Golpe
anunciado
Pedro J. Bondaczuk
O governo da presidenta filipina, Corazón Aquino,
está enfrentando a sua quinta batalha, em apenas 18 meses que foi instituído,
contra grupos militares golpistas, saudosos dos tempos da ditadura de Ferdinand
Marcos. Como nas quatro oportunidades anteriores, a rebelião foi sufocada
graças à intervenção firme e enérgica do comandante-em-chefe das Forças Armadas
desse país, general Fidel Ramos.
Desta feita, no entanto, a tentativa de golpe de
Estado foi mais sangrenta do que as outras, com inúmeros civis mortos e
feridos. Entre as vítimas fatais, estão dois heróicos profissionais de
imprensa, mais especificamente, dois fotógrafos, que não vacilaram em arriscar
suas vidas para registrar, com suas câmeras, um acontecimento jornalístico,
como manda a sua profissão.
O motim desta madrugada não chega a se constituir em
novidade, já que desde julho passado, inúmeras denúncias circularam acerca de
um complô tramado pelo ex-ditador Ferdinand Marcos, para retornar ao poder, de
onde foi deposto pela vontade esmagadora de 54 milhões de filipinos.
Chegou-se a dizer, inclusive, que o verdugo da
população desse arquipélago asiático, o mesmo que raspou os cofres nacionais e
endividou o país até o pescoço em proveito próprio, estava mantendo frenéticos
contatos com vendedores internacionais de armas, visando retornar ao Palácio de
Malacanang ao estilo caudilhesco que, certamente, tanto aprecia: a poder de
balas.
Na oportunidade, o caudilho da Ásia, que depois de
cometer crimes e irregularidades da pior espécie, goza de um agradável ócio na
acolhedora Honolulu, no Hawaí, foi advertido pelo serviço de emigração
norte-americano. E tudo ficou apenas nisso, mesmo existindo provas conclusivas
contra ele, inclusive o testemunho de um comerciante de armamentos, para
atestar a movimentação do velho ditador.
O que o observador estranha é esta ambigüidade da
Casa Branca. Afinal, o governo Reagan deseja ou não a redemocratização
filipina? Se a resposta for positiva, então Ferdinand Marcos não pode permanecer
onde está. Afinal, já tentou cinco golpes e, numa dessas, uma hora acaba tendo
sucesso. Se isso acontecer, Deus que tenha piedade dos filipinos!
Deixá-lo tão próximo do seu país é o mesmo que
colocar uma raposa para tomar conta de um galinheiro. O resultado não é nada
difícil de se adivinhar, não é mesmo?
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 28 de agosto de 1987)
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