Tuesday, May 08, 2012

Espírito e matéria

Pedro J. Bondaczuk

Às pessoas sensíveis. Vocês são esperança viva no mundo”. Essas palavras, a título de agradecimento da parte do autor aos que, de alguma forma, contribuíram para a sua concretização, praticamente definem os destinatários do excelente (e instigante) livro de Atos Warboldenhari (pseudônimo do escritor, compositor e economista e administrador de empresa, Leopoldo Mader), “Espiritual no mundo da matéria”, lançamento da Editora Komedi.



“Sensibilidade” é o principal mote dessa obra poética, de grande profundidade filosófica, mas escrita em linguagem simples, direta e acessível, como devem ser, de fato, as mensagens de maior impacto dos comunicadores competentes e bem sucedidos. São textos tanto para reflexão, quanto para o simples deleite dos que têm na emoção sua mais marcante característica.



O principal objetivo do livro – que li, reli e apreciei – está bem definido na contracapa, onde se diz: “Num mundo tão dividido, mal se disfarça um diálogo surdo e débil entre o mundo material e os valores espirituais. O que há de errado? Onde e quando foi rompida a relação entre ambos os mundos? De que maneira o Espiritual se harmonizará com o Mundo da Matéria, criando um equilíbrio? Como conciliar a crença em um Deus do Bem com as tensões da vida real? Essas são algumas das questões que o autor se colocou, iniciando sua busca a partir do interior de si mesmo, principalmente do que o incomodava”.



Antes de tudo, faz-se necessário esclarecer que Atos Warboldenhari trata o “espírito” em seu significado lato: a parte imaterial do ser humano, a inteligência, o pensamento, a idéia. Ou seja, a “alma” do homem. O seu conjunto de faculdades psíquicas, intelectuais e morais. Sua essência e condição primacial.



O que autor procura, de forma inteligente e até provocativa, é levar o leitor a refletir, em última análise, sobre o verdadeiro sentido da vida, que certamente não é o da busca incessante e inconsciente por bens materiais, objetivo que move a esmagadora maioria dos mais de sete bilhões de indivíduos que habitam o Planeta.



Aliás, a leitura de “Espiritual no mundo da matéria” me traz à lembrança outro e provocativo texto, de autoria do escritor argentino Jorge Luís Borges, que citei diversas vezes, em outros contextos, que diz: “Não há geração sem quatro homens retos, que secretamente sustentam o universo e o justificam diante do Senhor. Um desses varões teria sido o juiz mais idôneo. Mas, onde encontrá-los, se andam perdidos e anônimos pelo mundo, e não se reconhecem quando se vêem, e nem eles mesmos sabem do alto ministério que cumprem?”



É esse “reconhecimento”, essa identificação, essa integração dos “varões justos” desta geração, que o autor busca, da primeira à derradeira página do seu livro. Suas sábias recomendações lembram-me, ainda, outra, de idêntica natureza, esta de Carl Sagan, na sua obra “O mundo assombrado pelos demônios”, que data de 1996, em que constata: “Se somos apenas céticos, as novas idéias não conseguem penetrar em nossa mente. Nunca aprendemos nada. Se somos tão abertos a ponto de ser crédulos, não podemos distinguir as idéias promissoras das que pouco valem. Aceitar acriticamente toda noção, idéia e hipótese professada equivale a não conhecer nada. As idéias se contradizem umas às outras; somente pelo exame cético podemos decidir entre elas”.



Ou seja, a recomendação é a de que “pensemos”. É a de que exerçamos, integralmente, sempre, todos os dias, em todas as horas, e em cada circunstância, esta que é a principal característica humana: o raciocínio, o “ato espiritual”, no seu sentido mais grandioso e profundo que torna esse ser minúsculo na “imagem e semelhança de Deus”, neste complexo e misterioso mundo da matéria.



E, caro leitor, não se preocupe com a pequenez, com a efemeridade e com a conseqüente vulnerabilidade sua, nossa e de todo o nosso gênero. Pois, como o autor ressalta, com muita propriedade, no final do poema “Viver”:



“Ser humano é viver necessidades humanas.

Ser vivo é viver necessidades.

Viver é necessitar!”



E não é?!?!

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