Thursday, October 31, 2013

Diz o povo, em sua instintiva sabedoria, “que a verdade dói”. Nem sempre. Há verdades que enobrecem, santificam e fazem justiça. Para evitar as que doem, muitos recorrem a fantasias, mesmo sabendo que elas são frutos da imaginação. É para compensar o que sabemos ser verdadeiro e, no entanto, incômodo, que agimos assim. Para agravar ainda mais a contundência, na maioria das vezes as verdades são ditas aos berros, quando não acompanhadas de ameaças ou impostas mediante a violência. Em situações menos dramáticas, são proferidas com ar carrancudo, solene e sério, como se isso fosse imprescindível. Não é! O poeta romano Horácio indaga, de forma perspicaz, num de seus clássicos poemas: “O que me impede de dizer a verdade rindo?”. De fato, nada! Por que emprestar-lhe, pois, um caráter negativo e mau, que ela, na sua essência, não tem? Conclui-se que não é tanto a verdade que incomoda ou que dói. É a forma de ser dita.


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Presente de Natal

Dê às pessoas que ama e admira o melhor dos presentes neste Natal: presenteie com livros. Dessa forma, você será lembrado não apenas o ano todo, mas por toda a vida.

Livros que recomendo:

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Árabes e judeus rearmam-se


Pedro J. Bondaczuk


O fim da guerra do Golfo Pérsico, com a derrota iraquiana que acabou sendo apenas parcial, estabeleceu um perigoso paradoxo político. Nunca ficou tão clara para todos a necessidade de um "breque" na corrida armamentista no Oriente Médio quanto nessa ocasião. Todavia, findo o conflito, o que se nota, a despeito de louváveis manifestações públicas de boas intenções e até de um plano do presidente norte-americano George Bush para livrar a região de armas de destruição em massa, é os países dessa explosiva zona se armando mais e mais, como que se preparando para uma nova e provável conflagração.

Tão logo a Casa Branca anunciou um cessar-fogo com o Iraque, em 28 de fevereiro, circularam notícias de que um grande carregamento de mísseis Scud C, uma versão melhorada dos Scud B iraquianos, fabricada na Coréia do Norte, foi descarregada no porto sírio de Latakia.

Tais foguetes contam com maior precisão e seu raio de abrangência permite atingir qualquer cidade importante do Oriente Médio. O secretário de Estado dos Estados Unidos, James Baker, fez quatro desgastantes peregrinações políticas pela área, na tentativa de aproveitar o momento psicológico adequado, um instante de raríssima cooperação, que foi o da vitória aliada sobre as tropas de Saddam Hussein, para ao menos esboçar uma conferência regional de paz que colocasse árabes e israelenses ao redor de uma mesma mesa discutindo civilizadamente suas controvérsias.

Não teve êxito. Ou, pelo menos, seu sucesso foi apenas parcial. Enquanto isso, as notícias provenientes da região são as mais inquietadoras possíveis.

Os Estados Unidos, por exemplo, asseguraram, através do secretário de Defesa, Richard Cheney, em visita a Jerusalém, o fornecimento de pelo menos dez caças F-15 a Israel, além de um número não especificado de baterias antimísseis Patriot.

A Turquia, igualmente, anunciou estar adquirindo dez desses sistemas, cuja eficácia ainda é discutível, já que não conseguiram barrar todos os Scuds B de Saddam Hussein, mormente contra os territórios judeu e saudita, durante a guerra do Golfo Pérsico.

A tudo isso, deve-se acrescentar o fato do Iraque ter saído da confrontação militar muito mais forte do que seria desejável para o Ocidente. A despeito das autoridades de Bagdá haverem se comprometido com as Nações Unidas a destruírem suas armas mais perigosas, como as químicas e biológicas e os balísticos de médio alcance, é bastante discutível que o façam.

Os iraquianos continuam sendo ameaças concretas à estabilidade regional e a queda de seu presidente, ao contrário do que se supõe, não vai tornar esse risco menor. Além disso, não se descarta a possibilidade, sempre presente, de ascensão ao poder de algum líder carismático até mais radical do que Saddam, que já foi encarado pelo Ocidente como "amigo" e como neutralizador do perigo que o fundamentalismo xiita iraniano representava para as monarquias conservadoras da zona.

Apesar de tudo, o mundo tem uma chance, talvez única, de pacificar a região, desde que todas as partes envolvidas nas controvérsias que dividem há quase meio século o Oriente Médio estejam dispostas a fazer concessões, em troca da paz.

