Pedro J. Bondaczuk
As elei8ções mexicanas para a Presidência da República, desde 1934, nunca tiveram nenhuma emoção. Mesmo antes dos eleitores comparecerem às urnas, a imprensa, os políticos e a população sempre souberam quem era o vencedor. E jamais ocorreu uma surpresa.
Os candidatos indicados pelo poderoso e ainda invicto Partido Revolucionário Institucional, o legendário PRI, ficavam curiosos apenas quanto à diferença de votos que obteriam em relação aos adversários, que competiam somente como se estivessem prestando um serviço público. Ou seja, para que no Exterior não se dissesse que o México não é uma democracia. De uns tempos para cá, no entanto, as coisas começaram a mudar.
O monolítico partido de outrora não se renovou e muitos dos seus integrantes jovens resolveram dinamizar o processo político mexicano. Foi o caso de Cuauthemoc Cárdenas, pelo qual os mexicanos nutrem um carinho todo especial, por ser o filho do presidente que transformou a face do país, Lázaro Cárdenas.
Esse líder ousou fazer aquilo que todos julgavam impossível: colocar a Revolução de 1910 na prática. Foi ele que promoveu a reforma agrária (que hoje já merecia ser revista e ampliada caso houvesse alguém com coragem e patriotismo para executar a tarefa). Além disso, Lázaro Cárdenas nacionalizou os produtos do subsolo mexicano, permitindo que o país fosse, na atualidade, não apenas auto-suficiente em petróleo, mas um grande exportador da matéria-prima.
Hoje o seu filho, Cuauthemoc, que tem o nome de um célebre personagem asteca, quer fazer história no México: derrotar o invencível PRI. Todos sabem que não vai conseguir. Um político mexicano disse, em 1986, que as eleições em seu país são mera formalidade. Constituem-se num “jogo de cartas marcadas”, que todos sabem, de antemão, quem será o vencedor, mas que ninguém se importa.
Denúncias de fraude sempre se sucederam, antes, durante e depois das eleições. E elas devem, mesmo, ocorrer em profusão, apesar de o fato jamais ter sido provado por ninguém. Afinal, não há eternos invencíveis.
Talvez esse processo até fantasioso, essa farsa eleitoral tenha sido a razão do poeta Octávio Paz ter manifestado tamanho desencanto, no seu livro “Labirinto da Solidão”, ao afirmar: “A mentira instalou-se em nossos povos quase constitucionalmente. O dano foi incalculável e alcança zonas muito profundas de nosso ser. Movemo-nos dentro da mentira com muita naturalidade...Daí que a luta contra a mentira oficial e constitucional seja o primeiro passo de toda tentativa séria de reforma”.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 6 de julho de 1988).
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