Revolução sem armas
Pedro
J. Bondaczuk
As transformações políticas e sociais que ocorrem,
atualmente, no Leste europeu, são tão dramáticas, e sobretudo tão velozes, que
é quase certo que venham a ser irreversíveis. Mesmo que venha a ocorrer na
União Soviética alguma dramática reversão de expectativas no andamento da
“glasnost” e de sua irmã gêmea, a “Perestroika”, as mudanças que se verificam,
em especial na Polônia e na Hungria, são de tal sorte, que dificilmente o
Cremlin poderia forçar as populações desses países a aceitar um novo e brusco
fechamento. Um retorno, por exemplo, ao velho esquema do “stalinismo”, de tão
triste memória para o mundo todo.
Quem, por exemplo, no início do
corrente ano, poderia prever que a Polônia iria realizar eleições parlamentares
livres apenas seis meses depois? E o que é mais inacreditável, quem poderia
supor que nesse pleito o outrora banido sindicato independente Solidariedade
iria participar, não somente com seus candidatos, mas sendo o absoluto favorito
para ganhar nas urnas a sua definitiva consagração? Pois isto deve acontecer, a
partir de amanhã.
Mais notável, ainda, porém, foi o
apelo feito, ontem, no encerramento da campanha eleitoral, pelo homem forte da
Polônia, general Wojciech Jaruzelski (o mesmo que há menos de oito anos
decretou a lei marcial no país, colocou a entidade dirigida por Lech Walesa na
ilegalidade e encarcerou este e outros líderes dissidentes) por uma coligação
com seus adversários de ontem.
A história costuma apresentar
algumas situações irônicas. E esta é mais uma delas. O mesmo dirigente que
promoveu um dos mais duros e bruscos fechamentos na vida pública do seu país,
teve que se curvar diante da realidade. Acabou sendo escolhido pelo “destino”
para ser o comandante da mais magnífica abertura que os poloneses assistiram em
40 anos.
Haveria alguma força militar no
mundo capaz de sufocar esse anseio de liberdade que se espraia, com tamanho
entusiasmo, através de toda a Polônia? Mas os ventos liberalizantes não estão
soprando apenas ali.
Quem acompanhou as duas semanas
de debates do novo Congresso do Povo da União Soviética deve ter pensado que os
editores internacionais ficaram loucos com as notícias que divulgaram em suas
páginas, tão inverossímeis elas pareceram.
Deputados pedindo redução de
poderes ao todo poderoso líder do Cremlin, Mikhail Gorbachev. Exigindo punição
pasa médicos que mandaram internar dissidentes em manicômios. Contestando o
poderio da KGB, considerado exagerado. E até formando uma comissão para
investigar as circunstâncias em que as três Repúblicas bálticas foram anexadas
à União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. É ou não é uma nova
revolução, numa parte expressiva do mundo, sem armas e sem barricadas?
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 3
de junho de 1989).
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