O ex-presidente norte-americano, John Kennedy, observou, em certa ocasião, num de seus discursos: "Escrita em chinês, a palavra 'crise' se compõe de dois caracteres: um representa perigo e o outro oportunidade". Tomara que a atual derive para o segundo significado. E, principalmente, que mais esta chance não venha a ser irresponsavelmente desperdiçada.

Poucas vezes a possibilidade de uma paz duradoura esteve mais próxima do que agora. É preciso, todavia, que árabes e israelenses ajam com realismo e cheguem à conclusão que podem conviver pacificamente com suas diferenças.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 1 de junho de 1991).


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Escritora para quem idade não era problema

Pedro J. Bondaczuk

A escritora Tatiana Belinky – que faleceu, em São Paulo, em 15 de junho de 2013, aos 94 anos de idade – teve inestimável influência em minha vida e na paixão que tenho pela Literatura. Considero-a exemplar em todos os sentidos. Foi, principalmente,  exemplo vivo de algo que não me canso de apregoar: que devemos ser úteis e produtivos até nosso último sopro de vida, indiferentes à passagem do tempo. E ela foi. Tanto que em 2010, aos 91 anos, quando a maioria das pessoas (diria, a totalidade), das raras que atingem essa idade, abrem mão de viver, ela se mantinha lúcida e produtiva, escrevendo crônicas e  memórias e, de quebra, foi eleita para integrar a Academia Paulista de Letras, ocupando a cadeira de número 25. Que magnífico exemplo de vida!

Entendo que esse reconhecimento da elite literária do Estado deveria ter vindo antes, muito antes, várias décadas antes. Mas... antes tarde do que nunca. Vou mais longe. Entendo que por sua obra, na maior parte voltada à faixa infanto-juvenil, mas não só a ela, credenciou-a, com folga, a ser membro da casa de Machado de Assis, ou seja, da Academia Brasileira de Letras. Isso nunca aconteceu. Pior para a ABL. Como não guindar à instituição máxima das letras nacionais uma escritora com mais de 250 livros? Não entendo. Ainda mais levando em conta que muitos dos seus integrantes têm obras, para dizer o mínimo, “contestáveis”.

Além de ter lido, na minha infância, uma infinidade de histórias que ela escreveu, acompanhei, embevecido, a primeira versão televisiva do Sítio do Pica-pau amarelo, cuja adaptação dos livros de Monteiro Lobato (outro dos mitos inesquecíveis da minha infância) coube a Tatiana Belinky. Parece coisa fácil para quem nunca teve que enfrentar desafio do tipo. Experimentem, todavia, adaptar qualquer texto literário para os palcos e as telas. É tarefa de gente grande, diria de “gigantes”, que só quem tem pleno conhecimento de causa consegue fazer. E ela conseguiu, com rara maestria. E por muito tempo. O Sítio do Pica-pau amarelo permaneceu na grade de programação da extinta TV Tupi por catorze anos (de 1952 a 1966)!!!

Convém recordar que a televisão, na época, ainda em preto e branco,  era uma atividade artesanal, com escassíssimos recursos técnicos. Os que atuavam nesse veículo, hoje popularizadíssimo, sequer sonhavam com as facilidades tecnológicas que existem hoje. Gravações? Nem pensar! Tudo era apresentado ao vivo e não comportava erros de quaisquer espécies. A opção era: acertar ou acertar. Tudo era feito na raça, na base do talento puro. As falas dos atores tinham que ser irrepreensíveis, de sorte que esses não tivessem dificuldade alguma em decorá-las e transmiti-las. E em todos esses anos que acompanhei atento o Sítio do Pica-pau amarelo, na TV Tupi, não me lembro de uma única falha, dos atores, câmeras, diretores e, principalmente, do que os personagens faziam ou falavam.

Tatiana tinha, nessa magnífica empreitada, a parceria (diria, a cumplicidade), do médico e educador Júlio Gouveia, com o qual havia se casado em 1940. Antes de encarar o desafio na televisão, o casal já havia adquirido vasta experiência no assunto. Desde 1948, os dois já vinham fazendo adaptações, traduções e elaborando as próprias produções para o teatro, contratados pela Prefeitura de São Paulo. Foi o período de ouro das peças infantis na capital paulista. Milhares e milhares de crianças da minha faixa etária, hoje setentões, divertiram-se e aprenderam com as histórias do casal, notadamente de Tatiana Belinky.

