Monday, July 09, 2012

Briga pela liderança

Pedro J. Bondaczuk

A Rede Record, em determinado período da década de 60, foi absoluta em audiência em todo o País. Em 1967, por exemplo, numa relação dos dez programas mais assistidos, sete eram da emissora. Suas linhas de shows e de produções humorísticas (especialmente com a “Jovem Guarda”, no primeiro caso e com a “Família Trapo”, no segundo) eram imbatíveis. Era o período do apogeu desse canal, hoje o mais antigo do ramo no Brasil, já que, em setembro próximo, irá completar 37 anos de existência.

Posteriormente, vieram os incêndios. E com eles, as dificuldades financeiras, conjugadas com o surgimento da Rede Globo (usando, em São Paulo, a concessão da ex-TV Paulista, da Organização Vitor Costa) e os aparecimentos da Bandeirantes, Gazeta e Cultura. Repentinamente, o tradicional canal 7 despencou de uma cômoda liderança para um amargo quarto lugar nas pesquisas do Ibope. E aí se conservou.

A nova concorrência que se estabeleceu ceifou os mais fracos. Primeiro, foi a Excelsior, que demonstrou não ter infraestrutura para suportar as agruras dos novos tempos, e que estourou fragorosamente. No início desta década, já sem o seu grande comandante, Assis Chateuabriand, seria a vez dos Diários Associados afundarem, fazendo com que a televisão pioneira da América Latina tivesse um fim melancólico. Mas a Record, apesar de perder quase todos os excelentes profissionais que ela própria formou, resistiu bravamente aos temporais daqueles tempos duros. Há seis anos, a emissora começou a se transformar em rede, implantando retransmissoras em diversas cidades interioranas, culminando com o recente aparecimento da TV Princesa S’Oeste, na segunda metrópole do Estado de São Paulo, a nossa Campinas.

Hoje, A Record sente-se em condições de voltar à disputa dos primeiros lugares na audiência, reformulando sua já excelente programação e contratando profissionais de renome e de experiência em várias áreas; Na capital, a rede lança, nesta segunda-feira, um novo jornal, no horário das 18h30 às 19 horas, com uma equipe realmente de respeito.

Em Campinas, a TV Princesa não fica atrás, e no mesmo dia, inaugura um programa de jornalismo diário, na faixa das 13 horas, que já nasce com gana de vencer. Vem com tudo, disposto a lutar não mais por meras migalhas, mas pelo primeiro lugar de audiência em termos regionais. É o que se pode chamar de um renascimento das cinzas.

Mas a direção da Record, quando fala em futuro, é bastante cautelosa. Não se expressa em termos de competidora da Rede Globo. Afirma que o seu objetivo é consolidar, ao menos, a cômoda terceira colocação em audiência, em âmbito nacional, embora ela já seja a segunda na Grande São Paulo.

O novo jornal da emissora será produzido e apresentado por uma equipe a salvo de qualquer reparo. Além de pessoal próprio, contará, nessa empreitada com a participação da produtora independente “Feeling”, do experiente e talentoso jornalista Dante Mateucci, de uma folha de serviços impressionante mostrada na Rede Globo. A supervisão geral ficará por conta do ex-chefe de redação do “Globo Repórter” (o que por si só já o credencia), Ricardo Carvalho. Contará, ainda, com Paulo Markun (recém saído da Abril Vídeo), como editor-chefe; com Silvia Popovic (oriunda da mesma empresa) nas reportagens especiais; com Marília Stabille, na área de proteção ao consumidor/ Fausto Macedo, com a cobertura policial; Maria Helena do Amaral, no setor de comportamento; Fausto Silva (o vitorioso e criativo apresentador de “Perdidos na Noite”) com comentários bem-humorados sobre o noticiário a ser veiculado; Mauro Matos (ex-Globo), na chefia de reportagens e Pola Galé (outro da antiga equipe global) que será o editor.

Muitos nomes mais ainda poderão aparecer. Alguns, segundo apuramos, podem constituir-se em autênticas bombas. Como é o caso do excelente repórter da Rede Globo, Carlos Nascimento, que embora o pessoal da Record tente desconversar (talvez para não atrapalhar as negociações), está sendo sondado e pode vir a integrar essa equipe, já por si só uma das melhores de jornalismo existentes em qualquer canal.

Quem, como nós, acompanha com atenção a programação do canal 7, certamente já percebeu, desde o ano passado, incrível evolução de qualidade. Nós destacamos, neste mesmo espaço, em várias oportunidades, essa metamorfose da emissora do Aeroporto, hoje, sem dúvida, a nova namoradinha do interior paulista. Começou com a consolidação da ágil equipe de esportes, que deu um banho nas demais na cobertura dos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Prosseguiu com o lançamento do “Programa Goulart de Andrade”, complementado com o surgimento desse incrível comunicador, Fausto Silva, e o seu “Perdidos na Noite”. E certamente vai atingir o auge na próxima semana com o lançamento de seu novo jornal. E muita coisa boa ainda está por vir, inclusive na TV Princesa, que transmite a programação da Record. Como o lançamento, em âmbito de Campinas, de um programa de debates políticos, semanal, na faixa das 23 horas. Mas este já é um outro assunto, para abordarmos numa nova oportunidade. O que vale ressaltar aqui é que a decana das televisões brasileiras resolveu brigar outra vez pelos primeiros lugares de audiência. E quando isso acontece, o público pode esperar sempre grandes atrações.

(Comentário publicado na coluna “Vídeo”, editoria de Arte e Variedades do Correio Popular, em 3 de maio de 1985).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: