Perfil de um fora de
série
Pedro
J. Bondaczuk
O escritor Jorge Amado
– que morreu em 6 de agosto de 2001 e cujo centenário de nascimento foi
comemorado em 10 de agosto de 2012 – é dos tais que dispensam apresentações. É
do restritíssimo grupo de homens de letras que classifico (a título de elogio,
claro) de “monstros sagrados”. Tempos atrás, o polêmico apresentador de TV
Flávio Cavalcanti popularizou expressão para caracterizar fenômenos em suas
respectivas atividades: “fora de série”. Poucos mereceram e merecem tanto essa
designação quanto Jorge Amado. É unanimidade entre leitores e, não apenas entre
eles, mas também entre os apreciadores de novelas de televisão e de filmes do
cinema brasileiro. Até Hollywood entrou na onda e trouxe para as telas versão do
seu romance “Dona Flor e seus dois maridos” (na visão dos produtores
norte-americanos, claro).
Em termos de TV, não há
nenhum outro escritor brasileiro que sequer se aproxime dele quando se
consideram livros adaptados para a telinha. E não apenas para novelas, mas
também para alguns Casos Especiais da Rede Globo, dos quais me lembro,
especificamente, de “Quincas Berro D’água”, mas que não foi o único. Jorge
Amado foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 6 de abril de 1961 (só
poderia ser!), tendo ocupado a cadeira de número 23, cujo patrono é José de
Alencar. Foi agraciado com mais de vinte prêmios literários, entre
internacionais e nacionais, embora não tenha conquistado o maior deles, o Nobel
de Literatura e nem sei se sua candidatura chegou a ser lançada algum dia.
Desconfio que não. Mas... os jurados suecos encarregados da atribuição dessa
premiação têm um critério de escolha (se é que têm algum), que considero
incompreensível, para não dizer outra coisa que seja até impublicável. Deixa
pra lá!
Até o advento de Paulo
Coelho, Jorge Amado foi, disparado, o autor brasileiro que mais livros vendeu
em todo o mundo. Se considerarmos apenas o gênero em que atuou, ou seja, o
romance, todavia, ainda é nosso grande recordista. Sua obra foi publicada em 55
países e jamais encalhou nas prateleiras das livrarias ou teve críticas
negativas em qualquer desses lugares. É, pois (porquanto seus livros continuam
sendo publicados em diversas partes e vendendo “a rodo”) unanimidade não
somente nacional, mas, sobretudo, internacional. Considero-o uma espécie de
Charles Dickens brasileiro – e não me refiro a estilo ou à temática abordada –
no que diz respeito à popularidade. A meu ver, nesse aspecto, ambos se igualam,
embora muitos considerem exagero de minha parte. Não estou exagerando
coisíssima nenhuma!
Jorge Amado teve sua
obra, traduzida para praticamente todos os idiomas importantes falados no
Planeta – especificamente, para 48 deles – e duvido que algum dia outro
escritor brasileiro consiga, já não digo superá-lo nesse quesito, mas sequer se
aproximar dele. Apenas por curiosidade, enumero quais foram essas línguas (e
espero não omitir nenhuma, tantas que elas são): albanês, alemão, árabe,
armênio, azeri, búlgaro, catalão, chinês, coreano, croata, dinamarquês, eslovaco,
esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês, galego,
georgiano, grego, guarani, hebraico, holandês, húngaro, iidiche, inglês,
islandês, italiano, japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol,
norueguês, persa, polonês, romeno, russo, sérvio, sueco,tailandês, tcheco,
turco, turcomano, ucraniano e vietnamita. Ufa!!! E o que isso quer dizer? Quer
dizer que em qualquer lugar do mundo em que você for, encontrará algum livro de
Jorge Amado e publicado na língua local.
No que se refere a vendas, reitero, esse
escritor criativo está entre os vinte best-sellers mundiais de todos os tempos.
É pouco? Claro que não! Espera lá, vocês já imaginaram quantos escritores há no
mundo? E sequer me refiro aos tantos e tantos e tantos que já faleceram, mas
somente aos que permanecem em plena atividade, publicando livros anualmente.
Esse número, impossível de quantificar – sequer com escassíssima aproximação –
ascende, não duvidem, a alguns milhões. E são milhões mesmo!!! Situar-ser,
pois, entre os vinte mais vendidos não é façanha para qualquer um. É
equivalente, guardadas as devidas proporções, a uma ida ao inóspito e distante
planeta Marte, com a respectiva volta, e são e salvo.
Há tantas coisas a
serem ditas sobre Jorge Amado que me vejo forçado a deixar para outro dia o
tema que escolhi para estas descompromissadas reflexões de hoje. Apenas a
introdução do assunto – um mega “nariz de cera”, maior do que o do Pinocchio
quando contava alguma mentira – consumiu todo o espaço que havia reservado para
a abordagem. Para não deixar o paciente leitor no ar, todavia, adianto que
pretendia tratar da releitura de um dos romances mais instigantes do escritor
baiano, concluído em 1979, que acabo de fazer, que é “Farda, fardão, camisola
de dormir”. Mas, parodiando o chavão de encerramento de famoso programa da TV
Tupi de São Paulo, a cargo do apresentador Júlio Gouveia, dos anos 50 do século
passado, “esta é outra história que fica para outra vez”.
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