Árabes
e judeus rearmam-se
Pedro J. Bondaczuk
O
fim da guerra do Golfo Pérsico, com a derrota iraquiana que acabou sendo apenas
parcial, estabeleceu um perigoso paradoxo político. Nunca ficou tão clara para
todos a necessidade de um "breque" na corrida armamentista no Oriente
Médio quanto nessa ocasião. Todavia, findo o conflito, o que se nota, a
despeito de louváveis manifestações públicas de boas intenções e até de um
plano do presidente norte-americano George Bush para livrar a região de armas
de destruição em massa, é os países dessa explosiva zona se armando mais e
mais, como que se preparando para uma nova e provável conflagração.
Tão
logo a Casa Branca anunciou um cessar-fogo com o Iraque, em 28 de fevereiro,
circularam notícias de que um grande carregamento de mísseis Scud C, uma versão
melhorada dos Scud B iraquianos, fabricada na Coréia do Norte, foi descarregada
no porto sírio de Latakia.
Tais
foguetes contam com maior precisão e seu raio de abrangência permite atingir
qualquer cidade importante do Oriente Médio. O secretário de Estado dos Estados
Unidos, James Baker, fez quatro desgastantes peregrinações políticas pela área,
na tentativa de aproveitar o momento psicológico adequado, um instante de
raríssima cooperação, que foi o da vitória aliada sobre as tropas de Saddam
Hussein, para ao menos esboçar uma conferência regional de paz que colocasse
árabes e israelenses ao redor de uma mesma mesa discutindo civilizadamente suas
controvérsias.
Não
teve êxito. Ou, pelo menos, seu sucesso foi apenas parcial. Enquanto isso, as
notícias provenientes da região são as mais inquietadoras possíveis.
Os
Estados Unidos, por exemplo, asseguraram, através do secretário de Defesa,
Richard Cheney, em visita a Jerusalém, o fornecimento de pelo menos dez caças F-15
a Israel, além de um número não especificado de baterias antimísseis Patriot.
A
Turquia, igualmente, anunciou estar adquirindo dez desses sistemas, cuja
eficácia ainda é discutível, já que não conseguiram barrar todos os Scuds B de
Saddam Hussein, mormente contra os territórios judeu e saudita, durante a
guerra do Golfo Pérsico.
A
tudo isso, deve-se acrescentar o fato do Iraque ter saído da confrontação
militar muito mais forte do que seria desejável para o Ocidente. A despeito das
autoridades de Bagdá haverem se comprometido com as Nações Unidas a destruírem
suas armas mais perigosas, como as químicas e biológicas e os balísticos de
médio alcance, é bastante discutível que o façam.
Os
iraquianos continuam sendo ameaças concretas à estabilidade regional e a queda
de seu presidente, ao contrário do que se supõe, não vai tornar esse risco
menor. Além disso, não se descarta a possibilidade, sempre presente, de
ascensão ao poder de algum líder carismático até mais radical do que Saddam,
que já foi encarado pelo Ocidente como "amigo" e como neutralizador
do perigo que o fundamentalismo xiita iraniano representava para as monarquias
conservadoras da zona.
Apesar
de tudo, o mundo tem uma chance, talvez única, de pacificar a região, desde que
todas as partes envolvidas nas controvérsias que dividem há quase meio século o
Oriente Médio estejam dispostas a fazer concessões, em troca da paz.
O
ex-presidente norte-americano, John Kennedy, observou, em certa ocasião, num de
seus discursos: "Escrita em chinês, a palavra 'crise' se compõe de dois
caracteres: um representa perigo e o outro oportunidade". Tomara que a
atual derive para o segundo significado. E, principalmente, que mais esta
chance não venha a ser irresponsavelmente desperdiçada.
Poucas
vezes a possibilidade de uma paz duradoura esteve mais próxima do que agora. É
preciso, todavia, que árabes e israelenses ajam com realismo e cheguem à
conclusão que podem conviver pacificamente com suas diferenças.
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 1 de junho de
1991).
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