Ortega agora é "bom
menino"
Pedro J. Bondaczuk
A
Nicarágua, após cinco anos de sufoco, em virtude do boicote econômico
determinado pelo ex-presidente norte-americano, Ronald Reagan, em 1º de maio de
1985, vai poder respirar, doravante. Espera-se que sua população tenha agora um
certo alívio. É que George Bush decidiu, ontem, pôr fim ao embargo aos
nicaragüenses e, de quebra, está solicitando ao Congresso dos Estados Unidos
uma injeção financeira de US$ 300 milhões, para recompor a economia desse pobre
e violento país da América Central. Deixando qualquer espécie de preconceito
ideológico de lado, é indispensável que sejam reconhecidos os méritos de um
político controvertido, atacado e pressionado por todos os lados nos últimos
anos, e que demonstrou que o seu apregoado interesse pela pátria não era
somente retórico, mas autêntico. Trata-se do presidente atual, o sandinista
Daniel Ortega.
Governar
uma nação pobre da América Central, sem boicote econômico, já é uma façanha
considerável. Imaginem, então, o que significa esse exercício enfrentando um
embargo comercial dos Estados Unidos, principais clientes do açúcar, dos
calçados e dos têxteis nicaragüenses. E ainda de quebra, tendo contra si um
grupo guerrilheiro montado, treinado e financiado pela maior potência do
Planeta. Em diversas ocasiões, os analistas políticos internacionais previram
uma invasão militar à Nicarágua (e não ao Panamá, como acabou
surpreendentemente acontecendo).
Para
evitar um episódio desse tipo, com mais derramamento de sangue do que o
produzido pela prolongada guerra civil que assolava esse país, foi mobilizada a
diplomacia latino-americana. Primeiro, formou-se o Grupo de Contadora, cujo
objetivo básico era obter a paz negociada na América Central. Posteriormente,
criou-se um outro organismo informal, o "Grupo de Apoio", que acabou
se fundindo com o primeiro para constituir o "Grupo dos Oito" (nos
últimos tempos reduzido a sete integrantes, com a exclusão dos panamenhos).
Tais entidades, não se pode negar, tiveram o seu papel positivo. No entanto, o
equilíbrio e a firmeza de Ortega contaram muito.
Agora
que o presidente sandinista está prestes a entregar o poder, até o seu
arquiinimigo, o governo norte-americano, se desmancha em elogios a ele. Afinal,
ele prometeu eleições livres e limpas em seu país, e cumpriu. Talvez nenhum
pleito, em toda a história moderna, em qualquer lugar que se pense, tenha sido
mais fiscalizado do que este. E não se levantou a mínima acusação, a mais leve
suspeita de fraude. Ortega, como se sabe, perdeu nas urnas. Mas não "virou
a mesa", como muitos esperavam. Comprometeu-se a entregar o poder à sua
sucessora, Violeta Chamorro, em 25 de abril próximo, como manda a Constituição.
Será que não houve um erro de avaliação, por parte da Casa Branca, acerca desse
homem? Se a resposta for positiva, quanto sangue, dor e sofrimento essa falha
não custou!
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 14 de março de
1990)
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