Pedro J. Bondaczuk
A corrida armamentista nuclear, enquanto está refluindo entre as superpotências, pode estar se incrementando perigosamente em outros países, cujos sistemas de governo, por serem fechados, não admitem que o tema venha a público e cuja capacidade de controle e tirocínio para utilizar tais artefatos somente como fatores dissuasórios é sumamente questionável. A questão do contrabando dos 40 detonadores de bomba nuclear para o Iraque, vinda à baila anteontem, é altamente preocupante. Nem é necessário que se mencione a razão da preocupação. Afinal, os iraquianos mal saíram de um conflito dos mais sangrentos do pós-guerra, contra o Irã, onde foi constatado o uso de armas químicas, por parte de suas Forças Armadas, passando por cima da Convenção de Genebra de 1925, que proibe tais artefatos.
Se quando apenas cinco países detinham bombas nucleares o mundo já vivia sob o espectro do medo, para não dizer terror, imaginem o que pode ocorrer com a sua proliferação a nações cujas histórias são marcadas por sucessivas convulsões!
De tempos em tempos, personalidades têm vindo a público para alertar sobre esse risco. Nós mesmos já tivemos a oportunidade de abordar o tema, citando denúncias de que o Paquistão, a Líbia, a África do Sul e Israel ou já estariam no chamado "clube atômico", ou faltaria muito pouco para que isso se concretizasse. Há cerca de quatro anos, houve tentativa semelhante de contrabando de detonadores, só que para o território paquistanês. E quanta venda ilegal não pode ter sido feita sem que ninguém descobrisse? Há gente que não pensa em mais nada, senão em dinheiro. Pessoas cujo senso ético é de arrepiar. Que acham que todos os meios são válidos para chegarem a determinados fins.
Lembramo-nos que trouxemos, num dos nossos comentários, à baila a aterradora possibilidade de algum grupo terrorista, dos tantos existentes por aí, se apossar (por uma dessas infelicidades tremendas) de um artefato atômico. Quanto estrago essa gente, em geral fanática, que entendem que morrer pela causa que defende é a máxima glória, sem analisar a justiça ou não dela, poderia causar! Por maior que seja a fiscalização internacional a respeito, ninguém tem a garantia de que isso não ocorra. Principalmente quando se sabe que a corrida armamentista está se deslocando para a "periferia" do mundo, para aquelas nações onde democracia é somente um conceito extremamente vago, quando não mera palavra, fartamente utilizada, mas cujo sentido seus líderes políticos sequer conseguem intuir com precisão.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 30 de março de 1990)
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