Pedro J. Bondaczuk
A televisão é um dos maiores fenômenos tecnológicos do século XX, informando, divertindo, divulgando, aproximando pessoas e servindo de companhia a milhões, diria bilhões de solitários mundo afora (inclusive a mim, em determinadas circunstâncias especiais). Sou fascinado por esse veículo, mesmo fazendo restrições a muitos programas inúteis e tolos e à sua má utilização por parte de alguns (ou de muitos, como queiram). Todavia, uma coisa nada tem a ver com outra. Não concebo meu cotidiano sem essa presença constante em meu dia a dia. Sou contemporâneo, inclusive, da sua introdução no Brasil. Tive o privilégio de assistir (e um dia narrarei, certamente, e com detalhes, essa inesquecível experiência) à primeira transmissão (a inaugural) feita em nosso País, pela pioneira (e hoje extinta) TV Tupi de São Paulo, em setembro de 1950.
E por que trago à baila esse assunto num espaço voltado especificamente à literatura? Por todos os motivos que você possa imaginar. Um deles é por causa da infinidade de livros – de ficção e de não ficção – escritos a propósito. Outro é o de esboçar, mesmo que ligeiramente (e é só esboço mesmo!) a história desse tão importante veículo, que evoluiu tanto, e em tão poucos anos, e que segue evoluindo espantosamente, ainda mais ao se “aliar” à internet, se tornando, entre outras coisas, cada vez mais interativo. Enfim, por entender que se trata de tema interessante e pouco abordado no que diz respeito à sua invenção, implantação e expansão. Esse “pouco”, esclareço antes que me cobrem coerência, refere-se a textos atuais, desses expostos em blogs e sites. Livros a propósito, todavia (reitero) existem em profusão, “a dar com pau”, como se diz em jargão popular.
A paternidade da televisão é atribuída ao britânico Willoughby Smith. Em 1873, esse pesquisador comprovou uma propriedade muito especial do elemento químico selênio: a de transformar energia luminosa em elétrica. Com isso, o cientista demonstrou ser possível realizar a transmissão de imagem eletricamente. A primeira emissão de vídeo realizada na história ocorreu na década de 1920, através da experiência feita por John Logie Baird. Em 1930, o francês Renê Barthélemy fez funcionar transmissor pioneiro, que tinha onda de 180 metros.
Hoje é possível fazer-se emissões de imagem de praticamente qualquer parte do universo a que o homem tenha acesso ou consiga levar uma câmera. Já houve transmissões, por exemplo, da Lua e de Marte. Outras com certeza virão. O desenvolvimento da TV foi, portanto, um dos saltos tecnológicos mais rápidos e mais notáveis que se conhece. Mas a televisão, embora fenômeno típico do século XX, começou, praticamente, a nascer mesmo em 1873, quando o inglês Willoughby Smith comprovou a tal propriedade do selênio. A primeira estação regular de TV surgiu na França. Foi em 1935, quando foi montado, na badalada Torre Eiffel, uma retransmissora de imagem, que funcionou por vários anos.
Um dos grandes responsáveis pela existência desse veículo foi o inventor Lee de Forrest, nascido em 1873 e que morreu em 1961. Ele chegou a patentear 300 invenções e, entre estas, algumas que deram condições para a criação e o aperfeiçoamento da TV. A difusão desse meio de comunicação pelo mundo foi um dos fenômenos mais espantosos já vistos até hoje. Por exemplo, em 1950, havia 11 milhões de receptores de TV em todo o Planeta. Doze anos após, em 1962, essa quantidade quase decuplicou, alcançando a 116 milhões e, oito anos mais, em 1970, os aparelhos já eram 251 milhões. Notável, não é mesmo? Não faço a menor idéia de qual é a quantidade de receptores na atualidade. Mas tenho certeza que ascende à casa dos bilhões.
A primeira estação de TV na Grã-Bretanha foi montada em Londres, em 1936. Dois anos depois, em 1938, foi a vez dos soviéticos terem esse importante meio de comunicação ao seu alcance. A primeira TV dos EUA começou a ser montada no ano seguinte, em Nova York. Durante a Segunda Guerra Mundial, nenhuma emissora esteve em atividade nos países que já conheciam a televisão: França, Inglaterra, União Soviética e Estados Unidos. Apenas a Alemanha manteve suas estações em funcionamento, assim mesmo só até 1943.
A primeira transmissão de TV para toda a Europa, 12 anos antes do recurso dos satélites (o primeiro, em caráter experimental e não voltado às comunicações, o Sputnik, seria lançado apenas em 5 de outubro de 1957), foi feita em 1950, pela BBC de Londres. O sucesso do empreendimento permitiu, no mesmo ano, a criação da Eurovision. A emissora londrina foi a pioneira, também, em transmissões do exterior. Em abril de 1961, em emissão direta de Moscou, a BBC mostrou, para milhões de telespectadores britânicos, a chegada triunfal do primeiro homem que foi ao espaço, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin. A transmissão pioneira, via satélite, iria ocorrer, apenas, no dia 23 de julho de 1962.
A evolução da TV como meio de comunicação de massa foi, reitero, espantosamente rápida. Apenas para dar outro exemplo (embora entenda ser redundante), basta dizer que em 1946 o número de aparelhos existente nos EUA era de apenas 10 mil. Em 1950, portanto em 4 anos apenas, essa quantidade pulou para expressivos 4 milhões de receptores. Quanto à TV em cores, as primeiras experiências nesse sentido começaram em 1929. Entretanto, o sistema apenas veio a obter êxito, experimentalmente, em 1950, através da rede norte-americana CBS (Columbia Broadcasting Systems). Em 1954, começaram, nos EUA, as transmissões em caráter comercial, com o sistema desenvolvido por Peter Goldmark, ainda no ano de 1940.
O valioso recurso do vídeoteipe começou a popularizar-se no Brasil a partir de 1968. Quando foi introduzido, porém, causou grande choque no meio televisivo, sendo a causa de demissão de milhares de profissionais da televisão em todo o País. A TV Gaúcha de Porto Alegre, por exemplo, antes do advento desse importante meio de gravação simultânea de som e de imagem, tinha 244 empregados, entre cantores, cenotécnicos, iluminadores, produtores etc. Com a introdução do teipe, o quadro de funcionários da emissora reduziu-se a apenas 41 pessoas, ou seja, seis vezes menos. Esse recurso fez com que surgissem as redes nacionais, com quatro ou cinco canais produzindo seus próprios programas e os demais, espalhados por todo o Brasil, transformando-se em meros retransmissores, ou quase isso.
A publicidade foi, talvez, o ramo que mais evoluiu em termos de TV, a ponto de, atualmente, muitas delas chegarem a ser, até mesmo, mais interessantes do que determinados programas. Mas isso nem sempre foi assim. Na década de 50, por exemplo, a maior parte dos comerciais era veiculada através de anunciadoras. Muitas, de tanto aparecerem nos vídeos, acabaram se consagrando em outras atividades, dentro ou fora da televisão. São os casos de Hebe Camargo, Marlene Morel, Idalina de Oliveira, Clarice Amaral e Marisa Sanches.
As emissoras, visando altos faturamentos, chegavam a abusar quanto ao número e à duração dos anúncios. Isso durou até quando foi criada uma legislação a respeito, que entrou em vigor em 1982, limitando os comerciais ao vivo a cinco minutos para cada quinze de programa. E os anúncios filmados, não podiam exceder a três minutos, em quinze. Entretanto, poucos canais respeitavam essa limitação. A violação persistiu até metade da década de 70 quando, finalmente, após grita geral dos telespectadores, as emissoras começaram a acatar a lei. As propagandas institucionais, por sua vez, mostrando as supostas realizações do governo, começaram a ser veiculadas em 1968, no auge da ditadura militar, e a responsabilidade por esses comerciais era do então coronel Hernani D’Aguiar, chefe da Assessoria de Relações Públicas da Presidência da República.
Viram quanto o tema é extenso? Sequer esbocei a história desse veículo de comunicação e, mesmo assim, este despretensioso texto já se tornou tão longo. Daí não estranhar a profusão de livros existentes a propósito. Estranharia se não houvesse. Há, até mesmo, sites da internet especializados em divulgar, exclusivamente, essa literatura televisiva. Claro que voltarei, oportunamente, ao tema, e certamente muitas vezes, dando continuidade, e com detalhes, ao que somente esbocei tão ligeiramente. Por que? Ora, porque... porque como já ressaltei, sou fascinado, vidrado, louco, tarado por televisão!!! É somente por isso. E precisa de mais?
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