Pedro J.Bondaczuk
Os países do Leste europeu recém democratizados e, mais especificamente, a sua classe política, passada a euforia da reconquista da liberdade, estão caindo na realidade e tendo que aprender, pelo caminho mais duro, a principal característica de uma democracia: a administração de conflitos. Na Alemanha Oriental, transcorrido quase um mês das históricas eleições livres e multipartidárias, as primeiras que esse Estado teve nos seus 40 anos de existência, os democratas-cristãos, que venceram nas urnas, ainda não conseguiram "costurar" uma coalizão. Está difícil a conciliação de interesses e a obtenção de um acordo que contorne as principais divergências entre grupos da mesma tendência ideológica.
Na Hungria, deve ocorrer a mesma coisa. Idêntico fenômeno deverá se reproduzir na Romênia, após as eleições do mês que vem e na Checoslováquia, após o pleito de junho próximo. Mas uma coisa é mister que se admita. Levando em conta que a oposição foi virtualmente extinta nesses países da Europa Oriental, durante o regime comunista, cujo partido detinha, constitucionalmente, o monopólio do poder, os políticos do Leste europeu até que aprenderam depressa. É claro que o aperfeiçoamento de suas instituições vai demandar tempo, embora isso é o que menos tais povos possuem. Eles ficaram muito para trás dos seus parceiros ocidentais, nos longos anos de silêncio e de terror a que foram submetidos. Agora precisam queimar etapas. Têm que aprender o mais rápido que puderem, errando o mínimo possível.
A reforma que tais homens públicos precisarão fazer para modernizar suas respectivas sociedades são de moldes a apavorar qualquer um. Elas vão desde os respectivos sistemas jurídicos, às relações trabalhistas. Da política educacional à criação de uma economia de mercado, passando por todos os percalços desse processo, que fatalmente irão incidir no plano social. Tudo, ali, está virtualmente por fazer. Embora seja uma tarefa magnífica, no entanto, não deixa de ser um excitante desafio. Frustrações, é óbvio, devem ser esperadas, já que não existem decisões pré-fabricadas e que funcionem exatamente da maneira desejada.
Por mais planejadas que elas sejam, por maior bom senso e perícia utilizados na sua adoção, elas sempre se constituem em autênticos "saltos no escuro". Podem trazer resultados muito superiores aos planejados, como há o risco sempre presente de ocorrer o inverso. Ou seja, de retrocessos, prejuízos e terríveis equívocos. Mas certamente os desajeitados pioneiros de hoje, que adquirem traquejo político em pleno exercício dessa atividade, farão história. Serão, futuramente, lembrados como "pais" da reconstrução de suas pátrias. Somente isso já é suficiente para pagar qualquer sacrifício ou dificuldade que tenham.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 10 de abril de 1990)
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