Pedro J. Bondaczuk
O líder líbio, coronel Muammar Khadafy, surpreendeu, ontem, a comunidade internacional, apelando aos grupos extremistas libaneses, que detêm reféns ocidentais em seu poder, para que dêem liberdade a tais cativos durante o mês muçulmano do Ramadã. Seu apelo veio somar-se à intensa movimentação de bastidores do presidente iraniano, Ali Akhbar Hashemi Rafsanjani, nesse mesmo sentido. Aliás, o governante do Irã, tido e havido como um político moderado, teria enviado seu irmão a Beirute para estabelecer tais negociações. Conclui-se que os 18 ocidentais mantidos em cativeiro no Líbano, alguns por até cinco anos, como é o caso do correspondente da agência "The Associated Press" para o Oriente Médio, Terry Anderson, não estão sozinhos ou abandonados.
Há toda uma movimentação diplomática sigilosa para lograr que eles obtenham liberdade, já que seu encarceramento não tem qualquer propósito. Tratam-se de pessoas alheias à política, colhidas nas malhas de uma guerra civil absurda, que vai completar 15 anos de duração no próximo dia 24 e que estraçalhou um dos países mais organizados e estáveis antes da sua eclosão. O mundo do pós-guerra fria não admite mais atitudes tresloucadas, em nome de ideologias utópicas francamente fracassadas. Hoje existe uma interdependência entre nações, sem se levar em conta a quais blocos elas se alinhavam anteriormente. O isolacionismo, em tais circunstâncias, é sinônimo de suicídio.
O coronel Khadafy, a despeito de tudo o que se disse dele nos últimos anos, não há como negar, é um homem arguto. Sabe o terreno em que pisa e já percebeu toda a situação. Não foi por acaso que promoveu uma reaproximação com o Egito, de Hosni Mubarak, país ao qual por pouco não declarou guerra no princípio da década passada. No mês passado reconciliou-se com a França, pondo fim a uma controvérsia iniciada quando do confronto líbio no Chade, de desastrosos resultados para Tripoli.
O líder percebeu que a política externa do presidente norte-americano George Bush, embora menos barulhenta do que a do seu antecessor na Casa Branca, Ronald Reagan, é mais consistente. E as circunstâncias internacionais o beneficiam, já que não precisa mais ficar trocando farpas com a União Soviética. O apelo de Khadafy, vindo de quem veio, é sumamente louvável e merece ser não somente destacado, mas sobretudo imitado. Afinal, os reféns são seres humanos absurdamente tolhidos em sua liberdade e pagando por algo que em absoluto não fizeram. Todo o esforço que se fizer para o seu regresso ao convívio de seus familiares será um ato de justiça e, sobretudo, humanitário.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 5 de abril de 1990)
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