Pedro J. Bondaczuk
O mistério e a lenda em torno de Marte aumentaram, e muito – e eles nunca foram pequenos, destaque-se – em 1993. Na oportunidade, a nave norte-americana Mars Observer, que havia custado uma fortuna aos cofres do governo dos Estados Unidos, subitamente silenciou, tão logo chegou ao planeta vermelho. O que aconteceu para que isso se verificasse? Ninguém jamais esclareceu. Provavelmente, os cientistas e técnicos da NASA nem saibam, até hoje, qual foi o defeito apresentado pela sonda, o que o causou e onde ela foi parar.
Afinal, durante seus seis longos meses de viagem, tudo funcionou perfeitamente, sem o menor desvio do planejado, com a emissão normal e regular de sinais para a Terra, tudo rigorosamente dentro do previsto. Bastou, porém, que entrasse na órbita marciana para que parasse de funcionar. O que aconteceu com a nave? Continua orbitando o planeta? Foi atraída para o solo onde se espatifou (o que me parece mais provável)? O que provocou seu silêncio? O fato é que esse fracasso assanhou a imaginação dos que, mesmo contra todas as provas e evidências, teimam em afirmar que Marte é habitado. E mais, que seus habitantes são seres inteligentes e num estágio de civilização mais avançado do que o nosso. Êta gente teimosa!
Antes dessa ocorrência com a Mars Observer, tinha havido o precedente de fracasso envolvendo as duas sondas “Fobos”, lançadas pela ex-União Soviética, com destino ao satélite marciano com esse nome. Ambas, ao completarem o trajeto, também silenciaram subitamente. E, igualmente, isso ocorreu por causas desconhecidas, o que só aumentou as expectativas em relação à missão “Pathfinder”, levada a efeito em 1997. E ela foi muito bem sucedida, calando as especulações de eventual intervenção de supostos marcianos (e ainda por cima inteligentes) no fracasso das três tentativas anteriores: uma para explorar o planeta e duas para estudar um dos seus satélites (o outro tem o nome de Deimos).
O mapeamento mais meticuloso de Marte foi feito, todavia, em 1971, pela sonda norte-americana Mariner 9. Este foi realizado com o máximo rigor e riqueza de detalhes através de milhares de fotos. A maioria dessas imagens foi tomada de uma distância de menos de 1.000 metros do solo. Cerca de 1% da superfície foi fotografada de uma altura ínfima, em torno de 100 metros. E nenhuma, mas nenhuma mesmo dessas imagens mostra o mínimo vestígio da existência de cidades, plantações ou qualquer espécie de vegetação. É a prova mais cabal e rigorosa de que Marte é desértico, inóspito, desolado e vazio.
As afirmações sobre suposta presença de seres vivos (e inteligentes) no planeta vermelho começaram depois que o italiano Giovanni Schiaparelli realizou, em princípios do século XIX, um levantamento cartográfico dele, com a utilização de um telescópio refrator. Em seus mapas, o astrônomo destacou diversas estruturas lineares, que denominou de canais. Essa constatação gerou intensas polêmicas nos meios científicos. Para a maioria, o que chamou tanto a atenção de Schiaparelli não passava de uma série de estruturas naturais. Alguns, porém, entre os quais, claro, o astrônomo italiano, insistiam que os tais canais eram obras artificiais, construídas por “marcianos”.
As fotos da Mariner 9, todavia, esclareceram de vez a dúvida (se é que havia alguma por parte de cientistas racionais que não se deixam contaminar e muito menos empolgar por fantasias). O mapeamento de 1971 concentrou-se, em especial, sobre um local inusitadamente mais iluminado do que os demais, iluminação esta que Schiaparelli defendia que fosse artificial. Não era. Era, isso sim, um vulcão (o do Monte Olimpo), disparadamente o mais alto e maior de todo o Sistema Solar. Para que o leitor tenha uma idéia do seu gigantismo, basta informar que essa mega-elevação tem a altura de 24 quilômetros (quase três vezes a do Pico do Everest). E sua cratera tem dimensões proporcionais. Ou seja, tem 500 quilômetros de diâmetro, quase o equivalente à distância entre São Paulo e Rio de Janeiro.
Nessa mesma área, a Mariner 9 fotografou outras três estruturas gigantescas, como as do Monte Olimpo. São, também, três vulcões, com mais de 20 quilômetros de altura cada um. Nas suas proximidades, registrou as imagens de um cannyon imenso e inigualável, com mais de cinco mil quilômetros de extensão e dois quilômetros de profundidade. Documentou, também, a existência de vales, que parecem leitos de rios secos, que seriam, provavelmente, os tais canais descobertos por Schiaparelli e que causaram tantas controvérsias e especulações (além de febris fantasias).
Extinta essa polêmica, outra foi levantada e persiste até hoje. É a da existência ou não de água em Marte. Mas... se houve, de fato, esse precioso líquido no planeta vermelho, o que foi feito dele? Por que, por exemplo, a Mariner 9 não localizou uma só fonte, um único rio ou uma geleira qualquer? Mistério. Este é o enigma que os cientistas tentam esclarecer antes de se projetar, a sério, o envio de missão tripulada a Marte.
Para alguns, não há mistério sobre o destino das águas do planeta. Elas não teriam desaparecido em decorrência de algum dos tantos cataclismos cósmicos que atingiram nosso vizinho. Estariam onde sempre estiveram. Ou seja, sob sua superfície. Esta, pelo menos, é a conclusão do pesquisador norte-americano Thomas Donahue, da Universidade de Michigan, que estudou os gases presentes na atmosfera marciana. Uma de suas descobertas foi a de que o planeta vermelho teve muita umidade no ar. E contava com ciclo completo da água, do estado líquido ao gasoso.
O cientista, que publicou estudos a respeito na revista “Nature”, afirma que suas observações de meteoritos procedentes de Marte, e comparações com a atmosfera da Terra, lhe permitem fazer, com relativa certeza, outra afirmação: a de que pode existir ainda água em abundância no planeta e que seus reservatórios, portanto, não se esgotaram por completo.
Donahue baseia sua segurança na comparação do índice de deutério (isótopo do hidrogênio) com esse próprio elemento na atmosfera marciana e em suas rochas. Concluiu que Marte, provavelmente, conta com vastos lençóis subterrâneos. Isso sem contar o gelo que recobre os pólos Norte e Sul, e que pode, no futuro, derreter.
Se confirmado tudo isso... quem sabe esse planeta árido e inóspito, gelado e de cor avermelhada, com iluminação bem inferior à da Terra, possa, um dia, ser de fato povoado. Mas não por homenzinhos verdes e de aspecto estranho, mas por humanos. Seria este o futuro lar do homem no Sistema Solar, quando nosso planetazinho azul não conseguir mais prover sustento à humanidade? Será? Honestamente, não creio!
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