!).


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