Tuesday, October 22, 2013

Revolução sem armas


Pedro J. Bondaczuk


As transformações políticas e sociais que ocorrem, atualmente, no Leste europeu, são tão dramáticas, e sobretudo tão velozes, que é quase certo que venham a ser irreversíveis. Mesmo que venha a ocorrer na União Soviética alguma dramática reversão de expectativas no andamento da “glasnost” e de sua irmã gêmea, a “Perestroika”, as mudanças que se verificam, em especial na Polônia e na Hungria, são de tal sorte, que dificilmente o Cremlin poderia forçar as populações desses países a aceitar um novo e brusco fechamento. Um retorno, por exemplo, ao velho esquema do “stalinismo”, de tão triste memória para o mundo todo.

Quem, por exemplo, no início do corrente ano, poderia prever que a Polônia iria realizar eleições parlamentares livres apenas seis meses depois? E o que é mais inacreditável, quem poderia supor que nesse pleito o outrora banido sindicato independente Solidariedade iria participar, não somente com seus candidatos, mas sendo o absoluto favorito para ganhar nas urnas a sua definitiva consagração? Pois isto deve acontecer, a partir de amanhã.

Mais notável, ainda, porém, foi o apelo feito, ontem, no encerramento da campanha eleitoral, pelo homem forte da Polônia, general Wojciech Jaruzelski (o mesmo que há menos de oito anos decretou a lei marcial no país, colocou a entidade dirigida por Lech Walesa na ilegalidade e encarcerou este e outros líderes dissidentes) por uma coligação com seus adversários de ontem.

A história costuma apresentar algumas situações irônicas. E esta é mais uma delas. O mesmo dirigente que promoveu um dos mais duros e bruscos fechamentos na vida pública do seu país, teve que se curvar diante da realidade. Acabou sendo escolhido pelo “destino” para ser o comandante da mais magnífica abertura que os poloneses assistiram em 40 anos.

Haveria alguma força militar no mundo capaz de sufocar esse anseio de liberdade que se espraia, com tamanho entusiasmo, através de toda a Polônia? Mas os ventos liberalizantes não estão soprando apenas ali.

Quem acompanhou as duas semanas de debates do novo Congresso do Povo da União Soviética deve ter pensado que os editores internacionais ficaram loucos com as notícias que divulgaram em suas páginas, tão inverossímeis elas pareceram.

Deputados pedindo redução de poderes ao todo poderoso líder do Cremlin, Mikhail Gorbachev. Exigindo punição pasa médicos que mandaram internar dissidentes em manicômios. Contestando o poderio da KGB, considerado exagerado. E até formando uma comissão para investigar as circunstâncias em que as três Repúblicas bálticas foram anexadas à União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. É ou não é uma nova revolução, numa parte expressiva do mundo, sem armas e sem barricadas?

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 3 de junho de 1989).


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