Pedro J. Bondaczuk
O papa João Paulo II tem revelado, seguidamente, uma séria e genuína preocupação com a guerra civil no Líbano, que já dura quinze anos – num dos mais demorados conflitos dessa espécie – e sobretudo com a destruição inútil e absurda de preciosas vidas humanas e a virtual desagregação dessa sociedade nacional.
Em 22 oportunidades diferentes, apenas no corrente ano, o Pontífice manifestou sua profunda tristeza pela carnificina que se desenvolve nessa zona do Oriente Médio, tida como uma das mais prósperas e equilibradas do mundo até o início da década de 1970.
Nós já comentamos mais de uma centena de vezes o que ocorre em território libanês, neste nosso contato diário com o leitor. E manifestamos a mesma perplexidade que João Paulo II, embora, evidentemente, não tenhamos a mínima capacidade de influenciar quem quer que seja para que faça cessar essa insanidade.
Ontem, o Papa apelou a uma das partes em conflito, à comunidade muçulmana mundial, tentando tocar num ponto sensível da sua crença, o da ética religiosa. Essa atitude reflete, sobretudo, respeito ao Islã. O Pontífice não levou em conta as diferenças que separam as duas religiões, mas a sua identidade: o fato de ambas adorarem a um Deus comum, posto que com denominações diferentes, e terem igual visão ética acerca de justiça. Semanas atrás, João Paulo II havia se dirigido diretamente ao governo sírio, com o mesmo pedido.
Mas não se pense que seus apelos são sempre palavras vazias. O Papa já manifestou firme intenção de até visitar o Líbano, para levar conforto a essa sofrida comunidade. Mesmo diante de conselhos, de ameaças e dos riscos que uma viagem desse tipo traz.
Além dele e do presidente francês, François Mitterrand, ninguém mais fez coisa alguma em favor dos libaneses. Os Estados Unidos, por exemplo, estão preocupados somente com a segurança de seus reféns, em mãos de radicais xiitas. A Grã-Bretanha, igualmente. Age da mesma forma.
A União Soviética, por seu turno, não deseja comprometer sua aliança com a Síria, seu mais fiel aliado no mundo árabe. É verdade que esta comunidade tem ensaiado alguns planos de pacificação. Mas eles têm sido mal elaborados, não levando em conta todos os fatores que estão em jogo.
Enquanto isso, pelo menos 150 mil preciosas e irrecuperáveis vidas já foram ceifadas. O Líbano não sabe quem é o seu presidente, não elege há anos um Parlamento e se transformou numa “terra de ninguém”. Repetindo as palavras de João Paulo II, perguntamos: “Como podemos permanecer indiferentes, sabendo que um povo inteiro está morrendo diante dos nossos olhos? Como?
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 27 de setembro de 1989).
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