Lembro-me que Júlio Gouveia encerrava, invariavelmente, o Sítio do Pica-pau amarelo com uma espécie de bordão. Ao final de cada capítulo, resumia o que seria apresentado no seguinte e concluía, para aguçar ainda mais nossa curiosidade infantil: “Mas esta é uma outra história que fica para uma outra vez”. Nunca me esqueci disso. Passadas décadas, essas palavras me vêm à memória e consigo até visualizar a figura desse apresentador, dizendo isso, com seu jeitão sério e compenetrado, tendo, atrás de si, a título de cenário, uma estante abarrotada de livros.

Mas não foi, óbvio, apenas como redatora para a televisão que Tatiana se destacou, embora, compreensivelmente, seja lembrada por meus contemporâneos principalmente (ou somente) por isso. Teve intensíssima atividade literária. Afinal, como destaquei, publicou mais de 250 livros. E embora sua “especialidade” fosse a literatura infantil, não escreveu somente histórias para crianças. De 2000 para cá, por exemplo, muitas de suas obras foram coletâneas de crônicas, saborosas e bem-humoradas, uma delícia para leitores de todas as idades que apreciem textos inteligentes e bem escritos.

Além da extinta TV Tupi, Tatiana trabalhou, também, na TV Cultura, com idêntico sucesso. A idade, para ela, nunca foi empecilho. Não deve ser para ninguém. Foi, ainda, presença constante nas páginas de três dos mais importantes jornais paulistas e brasileiros: “Folha de São Paulo”, “Jornal da Tarde” e “O Estado de São Paulo”, que abrilhantou com seus lúcidos e pertinentes artigos, deliciosas crônicas e, sobretudo (sua especialidade) crítica de literatura infantil. Seus livros mais conhecidos (pelo menos os que me lembro agora) são: “Limerique das coisas boas”, “Coral dos Bichos”, “Limeriques” e “O Grande Rabanete”. Claro que poderia mencionar por volta de uma centena de outras obras que escreveu, mas não o farei, até para testar sua capacidade de pesquisa, caríssimo leitor.

Antes que me perguntem o que significa a palavra “limerique”, utilizada no título de alguns livros de Tatiana Belinky, esclareço que se trata de um tipo de poema curto, geralmente sobre coisas ou situações engraçadas, originado da cidade de Limerick, no Eire (Irlanda do Sul), compostos em cinco versos. E ela especializou-se nesse tipo de poesia, que compunha com graça, originalidade e muito senso de humor. Não tenho nenhum problema em confessar (pelo contrário, faço-o com orgulho) que essa escritora nascida na cidade russa de Petrogrado foi uma das principais influências na minha literatura e, principalmente, em minha vida.


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Wednesday, October 30, 2013

Há tempos, filósofos, os mais diversos, têm oferecido idéias à humanidade que, no entanto, não a fazem feliz. Legisladores, por seu turno, elaboram leis e mais leis, muitas das quais perversas e excludentes que, em vez de assegurarem direitos, os suprimem. Não é disso, pois, que a espécie precisa. Inventores desenvolvem máquinas que facilitam o dia a dia, acessíveis, porém, a poucas pessoas. Não fazem, por isso, a humanidade feliz. Artistas, nos mais diversos campos, criam obras de algum valor, muitas delas, no entanto, têm como fonte de inspiração os piores atos e instintos do ser humano. Mesmo as tidas como ideais e belas, são insuficientes para satisfazer a necessidade dos povos. Do que mais a humanidade carece? É de alegria! É de motivos para sorrir, cantar e dançar, na mais perfeita paz e harmonia. O poeta Leonid Martinov constata isso, nestes versos minimalistas:

 “Algo novo
neste mundo:
a humanidade quer canções”.


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Presente de Natal

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Muita retórica, pouca ação


Pedro J. Bondaczuk


A Assembléia Geral das Nações Unidas, pelo 44º ano consecutivo, iniciou, ontem, seu período de debates, trazendo à baila, virtualmente, os mesmos temas debatidos em sua sessão de fundação. Ou quase isto, já que naquele tempo ninguém ouvia falar de Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, embora outras doenças, que continuam ceifando milhares de vidas humanas pelo mundo afora, fossem enfocadas.

