Pedro J. Bondaczuk
As características geográficas de Jerusalém provavelmente foi um dos fatores que a tornaram, mais do que mera povoação, símbolo religioso de quase metade da humanidade. Ademais, foi palco, ao longo da história, de acontecimentos importantes, quer do judaísmo, quer do cristianismo e islamismo. A cidade situa-se a 60 quilômetros a leste do Mar Mediterrâneo e a uns 25 quilômetros a Oeste do Mar Morto (onde teriam existido as cidades bíblicas de Sodoma e Gomorra, destruídas por “fogo e enxofre que desceu do céu”, possivelmente conseqüência da erupção de algum vulcão).
Jerusalém localiza-se na cordilheira central da Palestina, a uma altura média de 800 metros do nível do mar, em um planalto suavemente ondulado. Fica, pois, no topo de uma colina e, para ser alcançada, faz-se necessário subir. Essa situação geográfica pode ter contribuído para que fosse (e ainda seja) considerada sagrada para cerca de 3 bilhões de pessoas mundo afora. Explico.
As montanhas, em um passado remoto (mas não tanto assim) eram consideradas “moradas de deuses” por diversos povos e várias crenças. As divindades gregas, por exemplo, habitariam o Monte Olimpo. Moisés, quando teria recebido os Dez Mandamentos, das mãos de Jeová, teve que subir ao Sinai. E também, antes de morrer, teria pedido para ser sepultado em outra montanha, o Monte Horeb.
A localização interiorana de Jerusalém, numa época em que as grandes concentrações urbanas se localizavam na orla marítima, ou às margens de rios, trouxe vantagens e desvantagens. Facilitou, por exemplo, sua defesa de ataques externos. Além do que, contribuiu, em certa medida, para que seus habitantes pudessem se voltar à meditação, à reflexão e a uma vigorosa preocupação espiritual.
Outro fator que contribuiu para que a cidade fosse tão atrativa foi o seu clima. Plantada no anticlinal do Mar Morto, beneficia-se de dois importantes fatores climáticos. De um lado, recebe as brisas suaves e refrescantes do Mediterrâneo, amenizando o calor, rigoroso naquela região do mundo, dando, assim, à cidade temperatura agradável na maior parte do ano. De outro, a baixa umidade do ar do deserto, distante a apenas 25 quilômetros, confere-lhe grande luminosidade, reafirmando a impressão de sua origem e destinação divinas.
Não por acaso, Jerusalém centralizou, nos tempos do Velho Testamento, por um bom par de séculos, vasta rede de locais sagrados, notadamente para o judaísmo. Diversos patriarcas do povo hebreu ergueram, em seus arredores, altares para louvar Jeová. Os habitantes primitivos de Canaã agiram da mesma forma, até serem desalojados pelos descendentes de Abrão.
Essa vocação histórica para o sagrado seria confirmada, tempos depois, pela construção do suntuoso Templo de Salomão, em Jerusalém. E pela ereção de mesquitas islâmicas e de igrejas cristãs, em diversas épocas, na ciranda do tempo, o que a tornou irresistível pólo de atração espiritual para cerca de três bilhões de pessoas ao redor do mundo.
A posse hebréia da cidade foi resultado da sua conquista, sob a liderança do rei Davi, mais ou menos em 1058 AC. Sua ligação com ela, todavia, começou muito tempo antes sequer de Israel existir como nação. Ela é identificada, por exemplo, com Salém, capital de Melquisedec, conforme menciona o livro de Gênesis (capítulo 14, versículos 17 e 18): “Quando Abrão voltava de derrotar a Cordoloaomor, e aos reis aliados, saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma no Vale de Save, chamado também de Vale do Rei. Mas Melquisedec, rei de Salém, oferecendo pão e vinho, porque era sacerdote do Deus Altíssimo, abençoou a Abrão e lhe disse: Bendito seja Abrão da parte do Altíssimo Deus, que criou o céu e a terra”.
A cidade caiu em mãos dos jebuseus por volta de 1400 AC, tendo permanecido sob seu domínio por 442 anos, até 1058 AC. A permanência desse enclave estrangeiro no reino de Israel trazia muitos transtornos. Os israelitas, por exemplo, abominavam os costumes religiosos e morais desse povo cananeu, mas eram forçados a tê-lo como vizinho. No que diz respeito à segurança, eram freqüentes as incursões predatórias jebuséias às povoações de Israel, com mortes, pilhagens e destruição.
Do ponto de vista político, a situação interferia nas comunicações entre o Norte e o Sul do reino, fazendo com que o poder do rei fosse meramente formal e nem um pouco efetivo em diversas áreas do seu território. Os jebuseus, controlando Jerusalém, impediam a unificação de fato entre as duas tribos de Judá e as dez de Israel. Além disso, Davi tinha planos grandiosos para o seu reino. E não escondia a ambição de fazer de Jerusalém sua capital.
Após meticulosa, bem planejada e memorável campanha, o rei conseguiu seu intento. Foi um feito militar de relevância, que trouxe respeito e prestígio aos israelitas. A cidadela de Jerusalém, chamada Sião, seria rebatizada e receberia o nome de “Cidade de Davi”. Por hoje, fico por aqui. Amanhã, trarei mais detalhes históricos a propósito.
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