Ex-colônias revertem fluxo imigratório
Pedro J. Bondaczuk
O mundo presencia atualmente um fenômeno que ao
longo da história caracterizou as civilizações e que após a Segunda Guerra
Mundial parecia prestes a acabar: as imigrações. Três grandes ilhas de prosperidade,
num imenso oceano de miséria, Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão, atraem
deserdados de toda a sorte, perseguidos políticos, excluídos de seus
respectivos sistemas econômicos, esquecidos sociais, que saem em busca de uma
nova e incerta oportunidade.
O desmoronamento da ex-URSS e da ex-Iugoslávia e as
dificuldades existentes no Leste europeu pós-comunista tendem a acentuar esses
deslocamentos em massa, gerando conflitos, reações legais e outras medidas dos
que não aceitam dividir a prosperidade que gozam com os que não tiveram
competência, ou força, ou sorte ou seja lá o que for para promoverem o
desenvolvimento de suas respectivas sociedades.
Migrações e imigrações na Europa nunca foram algo
novo. Ocorrem desde o tempo dos homens das cavernas. Tribos inteiras
deslocavam-se, então, para locais que melhor atendessem as suas necessidades.
Antes de as pessoas aprenderem a erguer as próprias moradias, o
"eldorado" procurado eram regiões que possuíam grutas em grande
profusão que lhes servissem de abrigo.
Quando o "homo sapiens" (nem tanto)
desconhecia a técnica de produzir fogo, a predileção era pela proximidade dos
vulcões. Quando essas feras semibroncas obtiveram o primeiro lampejo de suas
habilidades e começaram a fabricar armas e ferramentas, a opção passou a ser a
vizinhança das pederneiras. E assim sucessivamente, envolvendo beiras de rios
para irrigação e fertilização do solo, terras férteis para agricultura e amplas
planícies para a criação de animais.
Esse conceito de pátria, de país, de nacionalidade,
fruto de um determinismo biológico – ninguém escolhe onde quer nascer,
evidentemente – não é tão arraigado (e nem poderia ser) o quanto se pensa.
Nações nascem e morrem a todo o instante, pois são projeções, são obras de um
ser efêmero que, por mais que deseje se esquecer dessa realidade, nunca escapa
da morte.
As imigrações são como o fluxo e o refluxo das
marés. A partir de fins do século XV, alguns milhares de europeus partiram para
a conquista de novos mundos – no caso as Américas – ou para a reconquista de
velhíssimos, Ásia e África, em busca não somente de aventura, mas
principalmente para fugir dos cíclicos períodos de fome e de devastadoras
epidemias, em especial de peste negra.
Hoje, em parte pelo menos, o processo se dá ao inverso.
Africanos, asiáticos e latino-americanos formam comunidades cada vez maiores em
continente europeu, especificamente em seu lado ocidental. Os Estados Unidos
constituem-se num caso singular. Representam a única sociedade do
eufemisticamente chamado Novo Mundo que deu certo, e muito além de qualquer
expectativa, a ponto de se tornar o país mais rico, mais influente e mais
poderoso do Planeta.
Por isso, é um grande pólo de atração para povos
cujas instituições e senso de organização se revelaram frágeis, inadequados,
até mesmo inviáveis. A terceira grande ilha de riquezas – no caso um
arquipélago – é o Japão, que soube sair das ruínas de uma guerra para uma
prosperidade quase ilimitada.
A potência asiática, evidentemente, atrai em
especial os desvalidos, os descamisados (o termo está muito em moda), os
despossuídos de toda a Ásia, com destaque para vietnamitas, cambojanos e
laocianos. Ao contrário do fluxo de imigração da Europa para as colônias,
todavia, o refluxo tende a não ser muito pacífico.
No caso europeu, sua cultura era, evidentemente,
mais forte do que a das terras para onde seguiam. A recíproca, agora, não é em
absoluto verdadeira. O destino dos que chegam à parte enriquecida do continente
é o de serem discriminados, explorados, usados para tarefas há cerca de 150
anos destinadas a escravos, quando não simplesmente escorraçados para seus
miseráveis lugares de origem.
(Artigo publicado na página 19, Internacional, do
Correio Popular, em 12 de setembro de 1991)
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