O que aconteceu nestas quase quatro décadas e meia do pós-guerra, portanto, não passou de mera variação em torno dos mesmos temas. É verdade que agora os discursos dos principais personagens, Estados Unidos e União Soviética, estão livres do ranço da Guerra Fria, que consumiu tantos esforços e tanto tempo, em troca de nada.

Há, pelo menos, a vantagem, neste momento, de se dar uma atenção muito maior a problemas gravíssimos, praticamente críticos, que se fossem enfocados antes com o realismo que mereciam talvez já tivessem até sido equacionados, ou pelo menos não agravados.

Este é o caso do narcotráfico. Ao contrário do que se pensa, o assunto está muito longe de ser novo. Ele foi causa, inclusive, de um conflito armado entre a Grã-Bretanha e a China, que custou aos chineses a perda de Hong Kong. Foi a chamada “guerra do ópio”.

Durante muito tempo não se encarou o assunto com a seriedade que ele sempre deveria ter merecido. O vício chegou mesmo a entrar na “moda”, na década de 1960, numa atitude insensata e burra de muitos ditos intelectuais, que somente favoreceram os traficantes, que se fortaleceram e fizeram fortuna às custas de sua estreiteza de visão. Agora, essa atividade sinistra já chega a ameaçar, virtualmente, a toda a humanidade.

Aliás, mesmo o propalado desarmamentismo atual não é algo novo. E ninguém tem a completa segurança de que seja sincero  ou esteja mesmo em andamento. Há alguns anos, Erich Fromm, em seu livro “Ter ou Ser?”, observou: “Como é possível que o mais forte de todos os instintos, o de conservação da existência, pareça ter deixado de nos motivar? Uma das explicações mais óbvias é que os dirigentes empreendem muitas atividades que lhes possibilitam dar a entender que estão fazendo algo eficaz para evitar uma catástrofe: intermináveis conferências, resoluções, acordos de desarmamento. Tudo isso dá a impressão de que os problemas estão identificados e que alguma coisa está sendo feita para solucioná-los. Contudo, nada de real importância acontece; mas tanto dirigentes como dirigidos anestesiam suas consciências e seu desejo de sobrevivência dando impressão de conhecer o caminho e andar no sentido certo”.

Algo mudou, pois, nestes últimos 44 anos? Talvez somente o tom, mas não a substância.

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 26 de setembro de 1989).


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Silviano galga o panteão dos notáveis

Pedro J. Bondaczuk

A Academia Brasileira de Letras acaba de divulgar o nome do ganhador do Prêmio Machado de Assis de 2013. Trata-se de Silviano Santiago que, em setembro, completou 77 anos de idade e que assim se junta a uma espécie de panteão de notáveis de nossas letras. Concluo, pois, que é meu contemporâneo, pois é apenas sete anos mais velho do que eu. É, portanto, da minha geração. Certamente o amante da leitura e, por conseguinte, o leitor deste espaço, conhece quem é este eminente literato. Todavia, como o horizonte literário nacional é amplo, tem alguns milhares de escritores, e o mundial é muitíssimo  mais, já que conta com alguns milhões de integrantes, pode ser que muitos não saibam de quem se trata.

Quanto ao prêmio e à sua importância, ambos são sobejamente conhecidos. Ainda assim, suscitam algumas considerações. Vamos ao que interessa e no meu estilo, digamos, didático, apropriado aos que estão começando a se familiarizar com o mundo das letras. Silviano Santiago é mineiro, natural da cidade de Formiga, onde nasceu em 29 de setembro de 1936. Essa localidade me é bastante familiar. Já estive lá e fiquei muito bem impressionado com a cordialidade, o calor humano e a simpatia de seus moradores. Em meus tempos de estudante, tive dois companheiros de república – aliás, irmãos, o José Cassiano e o Jarbas – que eram dali. Um dos mais famosos jogadores (e posteriormente técnico de futebol) do Santos e do Palmeiras fez carreira e ficou nacionalmente conhecido pela imprensa e pela torcida com o nome dessa cidade. Refiro-me ao craque Formiga, que jogou naquele famoso esquadrão santista liderado pelo inigualável Pelé (que Pepe jura que se trata de um ET).

