Pedro J. Bondaczuk
A vitória do Partido Socialista Operário Espanhol, nas eleições gerais antecipadas de anteontem, ocorreu exatamente de acordo com o que havia sido previsto nas pesquisas de opinião. Esperava-se, por exemplo, que o PSOE perdesse oito cadeiras em relação ao pleito anterior, de 1986, e de fato as perdeu.
Mas havia também a certeza de que seu líder, Felipe González, conseguiria um terceiro mandato à frente do governo, se igualando, nesse particular, à sua colega britânica, Margaret Thatcher, o que também se verificou. Portanto, na Espanha, as prévias eleitorais confirmaram cabalmente a sua eficácia. A previsão anterior e os números finais bateram, com uma exatidão impressionante.
Estima-se que nesta oportunidade 800 mil eleitores tenham deixado de votar no PSOE. Isto não seria de se estranhar, quando se sabe que o país está às voltas com o grave problema do desemprego, com taxa de 17%, a mais alta em toda a Europa. Ainda assim, os espanhóis admitem que agora vivem muito melhor do que em 1982, quando González conquistou o seu primeiro mandato nas urnas.
Naquela oportunidade, a decisão do eleitorado, de conferir uma consagradora vitória aos socialistas, despertou temores infundados e boatos sem nenhuma razão de ser. A direita, inconformada com a “lavada” que tomou nas urnas, procurou insinuar que a Espanha viria a ter dificuldades com seus parceiros da Comunidade Econômica Européia (na época ela não havia ingressado na CEE).
Outros rumores davam conta de que o líder do PSOE retiraria o país da Organização do Tratado do Atlântico Norte, Otan, enfraquecendo o flanco defensivo ocidental. Os mais exagerados chegaram a acenar, inclusive, com o risco de uma nova guerra civil. Nada disso, no entanto, aconteceu.
A despeito do país deter tão elevada taxa de desemprego, nunca antes sua economia esteve tão saudável. Seus índices de crescimento têm sido os mais expressivos da Europa e a não ser um foco aqui e outro ali de descontentamento, no geral os espanhóis estão contentes com a sua gestão.
Mas a redução de oito cadeiras na Câmara Baixa deve servir de alerta a González se ele aspirar a um quarto e histórico mandato. Afinal, ele é um político bastante jovem, nos seus 47 anos, e tem muita lenha para queimar. Mas o resultado das urnas nas eleições de anteontem indica que, embora a população aprove, em linhas gerais, suas ações, exige providências, para que a riqueza gerada com a entrada espanhola na CEE seja partilhada com maior justiça. Prudente como sempre se mostrou ser, certamente González não deixará de prestar atenção a este importante detalhe.
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 31 de outubro de 1989).
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