Muita retórica, pouca ação
Pedro J. Bondaczuk
A Assembléia Geral das
Nações Unidas, pelo 44º ano consecutivo, iniciou, ontem, seu período de
debates, trazendo à baila, virtualmente, os mesmos temas debatidos em sua
sessão de fundação. Ou quase isto, já que naquele tempo ninguém ouvia falar de
Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, embora outras doenças, que continuam
ceifando milhares de vidas humanas pelo mundo afora, fossem enfocadas.
O
que aconteceu nestas quase quatro décadas e meia do pós-guerra, portanto, não
passou de mera variação em torno dos mesmos temas. É verdade que agora os
discursos dos principais personagens, Estados Unidos e União Soviética, estão
livres do ranço da Guerra Fria, que consumiu tantos esforços e tanto tempo, em
troca de nada.
Há,
pelo menos, a vantagem, neste momento, de se dar uma atenção muito maior a
problemas gravíssimos, praticamente críticos, que se fossem enfocados antes com
o realismo que mereciam talvez já tivessem até sido equacionados, ou pelo menos
não agravados.
Este
é o caso do narcotráfico. Ao contrário do que se pensa, o assunto está muito
longe de ser novo. Ele foi causa, inclusive, de um conflito armado entre a
Grã-Bretanha e a China, que custou aos chineses a perda de Hong Kong. Foi a
chamada “guerra do ópio”.
Durante
muito tempo não se encarou o assunto com a seriedade que ele sempre deveria ter
merecido. O vício chegou mesmo a entrar na “moda”, na década de 1960, numa
atitude insensata e burra de muitos ditos intelectuais, que somente favoreceram
os traficantes, que se fortaleceram e fizeram fortuna às custas de sua
estreiteza de visão. Agora, essa atividade sinistra já chega a ameaçar,
virtualmente, a toda a humanidade.
Aliás,
mesmo o propalado desarmamentismo atual não é algo novo. E ninguém tem a completa
segurança de que seja sincero ou esteja
mesmo em andamento. Há
alguns anos, Erich Fromm, em seu livro “Ter ou Ser?”, observou: “Como é
possível que o mais forte de todos os instintos, o de conservação da
existência, pareça ter deixado de nos motivar? Uma das explicações mais óbvias
é que os dirigentes empreendem muitas atividades que lhes possibilitam dar a
entender que estão fazendo algo eficaz para evitar uma catástrofe:
intermináveis conferências, resoluções, acordos de desarmamento. Tudo isso dá a
impressão de que os problemas estão identificados e que alguma coisa está sendo
feita para solucioná-los. Contudo, nada de real importância acontece; mas tanto
dirigentes como dirigidos anestesiam suas consciências e seu desejo de
sobrevivência dando impressão de conhecer o caminho e andar no sentido certo”.
Algo
mudou, pois, nestes últimos 44 anos? Talvez somente o tom, mas não a
substância.
(Artigo
publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 26 de setembro de
1989).
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