Bem, este não é o ponto relevante destas descompromissadas considerações. É apenas ligeiro parêntese, a título de ilustração, para quebrar o gelo. O personagem a ser enfocado é, claro, Silviano Santiago, que é desses intelectuais que costumo denominar de “homens dos sete instrumentos”. Afinal, além de escritor (ensaísta, poeta, contista e romancista), é professor, tendo feito brilhante carreira no magistério tanto no Brasil, quanto no Exterior. Lecionou, por exemplo, nas universidades do Novo México, de Rutgers, Toronto, Nova York Buffalo e Indiana. Como se vê, tem currículo invejável na área. Isso sem falar de sua atuação em importantes instituições de ensino superior brasileiras, como a PUC do Rio de Janeiro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Todavia, Silviano acaba de ser premiado não em decorrência de sua magnífica atuação na cátedra, embora, certamente, esta tenha lhe dado o que considero essencial em qualquer profissão e, portanto, na de escritor: experiência. Mas ele está sendo agraciado é pelo seu talento, por criatividade, pela correção e atratividade do seu texto e por todas as características desejáveis em um homem de letras. Asseguro,  aos que não o conhecem e nunca tiveram o privilégio de ler nada do que escreveu: o cara é muito bom!!!

O Prêmio Machado de Assis, instituído em 1941 pela Academia Brasileira de Letras, é conferido anualmente não em decorrência de algum livro específico, mas levando em conta o conjunto da obra do premiado. É, por conseqüência, um dos mais importantes e cobiçados pelos que fazem literatura (óbvio, a de boa qualidade). Já foi outorgado a “pesos pesados” das letras nacionais, como Afonso Schmidt, Érico Veríssimo, Dinah Silveira de Queiroz, Luiz da Câmara Cascudo, Rachel de Queiroz, João Guimarães Rosa, Gilberto Freyre, Cecília Meirelles, Raul Bopp, Mário Quintana, Paulo Ronai, Henriqueta Lisboa, Sábato Magaldi, Maria Clara Machado, Antonio Cândido, Carlos Heitor Cony, Joel Silveira, Fernando Sabino, Wilson Martins, Ferreira Gullar, Autran Dourado e Dalton Trevisan, entre outros.

Cá para nós, quem não gostaria de estar em tão ilustres companhias? Não citei todos os premiados não por considerar suas obras menos relevantes do que as dos que mencionei nominalmente (longe disso), mas por estrita falta de espaço. Citei-os aleatoriamente, sem me deter em seus respectivos currículos. Para se habilitarem ao prêmio, todos, sem exceção, produziram obras magníficas que engrandeceram e honraram a literatura brasileira. O “Prêmio Machado de Assis” deixou de ser atribuído, de 1941 para cá, apenas em quatro ocasiões: 1944, 1947, 1949 e 1960. Desconheço o motivo, mas suponho que nessas oportunidades não houve consenso entre os jurados.

E o que levou a Academia Brasileira de Letras a optar por Silviano Santiago neste ano, para integrar esse seletíssimo rol de notáveis? O conjunto de sua obra literária, óbvio. Do primeiro livro que publicou – “Quatro poetas”, em 1960, em co-autoria com três outros escritores – ao mais recente  - “Anônimos”, contos, em 2010 – acumulou bibliografia de 28 volumes com padrão de qualidade dos mais invejáveis e consistentes. Quem nunca o leu, leia-o, e urgentemente. É um escritor muito bom, reitero.  Posso atestar isso sem receio (como se o atestado da ABL não valesse bilhões de vezes mais do que minha canhestra recomendação!!!).


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Monday, October 28, 2013

A natureza e a transcendência da alma são objetos de discussão desde os primórdios da civilização, sem que se chegasse sequer próximo do consenso. Teólogos, filósofos e médicos têm abordado a questão e as divergências persistem, quando não se aprofundam. Para uns, a alma é imortal e sobrevive alhures, ainda quando o corpo pereça. Para outros, trata-se de função nobre do sistema nervoso central, notadamente do cérebro, e quando este morre, também deixa de existir. Jamais se chegará ao consenso, diante da impossibilidade material de uma prova indestrutível, tanto de uma, quanto de outra tese. O fato é que a alma existe e nos torna criaturas especiais. Quanto às suas atividades... o poeta Victor Hugo faz a seguinte comparação, com a qual compartilho: “Nada se assemelha à alma como a abelha. Esta voa de flor para flor, aquela, de estrela para estrela. A abelha traz o mel. A alma, traz a luz”. Belo, não é verdade?

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Presente de Natal

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Nós

Pedro J. Bondaczuk

Com você, alma gêmea,
caminharei pelos bosques
do amanhã, redimido.

