Saturday, October 05, 2013

Educação e poder


Pedro J. Bondaczuk

O Brasil só tem um, e único, caminho para sair da atual crise e retomar a trilha do desenvolvimento, com justiça social: apostar no homem. O País precisa investir, e muito, na educação, na formação de mão-de-obra qualificada, na produção de cientistas, pesquisadores, geradores de idéias e de invenções.

Esse é o único recurso para os países carentes de capital, mesmo que tenham fartas reservas de matérias-primas. A principal tendência que se desenha para o final deste milênio e início do próximo é a da informação passar a ser mais importante do que qualquer produto. Quem souber gerá-la, armazená-la, elaborá-la e fazer o melhor uso dela, deterá um poder inquestionável.

Por que não fazer do Brasil essa potência geradora de idéias, aproveitando a tão decantada criatividade do brasileiro? Que nosso povo é criativo, não resta muita dúvida. Quem mais conseguiria conviver, por uma década e meia, com taxas inflacionárias exorbitantes, sem que essa transferência de recursos daqueles que pouco têm para os que possuem demais resultasse em uma convulsão social?

A educação precisa, até por uma questão de segurança nacional, ser a prioridade máxima deste país, e não continuar sendo alvo do descaso, da incompetência e do empirismo de tecnocratas. É indispensável tirar os milhões de jovens abandonados das ruas e lhes dar dignidade, com um sentido em suas vidas que não seja o apregoado hoje, o de um hedonismo insensato e vazio e que, ademais, eles jamais terão acesso.

A solução para a marginalidade não está, em absoluto, no incentivo a bandidos disfarçados, que caçam, pelas cidades, os menores largados à própria sorte e os eliminam como animais raivosos. Uma pesquisa feita pela Fundação Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência mostra que, em dois anos e meio, 9.800 meninos e meninas foram vítimas de mortes violentas em todo o País.

Houvesse bom-senso, para não dizer competência e humanidade, o Brasil teria 9.800 cérebros privilegiados a mais, gerando idéias, descobertas, riquezas, ao invés de frios números na estatística da mais estúpida violência. Ou o governo investe maciçamente em escolas, ou não haverá verbas suficientes para construir as penitenciárias que se farão indispensáveis (aliás, já são).

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 13 de dezembro de 1993)


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