Falta
de líderes
Pedro J. Bondaczuk
O
mundo provavelmente comemorará, em maio de 2015, os 70 anos do fim da Segunda
Guerra Mundial, responsável pela morte estimada de 50 milhões de pessoas e por
uma destruição como jamais se viu antes e nem depois desse trágico momento da
História. Em 1945, quando a Alemanha nazista finalmente se rendeu, as opiniões
generalizadas eram as de que nada sequer remotamente parecido voltaria a
acontecer. Dizia-se que a humanidade havia aprendido a lição e que jamais
voltaria a recorrer às armas, pelo menos naquelas proporções, para resolver
pendências, territoriais, étnicas, econômicas, de hegemonia regional
etc.etc.etc.
Será
que não? Ao término da Primeira Guerra Mundial as opiniões haviam sido iguais.
E todos viram no que deu. Bastaram, apenas, 21 anos, quando as feridas da que
foi considerada na ocasião como a “guerra destinada a acabar com todas as
guerras” ainda nem estavam cicatrizadas, para que os homens voltassem a
recorrer ao mesmíssimo expediente, e bastante ampliado em relação ao conflito
anterior, e promover chacina e destruição de proporções absurdas.
A
realidade contemporânea mostra que a humanidade não aprendeu nada com estas
duas tragédias. Por isso, repete os mesmos erros que a conduziram aos citados
conflitos. Voltou-se, por exemplo, a tentar-se promover “limpezas étnicas”, em
várias partes do mundo, termo por si só hediondo por aquilo que significa,
provando que o bárbaro e absurdo Holocausto, que eliminou, em série, numa
insana indústria da morte, pelo menos seis milhões de judeus, sem falar nos
ciganos, russos ou deficientes que não pertenciam a nenhum desses povos, muitos
dos quais próprios alemães, exterminados sem chance de defesa, não deixou
nenhuma lição.
Causam
arrepios acontecimentos, por exemplo, como o atentado de 11 de setembro de
2001, nos edifícios gêmeos do World Trade Center, totalmente demolidos pela
ação simultaneamente suicida e homicida de fanáticos enlouquecidos. Foi o pior
ato terrorista do pós-guerra, mas não o único. É possível de se catalogar por
volta de um milhar de atentados, variando o número de vítimas e dos estragos
materiais causados, mas todos com motivação mais ou menos parecida.
Não
menos chocante, por exemplo, foi o ataque com gás sarim, no metrô de Tóquio,
que causou 12 mortes (poderia ter causado milhares) e deixou mais de 5.500
passageiros intoxicados, ação atribuída a uma seita de fanáticos, a Verdade
Suprema de Aum, liderada por um guru paranóico, Shoko Asahara. Violência,
intolerância étnica, política e religiosa e injustiça social são as
características do século passado e da primeira década deste.
Conflitos,
passeatas, greves, manifestações (como as que ocorrem atualmente Brasil afora e
que não se sabe quando e como irão acabar e no que vão resultar) e repressão: é
a dura rotina de um mundo que assiste possivelmente ao final de uma época, de
um perigoso período de transição e o início de outra. O que virá, de tudo isso,
ninguém tem condições de sequer imaginar. Para que se tenha uma idéia, as
pequenas guerras têm sido tantas, e em tão variadas partes do mundo, que não há
espaço nos noticiários para noticiar todas.
Aliás, se consultarmos a História,
concluiremos que são comportamentos que sempre acompanharam os homens e as
nações que eles integram ao longo dos tempos. A situação atual, no entanto, é
mais perigosa por uma série de razões. Um desses motivos é a simples existência
de armas que podem destruir em minutos dezenas de planetas do porte do nosso,
extinguindo todas as formas de vida que nele habitam. O fim da Guerra Fria, que
mantinha o mundo permanentemente na corda-bamba, diante da possibilidade de uma
guerra nuclear entre as superpotências, trouxe inegável alívio para a
humanidade. No entanto, ao contrário do que pode parecer, a situação agora é
muito mais perigosa do que antes da extinção da União Soviética.
Informe
do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Londres,
divulgado em abril de 1995, revelou que havia um vazio de poder mundial.
Entendo que essa situação ainda persista, se é que não tenha se agravado. O
mundo carecia de líderes, de acordo com o citado relatório. Esse panorama,
porém, não se alterou para melhor Aliás, podemos contar os líderes
remanescentes, os estadistas, os homens capazes de mudar os rumos da História,
aqueles de grande projeção internacional, nos dedos, talvez, de uma única das
mãos.
As
Nações Unidas mostram-se impotentes para arbitrar e solucionar os inúmeros
conflitos que se multiplicam. Não solucionou, por exemplo, para citar apenas os
mais recentes, os confrontos do Egito, da Líbia, da Síria (que segue sangrento
e indefinido), da Turquia e vai por aí afora. Aliás, não solucionou nenhum em
seus 68 anos de existência. Não passa de simples fórum de inócuos e meramente
retóricos debates, embora em termos sociais tenha sua importância graças a
alguns de seus órgãos, como o Unicef, a Unesco, a FAO, a OIT e a Organização
Mundial de Saúde.
Enquanto
o mundo se mostra carente de lideranças, o crime organizado, em todas as suas
formas, principalmente o narcotráfico, o fanatismo religioso, o nacionalismo
extremado (provavelmente oportunista e aventureiro) e o racismo seguem fazendo
estragos. As comemorações do fim da Segunda Guerra Mundial serão, portanto, uma
oportunidade para que as pessoas com capacidade de decisão reflitam sobre os
rumos que estamos tomando, para evitar uma terceira e última conflagração que,
com toda a certeza, pulverizaria o Planeta.
Como Adolf Hitler surgiu do
ostracismo, numa época de vazio de lideranças como agora, há o perigo de neste
preciso instante estarem se desenvolvendo, nas provetas do ódio e da
intolerância, como monstruosos embriões, um, dois, dez ditadores homicidas como
ele. Um único já bastaria para selar nosso destino. Deus que nos livre deste
perigo mais real do que ousamos admitir. Afinal, como a experiência já
demonstrou fartamente, o axioma que diz que “o poder não admite vácuos” não é
somente bombástica frase de efeito. Pensem nisto.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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