Vítima do Tempo,
sofrido, alquebrado,
com cicatrizes no peito,
profundos sulcos no rosto,
flocos de neve nos cabelos
e sombras no meu olhar,
vou aprendendo a viver.

A solidão será banida.
Na noite eterna do Tempo
permanecerá luzindo
a estrela da esperança.

E quando a passagem dos anos
consumir nossa energia
e apagar o nosso olhar,
partiremos discretos,
sutilmente, de mansinho,
confiantes, de mãos dadas,
radiantes, rumo à
noite eterna do além...

(Poema composto em Campinas, em 28 de julho de 1971).


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Criar é preciso

Pedro J. Bondaczuk

As crises, dependendo da maneira como as encaramos, podem tanto nos fortalecer, quanto nos destruir. Bem, até aí não disse nada de novo. Pelo contrário, limitei-me a reproduzir um até surrado clichê. Não faz mal. Nem por isso deixa de ser verdadeira essa declaração. Passamos, todos nós (e não importa a atividade que exerçamos), em algum momento de nossas vidas, por esses apagões mentais, por essas fases de perigo, em que tudo o que somos, temos ou fazemos, fica ameaçado e sob questionamentos. Tais situações tendem inicialmente a fazer soar no fundo do nosso cérebro discreto sinal de alarme, seguido da predisposição para lutar ou correr.
  
Subitamente, o medo toma conta de nós. E se não soubermos controlar esse sentimento, logo ele se transforma em pânico. Se atendermos ao apelo do instinto e corrermos, certamente jamais voltaremos a "nos encontrar". Passada a fase do risco, virá o arrependimento por havermos sido pusilânimes. Dependendo da forma e do que fugirmos, nunca mais haveremos de recuperar a autoestima.

Por outro lado, lutar simplesmente, mas sem método, cegamente, é sintoma de desespero, uma das formas de covardia. Costumo repetir para mim mesmo, ou para auditórios lotados quando de minhas palestras – cada vez mais escassas – a citação de John Kennedy, talvez (provavelmente) tomada de empréstimo de alguém, que diz: "Grafada em chinês, a palavra crise é formada por dois ideogramas: um significa perigo e o outro, oportunidade". Com certeza, todos vocês já leram ou ouviram isso em algum tempo e algum lugar. Nem por isso a afirmação perde a validade.
  
Mesmo que custemos a acreditar, é nos momentos críticos, enfrentados com disciplina, coragem e método, que nos engrandecemos. Trata-se de uma luta solitária, onde a ajuda alheia pouco conta. Na maioria das vezes – quando conseguimos esse "reforço" – ele mais atrapalha do que auxilia. Se a crise é de criatividade, como todo artista, escritor e (por que não?), jornalista enfrenta em sua atividade, verdadeiro terror dos que vivem de arte ou de textos, aí é que os outros não podem fazer nada mesmo.
  
Ultimamente venho enfrentando situação desse tipo. A mente, há não muito tempo ágil e cheia de idéias criativas, parece entorpecida. Até textos corriqueiros, que exigem apenas técnica, por serem praticamente mecânicos, custam a sair. Sinto soar, de maneira estridente, a campainha indicando alarme bem no fundo do cérebro. Meu medo ainda não se transformou em pânico, mas está bastante próximo disso. A angústia é enorme, mas precisa ser disfarçada, para sustentar a imagem de "durão" que criei. A mínima manifestação de fraqueza vai aterrorizar meus filhos, que sempre viram em mim o pilar da família. Insensatamente, assumi esse estereótipo, que agora tenho dificuldades em manter.
  
Tento escrever um poema e saem apenas símbolos sem nexo, como se se tratasse de conversa de doido. Deleto-os (pois ultimamente adquiri o hábito de compor na telinha do computador), sem dó e nem piedade. Não quero deixar rastros de uma fase (que aliás é recorrente), que tenho confiança que irá passar, a depor um dia contra mim.. E se essa crise, desta vez, não passar?!!! Bem, aí estarei ferrado.  Os contos que tenho escrito têm que ser reescritos dezenas de vezes, com resultados desastrosos. Deleto a maioria dos originais. Não me reconheço nesses textos óbvios e insossos.
  
