Meio de campo irritante
Pedro J. Bondaczuk
A
seleção brasileira venceu com folga os temidos "Leões Indomáveis" de
Camarões que, na prática, se mostraram gatinhos mansos. Em momento algum a
defesa do Brail foi molestada e Taffarel sequer sujou seu uniforme. Teve a
oportunidade de pegar, durante todo o jogo, em chutes contra o gol, uma única
bola, do veterano Roger Milla, que não passou de um reles recuo.
No
mais, não fez nada, o que atesta a solidez do sistema defensivo. "Então a
vitória foi convincente?", perguntaria o leitor. Não! A Seleção revelou
muitas falhas no meio de campo, com nova atuação medíocre de Zinho, um craque
que não conseguiu ainda encontrar o seu espaço nesta Copa, e a recaída de Raí.
O
Brasil está com uma defesa com eficiência absoluta, já que ao lado da Bélgica
foi o único selecionado que não sofreu um único gol. O ataque, embora em
raríssimas oportunidades tenha sido acionado de forma adequada, cumpriu o seu
papel. É o segundo mais efetivo da Copa e perdeu no mínimo 11 chances reais de
marcar em duas partidas, o que atesta que pelo menos criou alguma coisa.
Mas
o meio de campo está irritante. Mostrou-se extremamente lento, dispersivo, com
uma quantidade absurda de passes errados. Continua sendo o setor deficiente da
Seleção, repetindo o que já havia ocorrido durante as Eliminatórias e os
amistosos que antecederam o Mundial.
Merece
menção especial a substituição feita pelo técnico Carlos Alberto Parreira no
segundo tempo da partida contra Camarões. Com o Brasil vencendo o jogo por 3 a
0, com condições de ampliar muito o placar diante de um adversário que jogava
com apenas dez jogadores, exausto, baleado, entregue, nosso treinador coloca em
campo o ciscador e inexpressivo Paulo Sérgio, que nunca mostrou coisa alguma em
toda a sua carreira, incluindo seu desempenho no campeonato alemão, para
justificar ao menos sua convocação.
Como
ninguém também entende a insistência em manter Raí e Zinho como meros
"assistentes de luxo" dos laterais. O meio de campo brasileiro, na
partida contra Camarões, foi tão ruim que o melhor dos quatro jogadores que
atuaram nessa faixa do gramado foi o eterno carregador de piano, Dunga.
Somos
daqueles que entendem que a nossa versão cabocla de Arnold Schwarzennegger
sempre foi um injustiçado por parte da imprensa e da torcida. Trata-se de
alguém muito esforçado, de extrema utilidade na marcação e muita garra. Mas daí
a ser encarado como craque...
(Artigo
publicado na página 2, do caderno "Copa 94" do Correio Popular, em 27
de junho de 1994).
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