Saturday, October 12, 2013

Perspectivas de eleição sem favoritos


Pedro J. Bondaczuk
  
A corrida eleitoral na Grã-Bretanha foi deflagrada, oficialmente, anteontem, embora desde a semana passada os três grupos com maiores chances de vitória já estejam se movimentando à cata de votos. Como sempre acontece nessas ocasiões, em qualquer eleição que se preze, nesta também não falta uma pontinha de malícia, um toque de escândalo, tão ao gosto do grande público, embora reprovável do ponto de vista ético.

O atingido, nesta oportunidade, foi o líder liberal, David Steele, denunciado por um determinado jornal de manter relações extraconjugais. Repete-se, portanto, na Grã-Bretanha, o mesmo que já aconteceu na presente campanha sucessória norte-americana em relação ao ex-senador democrata pelo Estado do Colorado, Gary Hart, flagrado por jornalistas do “The Miami Herald” numa reunião, em sua casa de Washington, com a bela atriz e modelo, Donna Rice, da Flórida, que durou até a manhã do dia seguinte.

Ba ausência de outro argumento, o ex-parlamentar buscou salvar a paz doméstica. Veio a público, se dizendo furioso, e retirou depressinha sua candidatura, antes que sua reputação viesse a sofrer prejuízos ainda maiores.

No caso britânico, no entanto, o acusado não pretende sair da disputa por causa disso. Como sempre acontece em tais circunstâncias, culpou a imprensa, que no seu entender procura “tornar vil o processo eleitoral”, jurou estar inocente e colocou um ponto final na controvérsia.

Mas o principal tema da campanha britânica não é este. É que provavelmente o país terá uma das eleições mais disputadas dos últimos anos, embora o Partido Conservador, da primeira-ministra Margaret Thatcher, ainda detenha uma certa vantagem nas pesquisas de opinião.

Todavia, as margens de diferença estreitaram-se nas duas últimas semanas. E isto antes que as duas principais agremiações anunciassem seus programas de governo. Na Grã-Bretanha, as eleições não são determinadas pelas personalidades, mas pelas plataformas partidárias.

O renome dos líderes pode ter alguma influência, mas esta costuma ser muito pequena. O que conta, na verdade, para o esclarecido eleitor britânico, é como cada candidato pretende atacar os principais problemas nacionais.

Nas propostas que foram apresentadas ontem, sentimos maior consistência (embora à distância) na plataforma do Partido Trabalhista, de Neil Kinnock, especialmente no que diz respeito à geração de novos empregos.

O desemprego, durante as duas gestões de Thatcher, sempre foi o grande fantasma da população desse país. Ele ainda está em níveis extremamente altos, diríamos até recordistas, embora tenha sido ditado por uma ação profilática indispensável da premier, que não se importou em sacrificar sua popularidade para aplicar um remédio amargo à economia da Grã-Bretanha.

A primeira-ministra desestatizou empresas inchadas, improdutivas e ineficientes. Estas, ao retornarem à iniciativa privada, fizeram dispensas em massa, deixando muita gente sem trabalho. Em contrapartida, Thatcher estabeleceu uma espécie de capitalismo popular.

Ou seja, permitiu que mais pessoas tivessem acesso a ações, a tal ponto que, hoje, um em cada seis cidadãos é detentor de uma participação, por mínima que seja, em alguma companhia. Na hora do voto, isto poderá pesar na balança.

De qualquer forma, Thatcher não dispõe, agora, como nas eleições anteriores, da mobilização patriótica em torno da guerra das Malvinas. Por isso, pode até vir a ser surpreendida pelos trabalhistas na reta final, e perder a corrida do voto, no olho mecânico. Por enquanto, contudo, segue sendo a grande favorita para estabelecer um feito histórico inigualável: o de se tornar a primeira líder partidária a vencer três eleições consecutivas.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 20 de maio de 1987).


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