As crônicas perderam a fluência e ficaram descaracterizadas, pela ausência do indispensável humor. Ando mais ácido do que o normal, o que foge das minhas características e da minha maneira de agir, em suma, do meu “estilo”, e não somente de escrever, mas de viver. Esse Pedro, das últimas semanas, não sou eu. Não me reconheço. Temo estar sofrendo agudo ataque de burrice. Até textos jornalísticos, balizados pelos "leads", estão pesados, sombrios, sem graça. Tudo o que falo, mesmo na conversa mais informal, me soa como algo idiota. Tomara que não seja esta a impressão dos meus interlocutores.

Nem mesmo este desabafo, este descarado “desnudamento” em público, é original. Escrevi sobre o mesmíssimo assunto (posto que com outro enfoque) em 2010, quando, pitorescamente, não estava atravessando nenhuma crise de criatividade e, ao contrário, vivia um dos melhores momentos da carreira de “escrevinhador”. Falhei em conservar os leitores que conquistei em fases melhores e de mais brilho, em uma época em que não possuía a experiência e a maturidade de hoje. Acabei frustrado na tentativa de lançar dois novos livros, um de ensaios (o terceiro do gênero) e outro abordando todas as Copas do Mundo que o Brasil disputou (no caso, todas mesmo), as que ganhou e as que perdeu. Ambos estão prontinhos, editados e revisados, à espera da impressão. Ou, mais especificamente, de alguma editora que aposte neles. Nenhuma se habilitou. Talvez esse tenha sido o estopim que deflagrou a presente e avassaladora crise de criatividade.

Meu consolo é que artistas, muito melhores do que eu, enfrentaram (e superaram) situações parecidas, ou até piores, antes de elaborar obras definitivas, as que os consagraram. É a certeza de que, mesmo andando na corda-bamba, vou superar esta fase e emergir enriquecido que me dá combustível para reagir. Afinal, com crise ou sem ela, não parei (e juro que não irei parar) de escrever, embora os textos resultantes não passem em meu rígido e implacável controle de qualidade. Em vez de correr do perigo, optei por enfrentá-lo (e vencê-lo, provavelmente).
  
William Faulkner fez uma observação, que li por acaso hoje, que vem bem a calhar para minha atual situação. Diz: "O fracasso faz bem à gente. Se somos bem sucedidos durante muito tempo, alguma coisa morre, seca e sucumbimos sob nosso próprio peso, como aconteceu a tantos impérios e dinastias". Corremos o risco, sobretudo, daquilo que popularmente se chama de "máscara". Julgamos-nos auto-suficientes e passamos a não dar ouvidos às críticas, que encaramos como "mesquinhas agressões", quando de fato não são. A partir do momento em que passamos a agir dessa forma, resvalamos fatalmente para o ridículo e a anulação.
  
O sucesso deve vir naturalmente, como decorrência de um talento autêntico e de um trabalho estudado, suado, persistente, mas bem elaborado. Se não vier...paciência. Pelo menos teremos tentado. Meu consolo e, sobretudo, esperança, é que a presente crise seja a maior oportunidade que já tive para amadurecer. Estou determinado a transformá-la nisso! Afinal, parodiando Fernando Pessoa, “criar é preciso!!!”


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Sunday, October 27, 2013

No amor, frustramo-nos, amiúde, (posto que secretamente) com a impossibilidade dos nossos lábios, do nosso corpo e das nossas mãos proporcionarem à pessoa amada as delicadas carícias que imaginamos. Notadamente, nós, homens, temos escrúpulos em sequer admitir essa frustração, temerosos que nossa masculinidade seja posta em dúvida. Quem confia em sua virilidade, porém, não tem porque temer julgamentos alheios. A prova dessa frustração são as metáforas dos poetas ao se referirem às carícias, como um toque “com a leveza da brisa”, lábios “com a maciez de veludo” e tessitura da pele com a “delicadeza de uma pétala de flor” Em relação à minha amada, faço minhas as palavras de Rainer-Marie Rilke, nestes versos:

“Se eu tivesse nascido em qualquer parte
onde há dias mais leves e horas mais esbeltas,
teria inventado para ti uma grande festa,
e as minhas mãos não te segurariam assim,
como por vezes te seguram, medrosas e duras”.


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Presente de Natal

Dê às pessoas que ama e admira o melhor dos presentes neste Natal: presenteie com livros. Dessa forma, você será lembrado não apenas o ano todo, mas por toda a vida.

Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” Edir Araújo – Contato: nenem138@gmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso” Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br

Com o que presentear:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro.Preço: R$ 20,90.

Como comprar:

Pela internet WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.

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