Pedro J. Bondaczuk
O afastamento de Mário Jorge Lobo Zagallo do comando técnico da seleção brasileira põe fim a toda uma era, de 40 anos, no futebol do País, em que ele se fez presente: ora como jogador, ora como técnico, ora como "sombra" de outros treinadores, ora como supervisor, ora novamente como o comandante da equipe. O fato é que, ao longo das últimas quatro décadas, de uma forma ou de outra, "O Velho Lobo", como foi carinhosamente apelidado pelos jornalistas, sempre esteve envolvido em controvérsias e na "crista da onda".
Uma coisa nem seus mais ferrenhos adversários podem negar: ele é o maior vencedor do mundo no futebol, já que nenhum outro país conquistou quatro títulos mundiais, a não ser o Brasil. E quis o destino que ele estivesse presente em todas essas conquistas. Como jogador, barrou, por exemplo, Pepe, quando o ponta-esquerda da maior máquina de jogar bola já criada no Planeta, o Santos dos anos 50 e 60, estava no melhor da sua forma.
Ajudando na marcação, ficou conhecido como "formiguinha", por se fazer presente em várias partes do campo, quando na ocasião os atletas que jogavam nessa posição limitavam-se apenas a atacar. Claro que recebeu críticas, principalmente a de tornar a seleção defensiva. Sem saber, estava inaugurando uma nova tática de jogo, com décadas de antecedência, com três homens no meio de campo (hoje são quatro e em alguns casos até cinco).
Polêmico, turrão, apaixonado, briguento, teimoso, foram alguns dos termos que a imprensa usou durante sua passagem pela seleção. E não sem razão. Todos se lembram do "aviãozinho" que Zagallo fez, no jogo contra a África do Sul, depois que o Brasil virou o marcador, após sair perdendo, em resposta a igual gesto anterior do técnico sul-africano.
Apesar de sua propalada teimosia, em 1970 cedeu à voz do povo e escalou craques, teoricamente da mesma função, como Pelé, Tostão, Gerson e Rivelino, no mesmo time. E se deu bem. A mesma sorte não teve em 1974, quando se recusou a assistir jogos da Holanda e teve o dissabor de ver o Brasil eliminado da Copa da Alemanha pela "laranja mecânica" de Riinus Mitchel.
Uma das acusações feitas contra Zagallo, no Mundial da França, foi a de não ter esquema de jogo e de estar desatualizado em relação ao futebol que se pratica atualmente nos melhores centros esportivos do mundo. Todavia, mesmo com um grupo individualista, com apenas 17 dias efetivos de treino, com inúmeras deficiências em especial no meio de campo e defesa, conseguiu a façanha de levar, aos trancos e barrancos, a seleção à final. Aí, veio a não bem esclarecida convulsão de Ronaldinho. De qualquer forma, acrescentou outra "estrela", desta vez de prata, ao seu currículo.
Por mais que se critique Zagallo, não há dúvida que ele merece todas as homenagens possíveis da torcida brasileira. Até mesmo uma estátua na entrada da CBF. Impulsivo, reagiu sempre às críticas com algumas tiradas, a mais célebre das quais foi o "vocês vão ter que me engolir". Embora o penta não viesse, certamente o "engolimos" com o maior prazer. Afinal, trata-se de um ganhador nato, que cumpriu o seu destino.
(Artigo publicado em 28 de julho de 1998, no Caderno Esportes do Correio Popular).
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