Pedro J. Bondaczuk
Os países, já afirmamos diversas vezes, em outras oportunidades, seguem um ciclo como o das pessoas que os constituem. Ou seja, nascem, crescem, se desenvolvem e, depois de um certo tempo, em razão de determinadas circunstâncias, também morrem. Ontem, a África viu começar a nascer uma nova nação.
Trata-se da Namíbia, a última colônia existente nesse sofrido continente (que por mais de um século foi submetido à servidão pelos europeus) – depois do malfadado Congresso de Berlim, de 1886 – que a pretexto de levarem para lá o que chamavam de “civilização”, na verdade sugaram a sua seiva vital. Extraíram quanta riqueza puderam, para engrandecer o Velho Mundo. E que, assim que sentiram não precisar mais lançar mão desse expediente, abandonaram esses povos à própria desdita.
Dezenas de milhares de namíbios conheceram, pela primeira vez, a doce sensação de liberdade, fazendo extensas filas junto aos postos eleitorais para escolher 72 representantes que ficarão inscritos na história. A esses cidadãos caberá a árdua tarefa de elaborar o documento constitutivo da própria nacionalidade, as normas básicas que vão nortear os rumos dessa sociedade doravante: a sua Constituição.
O que se espera, neste momento de tamanha importância para 1,3 milhão de pessoas, é que, a exemplo de qualquer recém-nascido, haja um apoio que garanta a sua caminhada segura rumo ao desenvolvimento. Que a Namíbia não tenha o destino amargo de tantos outros países criados recentemente – como Bangladesh, por exemplo, constituído em 1971 e que hoje, com seus 106 milhões de habitantes, é uma das comunidades internacionais mais carentes do mundo – e nem de outros mais antigos, como foi o Tibete, absorvidos pela prepotência de vizinhos mais fortes.
Foi uma árdua luta, de 72 anos, até que chegasse esse momento. A independência, no entanto, será declarada formalmente a partir de 1 de abril de 1990, quando a nova Constituição estiver promulgada. Ou seja, nessa oportunidade, vai ser lavrada apenas a “certidão de nascimento” da nova comunidade nacional.
Seu surgimento de fato está ocorrendo nestes cinco históricos dias, em que os habitantes locais estão tomando contato com algo que deveria se tornar até um “vício” doravante. Ou seja, o democrático e imprescindível ato de votar.
O que se pode desejar aos namíbios é todo o sucesso do mundo na empreitada que eles ora iniciam rumo ao desenvolvimento. Que dentro de alguns anos, possamos olhar para suas estatísticas econômicas e sociais e para seu retrospecto político e verificar que se trata de um país viável. E, mais do que isso, que é uma sociedade harmoniosa, justa e portanto feliz.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 8 de novembro de 1989).
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