Indícios
apontam para Khadafy
Pedro J. Bondaczuk
As investigações para apurar a autoria da colocação
de minas no Golfo de Suez e no Mar Vermelho apontam na direção da Líbia, do
coronel Muammar Khadafy. Aliás, quando os líbios desaparecem, temporariamente,
do noticiário, os editores internacionais dos jornais e os comentaristas
políticos ficam, em geral, de sobreaviso. Isso porque, desde o dia 1° de
setembro de 1969, quando o coronel Busheir liderou um golpe de Estado contra o
rei Idriss as-Sanusi e assumiu o poder, atos terroristas, envolvendo o regime
de Trípoli, vêm se sucedendo em diversas partes.
Os brasileiros ainda estão lembrados do incidente
ocorrido no ano passado, com aviões desse país, que sobrevoaram os nossos céus
carregados de armamentos e de explosivos destinados à Nicarágua, quando seu
governo alegava que a carga transportada era de medicamentos.
Os egípcios ainda suspeitam, até hoje, que o
atentado ocorrido em 1981, que vitimou o ex-presidente Anwar el-Sadat, teve
inspiração Líbia. E, mais recentemente, em abril deste ano, todos se lembram do
caso ocorrido na embaixada da Líbia, em Londres, quando homens armados atiraram
da janela daquela legação diplomática contra manifestantes anti-Khadafy,
causando a morte da policial inglesa, Yvonne Fletcher. O incidente, inclusive,
levou o governo britânico a romper relações diplomáticas com Trípoli.
Dois fatos, a respeito do noticiário sobre a
sabotagem do Canal de Suez e do Mar Vermelho, nos chamaram, em particular, a
atenção. O primeiro foi uma denúncia, feita sábado, por um parlamentar
italiano, segundo a qual uma fábrica da Itália teria vendido à Líbia,
recentemente, grande quantidade de minas. A segunda, é o estranho comportamento
da tripulação do cargueiro líbio “Ghada”, que levou o dobro do tempo necessário
para atravessar o Suez e, o que é pior, poucos dias antes que a primeira das 18
minas explodisse e avariasse um navio de carga soviético.
O detalhe mais revelador, embora não conclusivo, é
que o barco suspeito transportava diversos especialistas em explosivos
submarinos. E se for apurada, realmente, a responsabilidade de Khadafy no
incidente, o que acontecerá? Alguma providência será tomada para evitar a
repetição de fatos dessa natureza?
Porque, afinal, casos como este, imputados a países
errados, inocentes, podem causar conflitos de proporções incontroláveis. E
especialmente no momento atual, quando o clima de tensão e de desconfiança
atinge proporções raramente alcançadas desde o final da Segunda Guerra Mundial.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 22 de agosto de 1984)
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