Mais que lembrança, é preciso vigilância
Pedro J. Bondaczuk
O mundo civilizado lembrou, ontem, com muita tristeza e
com uma pontinha de remorso (por não ter conseguido evitar a maior manifestação
de barbárie da espécie humana, o Dia do Holocausto, quando se completaram 40
anos da libertação, por parte das tropas aliadas, dos vários campos de
concentração nazistas.
Nesses matadouros de pessoas,
seis milhões de judeus foram degradados e barbaramente trucidados, para
satisfazer a megalomania de um grupo, que se julgava privilegiado pela
natureza, que o teria feito “superior” às demais raças e que por isso lhe dava
o direito de dispor dos outros povos ao seu bel prazer.
Além de judeus, eslavos, negros, ciganos e indivíduos de diversas outras etnias (até mesmo alemães julgados “impuros”), foram mortos em câmaras de gás e cremados em imensos fornos, para apagarem qualquer vestígio desses hediondos crimes, quando não submetidos a experiências apavorantes, por monstros travestidos de médicos, de cientistas e de pesquisadores.
O Dia do Holocausto não pode,
jamais, ser esquecido por ninguém. Não por um instinto de vingança. Não para
marcar, através dos séculos, um povo inteiro, culto e humano, como o alemão.
Mas para evitar a repetição de episódios de igual natureza, que desgraçadamente
ainda ocorrem e que carecem de uma firme denúncia por quem de direito.
Após os horrores de Dachaau,
Auschwitz, Buchenwald e tantos e tantos outros lugares monstruosos, que jamais
se apagaram da memória de toda uma geração de sobreviventes, é inconcebível a
existência dos “gulags” de hoje. Dos “hospitais psiquiátricos”, onde pessoas
brilhantes e amantes de seus países, são enterradas vivas, dopadas e segregadas
da sociedade, punidas pelo “crime” de se oporem às ditaduras.
Não se entende massacres, como os
de Sabra e de Chatila. Não se concebe que tantos milhares de “desaparecidos” na
Argentina e no Uruguai tivessem sido registrados. E quantos campos de
concentração mais não devem existir ainda hoje, escondidos da imprensa, para
que a opinião pública não tome ciência deles, no Afeganistão, no Irã, no
Iraque, no Líbano e sabe Deus mais onde?!
Afinal, Auschwitz, Buchenwald,
Dachau e dezenas de outros locais semelhantes, de degradação e de extremo
barbarismo, passaram praticamente desconhecidos do mundo durante quase toda a
guerra. Quem sabia da sua existência preferiam não denunciar.
Alguns desconfiavam que havia
algo semelhante, mas não possuíam provas. Até os primeiros dias de abril de
1945, quando os russos libertaram os confinados de Auschwitz e os aliados
ocidentais, os de Bergen-Belsen, os campos de concentração eram um segredo para
o mundo. Como foi possível tapear, por tanto tempo, três bilhões de pessoas?!
Quanta sujeira secreta não deve
estar, também, escondida nos dias de hoje! Quanta besta humana, espumando de
insânia, do alto de sua paranóia, sob o pretexto de algum apregoado ideal (que
não possui) não está cometendo atrocidades tão deploráveis e continuadas quanto
as da Alemanha nazista!
Está certo o premier israelense,
Menachen Begin, quando quer impedir que o Dia do Holocausto seja esquecido. Mas
é necessário que, com a lembrança das vítimas da insânia e do fanatismo, algo
de prático também seja feito para a proteção dos direitos humanos de tanta
gente oprimida, jogada no fundo de masmorras infectas, por caricatos e cruéis
ditadores, apenas porque tiveram a coragem e a ousadia de defender idéias, de
lutar por princípios, de exercerem o sagrado ofício do protesto contra a
corrupção, o arbítrio, o cínico privilegiamento de parcelas da sociedade e
outras mazelas que infestam as várias administrações nacionais.
Diariamente, em diversas partes
do mundo, cometem-se absurdos holocaustos, sem que ninguém faça nada para
evitar. Isso, sem dúvida alguma, precisa acabar!
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 19
de abril de 1985).
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