Monday, May 07, 2012

Única competição pela audiência

Pedro J. Bondaczuk

A disputa pela audiência na televisão brasileira, ao contrário do que alguns ainda supõem, não é tão equilibrada assim. A Rede Globo detém uma cômodas liderança, em quase todos os dias, horários e programas, deixando pouco espaço para as concorrentes. Os motivos são vários, destacando-se, entre eles, o fato da emissora atingir a mais localidades no território nacional.



Mas há um setor em que seu predomínio não é tão nítido e em que, quem sabe, ela sequer seja líder. Trata-se do esportivo, no qual a Bandeirantes, a Manchete e a Record despontam como grandes forças e a TVS corre por fora, mas com idênticas chances.



Isso não se deve, ao nosso ver, a nenhuma eventual má qualidade dos profissionais da Globo. A competência deles é indiscutível, pçor tudo o que já apresentaram. Mas enquanto essa emissora parece ter parado no tempo, nesse tipo de cobertura, perdendo, inclusive, alguns nomes chave para outros canais, estes perceberam a brecha existente. E, desde o ano passado, têm investido bastante, e bem, nas transmissões esportivas, obtendo o retorno esperado.



Uma das provas do prestígio dos apresentadores dessa área das redes que concorrem com a Vênus Platinada nós tivemos neste domingo, quando da atribuição do prestigioso “Troféu Imprensa”. Disputaram essa honraria justamente os narradores comentados nas ruas, nos locais de trabalho e nas filas de ônibus pelo povo como sendo os melhores: Luciano do Valle, Sílvio Luiz e Osmar de Oliveira. Ou seja, Rede Bandeirantes, Record e TVS.



Quanto ao ganhador do prêmio, tivemos a oportunidade, no ano passado, de fazer algumas considerações sobre seu desempenho. Aludimos ao seu excelente “Show de Esportes” e mencionamos o número de telefonemas que o programa recebe a cada domingo. Pode haver alguma pesquisa de opinião melhor do que essa? Pro0vavelmente, não.



Por isso, a escolha de Luciano do Valle, para ganhar o Troféu Imprensa de 1985 não surpreendeu o crítico. Apenas veio demonstrar que essa premiação é feita, realmente, com muito critério, e que os escolhidos, para cada setor, são realmente os melhores, em suas respectivas especialidades.



Lembramos que nessa crítica de então traçamos considerações em torno da atuação profissional de Sílvio Luiz e em várias ocasiões ressaltamos que esse narrador conquistou o seu público por causa de uma particularidade toda sua: ele fala a linguagem do povo, do esportista, do torcedor das arquibancadas. E foi justamente com ele que Luciano do Valle concorreu ao Troféu Imprensa.



É mais uma prova de que o júri que atribui esse prêmio, além de estritamente imparcial, tem muita sensibilidade para captar aquilo que o telespectador realmente aprecia. O fato da votação ter sido de seis a cinco em favor do narrador da Rede Bandeirantes, apenas vem valorizar sua vitória, já que ele competiu com um adversário realmente capaz.



Mas se a “briga” pela audiência, nas transmissões esportivas, já estava boa, agora deverá ficar ainda melhor. E não nos referimos apenas à Copa do Mundo, evento que garante áqueles profissionais que já têm público cativo que se destaquem e até conquistem alguns pontinhos a mais para suas emissoras. Afirmamos, no mencionado comentário, que a Rede Manchete estava preparando uma grande contratação, mantida no mais absoluto sigilo.



Agora, todos já sabem de quem se trata. É Walter Abrahão, por muitos anos titular da brilhante equipe da extinta TV Tupi, um dos homens mais competentes em seu setor de atividades e com vastíssima experiência profissional. Houve tempos em que ele chegou a ser imbatível, no auge do prestígio da emissora em que trabalhava.



Mas a Rede Globo, esteja certo o leitor, não vai ficar passiva, vendo fugir sua hegemonia, mesmo que seja num único tipo de programa. Comenta-se (embora seja impossível revelar a fonte) que ela está preparando grandes novidades para a época da Copa do Mundo. É verdade que suas mudanças não serão de nomes, mas sim de esquemas.



A emissora deverá colocar em ação todo seu extraordinário aparato técnico, acompanhado de novas idéias, de uma outra dinâmica, de um enfoque muito mais ágil e criativo de transmitir esportes. Quem acompanha a cobertura da Globo, na “Fórmula 1”, sabe do que ela é capaz quando se empenha a fundo em uma transmissão.



Por umas questão de justiça (desta vez em termos de qualidade e não tanto de audiência), não podemos deixar de citar a performance da Rádio e Televisão Cultura, especialmente na área do esporte amador. A prova do seu bom trabalho e da competência e dedicação dos seus profissionais foi dada na semana passada, com a cobertura das finais da Taça Brasil de Basquete Masculino. Ou, até mesmo antes, durante a fase de classificação desse torneio, especialmente há dois sábados, quando seus narradores, repórteres e equipe técnica enfrentaram uma série de dificuldades, causada pelo recente incêndio que vitimou a emissora e, ainda assim, mandaram ao ar o som e a imagem daquele acontecimento esportivo, com a mesma qualidade e a mesma garra de sempre.



Houvesse em outros setores da programação a mesma competição que existe nas transmissões de esporte, não teríamos o marasmo que às vezes se registra no veículo de massas chamado televisão, irritando o telespectador e fazendo com que ele procure outras opções para o seu lazer. Para isso, nem sempre aquilo que se requer é dinheiro. O que é necessário, apenas, é que se ponha a cabeça para pensar. O resto vem sozinho, em decorrência disso.



(Artigo publicado na coluna “Vídeo”, página 22, editoria de Arte & Variedades do Correio Popular, em 14 de março de 1986)

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