Friday, October 11, 2013

Armas nucleares são cogitadas


Pedro J. Bondaczuk


Os 26 dias de combates no Golfo Pérsico demonstraram a loucura do chamado equilíbrio do terror que vigorou, entre as superpotências, durante os 45 anos de Guerra Fria. Hoje, percebe-se claramente que o mundo somente não foi conduzido a um holocausto nuclear nesse período por puro e feliz acaso e não em decorrência do eventual bom funcionamento dessa estratégia, se é que pode ser chamada assim.

Nem se completou ainda o primeiro mês da confrontação entre os aliados e o Iraque, pelo domínio das fontes de petróleo do Oriente Médio, e as vozes favoráveis ao uso de armas atômicas no conflito já se avolumam. Nos primeiros dias de janeiro passado, o presidente George Bush descartou essa hipótese absurda, argumentando sua desnecessidade.

Todavia, nos últimos dias essa possibilidade foi levantada insistentemente em vários círculos para ser mera coincidência. O vice-presidente norte-americano, Dan Quayle, por exemplo, há cerca de 14 dias, deixou tal decisão no ar, após uma reunião com o primeiro-ministro britânico, John Major, em Londres.

Em tom ameaçador, disse, implicitamente, que isso seria feito se o Iraque viesse a utilizar suas armas químicas contra as forças aliadas. Vários parlamentares norte-americanos chegaram a pedir esse uso, argumentando que a bomba acabaria logo com a guerra, evitando que um número alto de soldados fosse morto.

Objetivamente, as armas nucleares foram utilizadas até hoje em apenas duas oportunidades, ambas contra o Japão. Em 6 de agosto de 1945, uma delas arrasou a cidade de Hiroshima e três dias depois, Nagasaki teve o mesmo destino. Em ambas as ocasiões, os artefatos utilizados foram de pequeno porte, comparados com os atuais.

Desde então, tudo o que se sabe sobre os efeitos desse terrível instrumento de morte é o que se observou nos campos de teste. Uma coisa, porém, é realizar uma explosão programada, a 200 metros ou mais de profundidade, com todas as cautelas exigidas e outra é lançar uma bomba desse tipo sobre pessoas desprotegidas. Quem pode garantir, com absoluta e rigorosa segurança, quais seriam os verdadeiros efeitos sobre o mundo de uma estupidez desse tamanho?

Se o simples acidente na usina de Chernobyl espalhou uma nuvem radioativa que deu várias voltas ao mundo e cujas conseqüências a longo prazo ninguém é capaz de dizer com certeza quais serão, o que não poderá acontecer em relação a um ataque nuclear, por mais limitado que seja?

O que as pessoas de bom senso não entendem é como pode haver gente, que ocupa cargos públicos importantes, com tamanha irresponsabilidade a ponto de defender coisas desse tipo!

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 12 de fevereiro de 1991).


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