Mera substituição de tabus
Pedro J. Bondaczuk
A
rápida (diríamos vertiginosa) alteração dos costumes que se verifica desde fins
da década de 60, no mundo, vem se constituindo, entre outras, numa magnífica
fonte de angústias para o homem moderno. Não que o comportamento seja algo
acabado, que deva permanecer estático, como se fora uma estátua de mármore ou
monumento de pedra-sabão.
Ocorre
que se tem confundido, amiúde, evolução dos costumes com permissividade. Muitos
têm aderido a tais modismos não porque tenham convicção de que aquilo que se
está instalando de novo (ou dito novo, pois nesse aspecto, o homem vem se
repetindo ao longo do tempo) seja bom, desejável e sadio. Aderem por uma
questão de estarem na moda, "in", "por dentro" de uma
situação.
Um
dos equívocos que se têm praticado atinge diretamente o sentimento mais
indefinido e mais apregoado do ser humano: o amor. Aliás, o que se tem feito é
substituir um engano por outro. Até pouco tempo, julgava-se que amar alguém era
promover a sua sublimação. Que o sexo "conspurcava" a sua pureza.
Dava-se a entender que apenas seres iluminados, verdadeiros querubins, fossem
capazes de ter e demonstrar essa virtude. Nada mais piegas e enganador. Afinal,
esse vínculo entre um homem e uma mulher tem, "também", um componente
animal e sumamente saudável.
Hoje,
no entanto, subverteu-se tudo. Reduziu-se o amor a mero sexo. Ou seja, fez-se
de uma de suas manifestações, (e não a única), a razão principal do convívio
entre dois seres humanos. Ora, é perfeitamente possível um homem e uma mulher
sentirem atração física um pelo outro sem que se amem.
Isto
acontece todos os dias, todas as horas e em todos os lugares. A recíproca, por
outro lado, não é verdadeira. Isso porque o sexo é uma "manifestação"
do amor, embora não seja o próprio. Este sentimento é muito mais amplo, mais
profundo, envolve muitos componentes mais do que se possa imaginar.
Ao
operarem com tal equívoco, as pessoas, hoje em dia, quando uma relação não dá
certo, sabem, obviamente, que algo inadequado ocorreu, mas não conseguem atinar
o quê tenha sido. E aí vêm as cenas passionais, que muitas vezes desembocam em
crimes bárbaros, em suicídios ou em processos de auto-anulação (que são piores
por implicarem na matança deliberada da própria personalidade).
Acompanhando
tudo isso, instalam-se a angústia, o desencanto, a perda do interesse pela
vida. Na maioria dos casos, esse processo, embora deixe seqüelas, é
transitório. Mas em muitos, não é. E as pessoas que passam por esta amarga
experiência acabam, por suas próprias mãos, por falta de seguirem a própria
cabeça e não se deixarem levar pela moda, por ausência de sinceridade consigo
mesmas, deixando de cumprir a principal obrigação de um ser humano: a de ser
feliz!
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 8 de outubro de
1988)
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