Armas nucleares são cogitadas
Pedro J. Bondaczuk
Os
26 dias de combates no Golfo Pérsico demonstraram a loucura do chamado
equilíbrio do terror que vigorou, entre as superpotências, durante os 45 anos
de Guerra Fria. Hoje, percebe-se claramente que o mundo somente não foi
conduzido a um holocausto nuclear nesse período por puro e feliz acaso e não em
decorrência do eventual bom funcionamento dessa estratégia, se é que pode ser
chamada assim.
Nem
se completou ainda o primeiro mês da confrontação entre os aliados e o Iraque,
pelo domínio das fontes de petróleo do Oriente Médio, e as vozes favoráveis ao
uso de armas atômicas no conflito já se avolumam. Nos primeiros dias de janeiro
passado, o presidente George Bush descartou essa hipótese absurda, argumentando
sua desnecessidade.
Todavia,
nos últimos dias essa possibilidade foi levantada insistentemente em vários
círculos para ser mera coincidência. O vice-presidente norte-americano, Dan
Quayle, por exemplo, há cerca de 14 dias, deixou tal decisão no ar, após uma
reunião com o primeiro-ministro britânico, John Major, em Londres.
Em
tom ameaçador, disse, implicitamente, que isso seria feito se o Iraque viesse a
utilizar suas armas químicas contra as forças aliadas. Vários parlamentares
norte-americanos chegaram a pedir esse uso, argumentando que a bomba acabaria
logo com a guerra, evitando que um número alto de soldados fosse morto.
Objetivamente,
as armas nucleares foram utilizadas até hoje em apenas duas oportunidades,
ambas contra o Japão. Em 6 de agosto de 1945, uma delas arrasou a cidade de
Hiroshima e três dias depois, Nagasaki teve o mesmo destino. Em ambas as
ocasiões, os artefatos utilizados foram de pequeno porte, comparados com os
atuais.
Desde
então, tudo o que se sabe sobre os efeitos desse terrível instrumento de morte
é o que se observou nos campos de teste. Uma coisa, porém, é realizar uma
explosão programada, a 200 metros ou mais de profundidade, com todas as
cautelas exigidas e outra é lançar uma bomba desse tipo sobre pessoas
desprotegidas. Quem pode garantir, com absoluta e rigorosa segurança, quais
seriam os verdadeiros efeitos sobre o mundo de uma estupidez desse tamanho?
Se
o simples acidente na usina de Chernobyl espalhou uma nuvem radioativa que deu
várias voltas ao mundo e cujas conseqüências a longo prazo ninguém é capaz de
dizer com certeza quais serão, o que não poderá acontecer em relação a um
ataque nuclear, por mais limitado que seja?
O
que as pessoas de bom senso não entendem é como pode haver gente, que ocupa
cargos públicos importantes, com tamanha irresponsabilidade a ponto de defender
coisas desse tipo!
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 12 de fevereiro
de 1991).
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