Perspectivas de eleição sem favoritos
Pedro J.
Bondaczuk
A corrida eleitoral na Grã-Bretanha foi deflagrada,
oficialmente, anteontem, embora desde a semana passada os três grupos com
maiores chances de vitória já estejam se movimentando à cata de votos. Como
sempre acontece nessas ocasiões, em qualquer eleição que se preze, nesta também
não falta uma pontinha de malícia, um toque de escândalo, tão ao gosto do
grande público, embora reprovável do ponto de vista ético.
O atingido, nesta oportunidade,
foi o líder liberal, David Steele, denunciado por um determinado jornal de
manter relações extraconjugais. Repete-se, portanto, na Grã-Bretanha, o mesmo
que já aconteceu na presente campanha sucessória norte-americana em relação ao
ex-senador democrata pelo Estado do Colorado, Gary Hart, flagrado por
jornalistas do “The Miami Herald” numa reunião, em sua casa de Washington, com
a bela atriz e modelo, Donna Rice, da Flórida, que durou até a manhã do dia
seguinte.
Ba ausência de outro argumento, o
ex-parlamentar buscou salvar a paz doméstica. Veio a público, se dizendo
furioso, e retirou depressinha sua candidatura, antes que sua reputação viesse
a sofrer prejuízos ainda maiores.
No caso britânico, no entanto, o
acusado não pretende sair da disputa por causa disso. Como sempre acontece em
tais circunstâncias, culpou a imprensa, que no seu entender procura “tornar vil
o processo eleitoral”, jurou estar inocente e colocou um ponto final na
controvérsia.
Mas o principal tema da campanha
britânica não é este. É que provavelmente o país terá uma das eleições mais
disputadas dos últimos anos, embora o Partido Conservador, da primeira-ministra
Margaret Thatcher, ainda detenha uma certa vantagem nas pesquisas de opinião.
Todavia, as margens de diferença
estreitaram-se nas duas últimas semanas. E isto antes que as duas principais
agremiações anunciassem seus programas de governo. Na Grã-Bretanha, as eleições
não são determinadas pelas personalidades, mas pelas plataformas partidárias.
O renome dos líderes pode ter
alguma influência, mas esta costuma ser muito pequena. O que conta, na verdade,
para o esclarecido eleitor britânico, é como cada candidato pretende atacar os
principais problemas nacionais.
Nas propostas que foram
apresentadas ontem, sentimos maior consistência (embora à distância) na
plataforma do Partido Trabalhista, de Neil Kinnock, especialmente no que diz
respeito à geração de novos empregos.
O desemprego, durante as duas
gestões de Thatcher, sempre foi o grande fantasma da população desse país. Ele
ainda está em níveis extremamente altos, diríamos até recordistas, embora tenha
sido ditado por uma ação profilática indispensável da premier, que não se
importou em sacrificar sua popularidade para aplicar um remédio amargo à
economia da Grã-Bretanha.
A primeira-ministra desestatizou
empresas inchadas, improdutivas e ineficientes. Estas, ao retornarem à
iniciativa privada, fizeram dispensas em massa, deixando muita gente sem
trabalho. Em contrapartida, Thatcher estabeleceu uma espécie de capitalismo
popular.
Ou seja, permitiu que mais
pessoas tivessem acesso a ações, a tal ponto que, hoje, um em cada seis
cidadãos é detentor de uma participação, por mínima que seja, em alguma
companhia. Na hora do voto, isto poderá pesar na balança.
De qualquer forma, Thatcher não
dispõe, agora, como nas eleições anteriores, da mobilização patriótica em torno
da guerra das Malvinas. Por isso, pode até vir a ser surpreendida pelos
trabalhistas na reta final, e perder a corrida do voto, no olho mecânico. Por
enquanto, contudo, segue sendo a grande favorita para estabelecer um feito
histórico inigualável: o de se tornar a primeira líder partidária a vencer três
eleições consecutivas.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 20
de maio de 1987).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk .
No comments:
Post a Comment