Monday, May 21, 2012

O horário e a audiência na TV

Pedro J. Bondaczuk

Os programas bem produzidos e bem editados na TV nem sempre conseguem bons resultados em termos de audiência. Muitas vezes isso deve-se ao fato deles irem ao ar em horários nem sempre apropriados. Esse é o caso típico, por exemplo, do “Vídeo Show”, uma das melhores coisas apresentadas aos domingos pela Rede Globo e cuja cotação no Ibope não é a que se poderia esperar.

Espremido na programação dominical entre a jornada esportiva matutina e a sequência de filmes da emissora e tendo ainda que competir com o Programa Sílvio Santos, transmitido por dois canais (TVS e Record) e com a excelente equipe de Luciano do Valle, na Bandeirantes, suas chances de chegar aos primeiros lugares são muito remotas, senão apenas hipotéticas. O que, o telespectador que já assistiu esse tipo de apresentação há de convir: é uma pena.

No outro extremo, ou seja, o de uma produção de primeiríssima qualidade e veiculado no horário mais nobre da TV (o das 20 horas) está a novela “Roque Santeiro”, de Dias Gomes. O leitor deve estar lembrado sobre a previsão que nós fizemos aqui, neste mesmo espaço, quando do seu lançamento. Afirmamos na ocasião que em poucos dias ela viria a se tornar na nova mania do brasileiro. E não deu outra. Não somente manteve a tradição de audiência do horário, como foi um pouco mais longe. Bateu o recorde de todos os tempos em termos de interesse público, alcançando 90 pontos no Ibope e com possibilidades de ultrapassar essa marca.

É claro que a maior parte desse mérito cabe a Dias Gomes, que é como aquele lendário Rei Midas, que transformava em ouro tudo o que tocava. Dotado de uma capacidade de observação impressionante sobre o nosso povo, sobre nossos vícios, manias e contradições e contando com refinado senso de humor, qualquer trabalho que apresente está, fatalmente, fadado ao sucesso. Junte-se a isso um elenco escolhido a dedo (e com raríssima felicidade), uma direção muito segura e uma equipe técnica que está até mesmo se superando (o câmera vem conseguindo ângulos nunca antes vistos na TV e raros até nos grandes filmes) e se terá explicação para tamanha aceitação popular. Afinal, o telespectador (ao contrário do que pensa muito programador acomodado), não é burro. Sabe o que é bom e valoriza isso.

Mas será que “Roque Santeiro”, com todos os méritos que tem, alcançaria o mesmo sucesso num outro horário? Digamos, no das 17, ou no das 22 horas? Dificilmente. Pois o que sobrou na novela, para a tornar recordista nacional de audiência, é o que está faltando ao “Vídeo Show”: o momento oportuno para que essa produção interessante e até instrutiva vá para o ar.

O programa é uma verdadeira revista de variedades, envolvendo música, curiosidades, esportes e tantos outros assuntos, tudo apresentado com talento e naturalidade por Paulo Betti e Malu Mader (antes, em seu lugar, atuava Miriam Rios). Durante uma horea, desfilam fatos, imagens e sons, editados com tanta maestria e bom gosto, que a gente até lamenta na hora em que esse autêntico show audiovisual t6ermina. No domingo passado, por exemplo, o telespectador teve a oportunidade de ver um raro encontro entre dois super-astros do cinema e da música popular internacional: Elvis Presley e Frank Sinatra. E cantando, num dueto.

Ficou sabendo que o ídolo do “rock ‘n roll” era, na verdade, louro e que tingia os cabelos para ter o aspecto que o consagrou junto às fãs. Viu como foram realizados os efeitos especiais do filme “Guerra nas Estrelas” e como foi produzido o desenho animado mais premiado de 1984, o do polonês que desenha suas histórias em vidro. Ficou sabendo como surgiu o “jeans”, nos Estados Unidos, mercê da visão comercial de um mascate bávaro, que ao tentar vender lonas para barracas no Oeste norte-americano, descobriu que o tecido resistente com que elas eram confeccionadas era mais apropriado para a feitura de roupas, que suportassem árduas condições de trabalho. E outras coisas mais, de grande interesse e que prendem a atenção, foram mostradas.

Entretanto, quantos deixaram de assistir ao show de Sílvio Santos, para verem esse programa? Quantos se desligaram da última maratona esportiva que a Bandeirantes mandava ao ar naquele exato instante? Certamente pouquíssimos, o que não deixa de ser um desperdício. Fosse essa produção apresentada em um horário mais nobre e de menor concorrência, e seria tema para comentários, subindo, logicamente, na escala de audiência.

Para se fabricar um sucesso, portanto, não basta, apenas, uma boa idéia, um bom texto, uma boa imagem e bons apresentadores. É necessário todo um trabalho de promoção, que infelizmente o “Vídeo Show” não tem. Nem mesmo na própria emissora, que raramente faz chamadas para o programa nos dias que o antecedem. Pelo seu dinamismo, suas imagens inéditas e sua variedade, contudo, ele não fica nada a dever para as grandes atrações da Globo, como por exemplo o “Fantástico”. Não seria caso de se veicular essa produção num dia e horário mais oportunos?

(Comentário publicado na coluna “Vídeo”, página 20, editoria de Arte e Variedades do Correio Popular, em 16 de agosto de 1985).

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