Friday, October 25, 2013

Mera substituição de tabus


Pedro J. Bondaczuk



A rápida (diríamos vertiginosa) alteração dos costumes que se verifica desde fins da década de 60, no mundo, vem se constituindo, entre outras, numa magnífica fonte de angústias para o homem moderno. Não que o comportamento seja algo acabado, que deva permanecer estático, como se fora uma estátua de mármore ou monumento de pedra-sabão.

Ocorre que se tem confundido, amiúde, evolução dos costumes com permissividade. Muitos têm aderido a tais modismos não porque tenham convicção de que aquilo que se está instalando de novo (ou dito novo, pois nesse aspecto, o homem vem se repetindo ao longo do tempo) seja bom, desejável e sadio. Aderem por uma questão de estarem na moda, "in", "por dentro" de uma situação.

Um dos equívocos que se têm praticado atinge diretamente o sentimento mais indefinido e mais apregoado do ser humano: o amor. Aliás, o que se tem feito é substituir um engano por outro. Até pouco tempo, julgava-se que amar alguém era promover a sua sublimação. Que o sexo "conspurcava" a sua pureza. Dava-se a entender que apenas seres iluminados, verdadeiros querubins, fossem capazes de ter e demonstrar essa virtude. Nada mais piegas e enganador. Afinal, esse vínculo entre um homem e uma mulher tem, "também", um componente animal e sumamente saudável.

Hoje, no entanto, subverteu-se tudo. Reduziu-se o amor a mero sexo. Ou seja, fez-se de uma de suas manifestações, (e não a única), a razão principal do convívio entre dois seres humanos. Ora, é perfeitamente possível um homem e uma mulher sentirem atração física um pelo outro sem que se amem.

Isto acontece todos os dias, todas as horas e em todos os lugares. A recíproca, por outro lado, não é verdadeira. Isso porque o sexo é uma "manifestação" do amor, embora não seja o próprio. Este sentimento é muito mais amplo, mais profundo, envolve muitos componentes mais do que se possa imaginar.

Ao operarem com tal equívoco, as pessoas, hoje em dia, quando uma relação não dá certo, sabem, obviamente, que algo inadequado ocorreu, mas não conseguem atinar o quê tenha sido. E aí vêm as cenas passionais, que muitas vezes desembocam em crimes bárbaros, em suicídios ou em processos de auto-anulação (que são piores por implicarem na matança deliberada da própria personalidade).

Acompanhando tudo isso, instalam-se a angústia, o desencanto, a perda do interesse pela vida. Na maioria dos casos, esse processo, embora deixe seqüelas, é transitório. Mas em muitos, não é. E as pessoas que passam por esta amarga experiência acabam, por suas próprias mãos, por falta de seguirem a própria cabeça e não se deixarem levar pela moda, por ausência de sinceridade consigo mesmas, deixando de cumprir a principal obrigação de um ser humano: a de ser feliz!

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 8 de outubro de 1988)


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