Pedro J. Bondaczuk
Marte (o planeta, e não a divindade romana) desperta, há séculos (diria, há milênios) a fantasia das pessoas. Por isso, é tema de uma infinidade de livros, quer de ficção, quer de não ficção, quer de obras que mesmo com características ficcionais seus autores garantem ter fundamentação científica etc. A maioria, óbvio, não tem. O planeta, dada sua relativa proximidade da Terra, é visto, por muitos, que não se dão conta de suas condições impróprias à vida como a conhecemos, como alternativa para abrigar o homem em caso de destruição do nosso lar cósmico. Tolice, claro, fruto de desconhecimento científico aliado à democrática e onipresente fantasia.
Quem encara Marte como passivo de conquista e colonização pelo homem argumenta com a exposição de determinados dados que, posto que verdadeiros, são considerados fora do devido contexto. Cita, por exemplo, a existência de atmosfera, posto que rarefeita e sem a presença da mistura de gases que nos é vital, notadamente de oxigênio e nitrogênio, no planeta vermelho. Além do que, não foi detectada, ali, a presença da substância rigorosamente indispensável à sobrevivência humana e de outras formas superiores de vida abundantes na Terra: a água.
Dado seu tamanho ser bem próximo ao do nosso planeta, a gravidade marciana é pouca coisa menor do que a terrestre. Isso, portanto, não seria obstáculo à presença humana em sua superfície. Mas... Há outros tantos, e tantos e tantos fatores que inviabilizam a sobrevivência do homem lá. E, provavelmente, de toda e qualquer outra forma de vida (pelo menos das que são conhecidas). Por exemplo, Marte não conta com esse escudo magnífico (diria miraculoso) que o nosso planetazinho azul tem e que o protege dos letais raios cósmicos e de outras tantas partículas mortíferas, procedentes do Sol, que é o nosso campo magnético.
A despeito de tudo isso, há quem garanta que o nosso vizinho do Sistema Solar já teve vida. Outros tantos, apegados exclusivamente a fantasias, juram por todas as juras que o planeta ainda a tem. E que nem se trata da primitivíssima, a unicelular, mas “inteligente”. Convenhamos, qualquer ameba é capaz de ter mais inteligência do que tais indivíduos.
Ufologistas garantem (e se tornam agressivos quando alguém ousa contestá-los) que os tais “discos voadores”, sobre os quais, volta e meia, a imprensa faz tanto estardalhaço, são, de fato, naves espaciais procedentes de outro planeta. E juram que procedem de Marte. Vão mais longe. Garantem que tanto as autoridades, quanto os cientistas, sabem disso e que só não admitem e não divulgam essas “informações” para não causar pânico mundo afora. Fantasias? Lendas? Imaginação? Delírio? Provavelmente sim. Aliás, estou certo que sim. Só me admira o fato desse tipo de coisa ser levado a sério em muitos círculos em pleno século XXI.
Hoje a ciência (notadamente a astronomia) conta com recursos fantásticos para varejar outros mundos, tão distantes, que vários nem existem mais há milhões, quiçá bilhões de anos, embora sua luz (e recorde-se que esta viaja no vácuo à velocidade de 300 mil quilômetros por segundo) esteja chegando à Terra apenas agora, nesta nossa geração. O telescópio orbital Hubble, agora funcionando da forma como foi concebido, depois dos astronautas da NASA terem colocado “óculos” nele, para corrigir defeito de fabricação em sua “visão” (estava, literalmente, “míope”), numa espetacular operação realizada em dezembro de 1993, praticamente desvenda à humanidade partes cada vez mais amplas e distantes do universo. E olhem que esse magnífico artefato do engenho humano já está ultrapassado, prestes a ser “aposentado”. Há telescópios orbitais muito mais potentes e modernos que o Hubble.
Em fevereiro de 1995, por exemplo, esse “super-olho” humano fotografou uma estrela em formação situada a 1.000 anos-luz da região central da galáxia NGC 253, que, por sua vez, está a aproximadamente oito milhões de anos-luz da Terra, na constelação do Escultor. E essa sequer é a maior façanha do Hubble. Esquadrinhar e fotografar Marte, com este equipamento, não passa, portanto, de “café pequeno” como se costuma dizer das tarefas de extrema facilidade.
A fantasia humana em relação ao planeta vermelho, porém, tende a ficar ainda mais aguçada depois da revelação de uma hipótese (e enfatizo que não passa apenas disso) que Marte pode ter tido vida – se inteligente ou não, fica por conta da imaginação de cada um – num passado remoto, provavelmente de mais de um bilhão de anos. Foi pelo menos o que deduziram cientistas do Centro Espacial Johnson, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. E como chegaram a essa “possibilidade”? Deduziram isso após analisar um meteorito, pedaço de solo marciano, encontrado na Antártida.
Esse fragmento apresenta, conforme análises feitas na rocha, além de vestígios de água, de dióxido de carbono, de nitrogênio e de amônia, a presença de moléculas orgânicas. Surge, de imediato, a pergunta: se Marte teve vida (e essa é uma hipótese remotíssima baseada apenas em fragílima evidência, que provavelmente nem se sustente), o que aconteceu para que fosse extinta? Qual cataclismo fez com que esse fragmento de solo marciano viesse parar na Terra?
Um outro meteorito, de cerca de 20 quilos, que caiu na Nigéria em 1962, também seria um pedaço de Marte. Teria resultado de gigantesca colisão entre o planeta e um corpo celeste não identificado, ocorrida há milhões de anos. A conclusão foi publicada em abril de 1995 pela revista científica “Science”. Kurt Marti, químico da Universidade da Califórnia e responsável pelo estudo, garante que o meteorito caído na Nigéria, batizado de “Zagami” – nome do lugar em que caiu – tem as mesmas características químicas que foram detectadas na atmosfera marciana pela sonda espacial norte-americana Viking, em 1976.
O corpo celeste faria parte dos restos, lançados ao espaço durante uma colisão entre Marte e um cometa, ou um asteróide de grande porte. Teria viajado pelo espaço por três milhões de anos antes de cair, caprichosamente, justo na Terra. Fantasia? Imaginação? Até pode ser. Ouso dize4r que é. Mas... Voltarei, certamente, a este fascinante assunto.
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